O Barroco na
América Portuguesa: Novos Olhares
Modelos
iconográficos da deposição de Cristo e das Sibilas nas Minas Gerais do século
XVIII: propaganda político-religiosa e persuasão na América Portuguesa
Maria Cláudia
Almeida Orlando Magnani
Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Brasil
mariaclaudiamagnani@gmail.comhttps://orcid.org/0000-0003-0261-7023
As
pinturas da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim em
Diamantina, Minas Gerais, Brasil, trazem um tema intrigante e único na colônia
portuguesa da América: quatro sibilas contornando o quadro da deposição da
cruz. As profetisas estão representada sem meio corpo, em quadros entre colunas
paraníncas figurando cariátides, e sobre cada quadro, há um medalhão seguro por
um querubim trazendo os seus nomes: Délca, Líbica, Frígia eTiburtina.
Setecentistas, as pinturas foram atribuídas a Silvestre de Almeida Lopes,
pintor nascido na colônia e que teria aprendido o ofício com o bracarense José
Soares de Araújo
1
.
1. MIRANDA, Selma
Melo & SANTOS, Antônio Fernando Batista dos.
Artistas Pintores
do Distrito Diamantino: revendo atribuições.
Comunicação
apresentada ao Colóquio de História da ArteLuso-brasileira, Salvador, 1997.Fig.
1. Abóboda da Capela de Nosso Senhor do Bonfim em Diamantina. Fonte: Foto de
Bernardo Magalhães, 2019.
Modelos iconográficos da deposição de Cristo e das Sibilas nas Minas Gerais do século XVIII- M. C. A. O. Magnani
Sobre
o templo não foram identificados quaisquer documentos que nos pudessem informar
sobre qual irmandade abrigava, quem seriam os irmãos, quando foi construído,
quem seriam os responsáveis pelas pinturas, talhas, imaginária. A única menção
ao templo encontrada no século XVIII está na documentação da irmandade de Nossa
Senhora do Rosário dos Homens Pretos, hoje no AEAD – Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese
de Diamantina e citada por Machado Filho:
Os homens crioulos
faziam parte da Irmandade de N. Senhora do Rosário dos Pretos. Dela, porém se
desincorporaram e fizeram, esta Separação indeCorosamente Com palavras menos descentes dizendo ser esta hua irmde. De
Negros“ ...Conseguiram, interinamente, para sua irmandade o altar do
Senhor dos Passos na Capela do Senhor do Bonfim, onde, em 16 de janeiro
de 1780,deram posse aos mesários, depois de estarem estabelecidos emSanto Antônio do Tijuco desde a data de 2 de
settembro de 1772.
2
Por
este documento pode-se apenas inferir que a capela já existia no ano de 1780,
uma vez que recebia então, temporariamente, os “homens crioulos” expulsos da
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e que criaram a confraria
de Nossa Senhora das Mercês. O quadro central com a deposição, contornado por quadratura,
faz parte de uma totalidade na qual se misturam o tema sofisticado
das sibilas, das figuras
paraníncas e a técnica ilusionista da arquitetura fingida
com a pintura quase naïf do pintor
colonial. Em Portugal como na colônia, a estrutura de falsa arquitetura não era
realizada por um quadro escorçado, em perspectiva. O uso da perspectiva
manteve aí uma função de narrativa
historiada em contraposição ao espetáculo próprio da quadratura romana (como
nas pinturas dos tetos feitas por...
2. MACHADO FILHO,
Aires da Mata.
Arraial do Tijuco
Cidade Diamantina
. Belo Horizonte:
LivrariaItatiaia; São Paulo: Edusp, 1980, p. 247
Maria Cláudia
Almeida Orlando Magnani
Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Brasil
mariaclaudiamagnani@gmail.comhttps://orcid.org/0000-0003-0261-702
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