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segunda-feira, 21 de setembro de 2020

DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO DE DIAMANTINA POR CATÃO JARDIM 1894

 

A área do município de Diamantina tem 7,800 quilômetros, inclusive as partes desabitadas, nos plateaux do Arrenegado e Cabral; limita-se com as do município de Curvelo, ao W; com as do Jequitaí e Bocaiúva. Com o de São João Batista a N.E e E; com a do Serro a E; e com a da Conceição a SE. As linhas limítrofes, entre os municípios e circunscrição não se acham ainda discriminadas e por esta razão, não é rigorosa a da periferia da 5ª circunscrição, mas assim é dependendo de acordo o traçado dos limites deste com o Estado do Espírito Santo.

 Contém o município três zonas distintas:

1º Sertaneja, compreendendo os vales do baixo Paraúna, das partes inferiores dos rios Pardos, Grande e Pequeno, e do rio Curimataí; o das Velhas, todos estes terrenos calcários; o do Jequitinhonha; o do rio Manso; do rio Preto  e do Araçuaí; estes últimos em terrenos de quartzito, os dois primeiros e os últimos gneissicos.  A temperatura, nesta zona atinge a máxima média de 32º; e a altitude não se eleva a mais de 800 metros acima do nível do mar.

O capim bengo frutifica, nessa zona, bem como a mangueira; os frutos dos cafeeiros amadurecessem em um só tempo; a cana de açúcar, cultivada em grande escala, é rica de princípios sacarinos, o algodoeiro produz fibras fortes, finas e longas; maravilhosamente, produzem os terrenos, quer calcários, quer não, toda a sorte de cereais e a uva. A porcentagem, do plantio para a colheita, em anos regulares regula: milho, de 1 para 250, notando-se nos terrenos calcários colheitas em anos chuvosos de 1.150; da mamoneira perde-se grande parte dos frutos, tal é a abundância delas.

2ª A alpina ou diamantina, caracterizada pelas campinas, serras de grés, pelos terrenos variáveis, predominando sempre o silicoso, e pela sua abundância de fontanaes das principais bacias, compreende-se os vastos planaltos diamantinos e os vales superiores dos afluentes aos rios Jequitinhonha, Velhas, Doce, e Jequitaí.


         Imagem do Gooble

Nesta zona do município, o clima é ameno, as suas altitudes contam-se de 850 metros a 1816 metros; a máxima temperatura não vai além dos 28º e a mínima desce a 5º, em alguns pontos; é abundantíssima de aguadas, com quedas elevadas sendo o líquido cristalino, arejado e de superior qualidade.

Além da mineração do ouro e diamantes, ocupam-se os habitantes na cultura da vinha, da cevada, do trigo, centeio, mandioca e dos comuns cereais, onde existem faixas de matas. O café, proveniente desta zona, á aromática, saboroso e arredondado, como o café Moka; a maturação dos frutos dos cafeeiros realiza-se por camadas; e deve-se notar que os frutos maduros secam-se nas galhas e raros são os que caem. Este conjunto de circunstância é favorável à pequena lavoura que trata do cultivo da uva e dos cereais, podendo ocupar-se também do remunerativo cafeeiro.

3ª A carrasquenta ou a zona dos chapadões, compreende terrenos em níveis altos de 800 a 1,300 metros de altitudes e de clima temperado. Nesta zona, também dotada com boas aguadas, a cultura é a mesma da procedente: mandioca, café (ainda em pequena escala); milho, feijão, cana de açúcar e batatas.

Em todo o município, trata-se de criação do gado cavalar, suíno e vacum; de lanigero e o cabrum, um ou outro habitante tem pequena criação, visto não se utilizarem da carne de carneiro e nem da de cabra, e nem mesmo aproveitam a lã da ovelha.


                                           Imagem do Google


Na zona sertaneja , é onde mais desenvolvida se acha a criação vacum e cavalar; nele se encontram os utilíssimos barreiros nitrosos, os campos de capim vermelho (assú) e os de dois verdes, como os denominam, porque estes, situados nas veredas dos buritizais, queimados em fevereiro, oferecem excelentes e verdes pastagens no rigor da seca.

 No município, já se acham introduzidas, para cruzamento com a existente, diversas raças de gado vacum. Na Gouveia e Capão Grosso, fazendas da Companhia Norte de Minas, na fazenda dos Cafundós, propriedade do Dr.  Pedro Matta; na fazenda de Santa Bárbara, propriedade do Conselheiro Matta; e na das Melancias, propriedade do coronel João Felício dos Santos, vão prosperando os cruzamentos com Tourinos, Jaguanezes, Burran, Jersey e Zebús.

Para o melhoramento da raça cavalar, possui um legítimo puro sangue a fazenda de Santa Barbara, e um cavalo normando.

Animados como se acham os fazendeiros, exploradas as minas auríferas e diamantinas por companhias estrangeiras ou por associações nacionais, como é de esperar-se; se não estacionarem a viticultura, que tão remunerativa é, as indústrias fabris e outras existentes no município, em não remoto futuro, se tornará ele um dos mais importantes do Estado máximo se contar com boas vias de comunicação e ligação para a exportação de seus variados produtos e artefatos.

Para provar o adiantamento do município de Diamantina, basta citar que conta no seu território as fábricas de tecidos de Santa Bárbara, Gouveia, Perpétua, Biribiri, do Rio Manso, em construção, e do Inhaí, em projeto; muitas rodas para lapidação de diamantes, dois grandes curtumes, vários engenhos para moer cana, com melhoramentos modernos, turbinas e aperfeiçoados alambiques, como nos engenhos das fazendas das Melancias, Cafundós e Rio Preto, de propriedade esta da companhia Nacional Rio Pretana, grande aumento no plantio da videira, contando-se só na cidade de  Diamantina e subúrbios, perto de 60.000 cepas; que a lavoura vai adotando melhoramentos racionais; e que, para a mineração do ouro e diamantes, tem-se empregado maquinismo modernos e utilizado a luz elétrica, para os trabalhos noturnos.

                                               imagem do Google

Apesar da constante emigração da classe operária, conta ainda o município 65.000 habitantes, em seus 19 distritos, dos quais doze são essencialmente agrícolas.

Só na cidade de Diamantina eleva-se 12.500 almas a sua população.

A Diamantina acha-se situada a 18º,14,3 de latitude S, segundo Eschwege , ou 18º 10; conforme Milliet, e 10'  de longitude ocidental, ao meridiano do Rio de Janeiro.

Acha-se colocada a cidade na encosta E do espigão, divisor das Águas do Ajunta-Ajunta e Biribiri; em diversas localidades notam-se as altitudes seguintes: 1200 metros matriz; 1241 metros o Seminário; 1252 metros de Venda Nova, ponto mais alto habitado; 1123 metros Rio Grande e 1109 metros Rancho da Palha, no subúrbio da cidade.

Conta 1500 casas, todas habitadas; possui: Escola Normal, Ginásio, Liceu da União Operária, Seminário Episcopal, o Colégio das Irmãs de Caridade, para pensionista e órfãs, 9 escolas estaduais e 1 municipal.1 escola noturna para adultos e outra para adultas. Inspetoria dos Terrenos diamantinos, coletoria, estadual e federal, sub-administração dos correios, hospital de Caridade, Hospício para alienados, asilo para inválidos, Cadeia e casa para Júri, 10 igrejas e 5 capelas, e é sede do Bispado de Diamantina, do 4º Corpo militar da Polícia da comarca do município e do distrito Telegráfico.

Dentro e nos arrebaltes da cidade, funcionam diversas fábricas de lapidação, cortume, de vinho de uva, de calçados, de joias, de pólvora, flores artificiais, de meias, diversas ourivesarias, alfaiatarias e fábricas de fogos de artifícios.






                                                  Imagens do Google


O seu importante comércio, com todos os municípios do norte de Minas e com a praça do Rio de Janeiro, acha-se representado por várias importantes lojas de fazendas, ferragens, de louça, de gêneros da terra, ditos de importação, secos e molhados; por uma companhia anônima Nacional e por várias associações particulares.

O movimento comercial de Diamantina deve-se elevar a mais de 4.000:000$000, pois cálculo que o comércio de viveres, consumidos pela população urbana, eleva-se, anualmente, á 2.208:250$000, tomando por base a etapa mínima de 500 réis por indivíduo.

A cidade, bem abastecida de excelente água potável, captada no alto do planalto do Guinda, possui, além dessa, vários mananciais e minas, dentro do seu circuito. Os seus edifícios deixam muitos a desejar pela má construção e arquitetura; o sistema de esgoto é o pior possível, ainda o herdado dos nossos antepassados. Desse grande melhoramento ainda não tratou a municipalidade de Diamantina; águas estagnadas nas péssimas calçadas das ruas, tornariam insalubre esta cidade, se não fossem as boas condições climática ...

1894- janeiro

( da Revista Industrial de Minas)

O Município, Diamantina, 10 de julho de 1896, n.77, p. 2-3

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