Regularmente se incumbem oito negros e cada feitor, e como em cada uma das canoas que trabalha um negro, se acha e assento daquele bem no meio do espaço que compreende as cabeçeiras das oito canoas. Os lavradores trabalham em pé, com a cabeça virada para seu vigia e dobrando o corpo, tanto para mexer o cascalho como para lançar fora as pedras inúteis e escolher os diamantes; se conserva em uma figura violenta de sorte que é preciso de espaço a espaço dar-lhe um pouco de descanso, e frequentemente os mudam de umas canoas para outras afim de que eles percam o fino de alguma pedra que tenha ido pondo de parte para a furtarem. É incrível a propensão e destreza que tem ou adquirem todos os negros para furtarem os diamantes. São tão espertos e acostumados com este tipo de delito que quando chegam alguns moleques de novo no serviço, o primeiro a fazer é ensiná-los todos os artíficios e jinga cujo fim exercitam com feijões ou grãos de milho ou de andú, os quais atiram de longe para a boca e deste modo se habituam a recebê-los nela para os engolirem. Também os metem na boca havendo-os os primeiros palmado ou escondido entre os dedos, e logo que disto se pode ter alguma desconfiança se lhes sacam do ventre a força de clisteres de pimenta malagueta. Os negros se podem amassar dos diamantes com barro ou piçarreta lançam-nos fora , marcando a paragem onde caíram para depois os irem buscar e os extraírem as pedras. Quando não podem furtar o diamante pela vigilância do feitor, o encostam á cabeceira da canoa e o cobrem de esmeril para tentarem de noite vir tirá-lo. Como todos os negros andam nus durante o serviço das lavagens, aonde só se lhes permite estarem cobertos com a sua tanga, que é um pedaço de baeta envolto á rota da cintura, nesta baeta cozem eles um bocadinho de outra, que visto parece um remendo, mas lhes serve de bolso para meterem o diamante quando acham qualquer ocasião para furtá-lo. Também para isso apegam á mesma tanga um bocadito de cera da terra que é mole, na qual enterram o diamante depois de havê-lo palmado, para fazê-lo mais seguramente, e fingem nessa ocasião alguma necessidade corporal. Depois de palmado o diamante o que eles fazem tão destramente como qualquer curioso de peloticas, algumas vezes o introduzem no nariz no ato de tomarem tabaco, e o sorvem até ele vir ter á boca para o engolirem ou escondem debaixo da língua.
Imagem da internet Os negros palmam os diamantes até com os dedos dos pés, onde os conservam ás vezes horas inteiras, e os levam nele para as senzalas e, posto que nas saídas das lavagens são examinado em todo o seu corpo, assim mesmo acontece não serem descobertos. Outros metem um bocadito de cera preta e mole atrás das orelhas, fingindo que se coçam, depois de palmado o diamante o metem na dita cera de qual se servem igualmente pondo-a nos cabos e e olhos dos almocafres e, palmado o diamante, o introduzem nela para o buscarem ali no fim do trabalho. Também deixam crescer as unhas das mãos e dos pés para com elas fisgarem os diamantes pequenos, os quais encobrem muitas vezes na carapinha que para isso deixam crescer até bastante altura. A arte de roubar e esconder os diamantes num passe de mágica, os negros conseguiam enganar todo o aparato de fiscalização com sua arte de ocultar os diamantes de várias formas. Muitos negros fingiam que precisavam urinar e afastava das canoas com a pelotinha de cera ou no nariz, nas unhas, ou atrás da orelha e ali um pouco afastado o feitor observava, mas no ato de urinar, ás vezes coçava a orelha ou num passo de mágica escondia os diamantes no pelúcio da pele do pênis. Quando revistado nenhum feitor tocaria as partes intimas e assim muitos diamantes foram roubados sem desconfiança. Outra astúcia dos negros era fingir a necessidade de defecar, afastava e em cócora fazia de conta que estava fazendo a sua necessidade, introduzia a pelotinha de cera da terra no anus e ali permanecia com ela colada por horas, não havendo desconfiança, nenhum feitor pediria e nem tocaria as partes intimas do negro, mas se fosse se houvesse desconfiança, faziam a lavagem estomacal, ao evacuar ou vomitar a bolinha de cera da terra com o diamante passava na maior parte sem ser descoberto, e o escravo poderia depois voltar para buscar, as partes intimas então era um local super secreto e com todas as condições do sucesso do furto. O cabelo crespo também era usado como esconderijo das pelotinhas de cera da terra que era introduzido no couro cabeludo entrelaçando na cabelereira e ali permanecia até esconder ou levar para a senzala. Segundo Joaquim Felício dos Santos, no Livro Memórias do Distrito Diamantino, os negros embalava uma canção em uma só melodia, que os feitores cochilavam e onde os negros usavam as suas artes para furtarem os diamantes. JUNIOR, Augusto de Lima, História dos Diamantes, em Minas Gerais, p.56-58, ed. Dois Mundo,1955,RJ.
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