Quem deixar a vila de São João da Chapada, rumando ao sul, descendo por campos entrecortados por rochedos areníticos, chegará – passada uma légua – ao local da outrora florescente povoação da Chapada. O viajante parece entrar numa terra fadada! Uma povoação sem casas! Os traçados retilíneos de largas ruas estão perpetuados por longos muros de pedra habilmente amontoadas, que desafiam as vicissitudes dos tempos. Grama verdejante e outra vegetação rasteira estenderam um tapete através destas vias silenciosas, como se fosse para dizer, que aqui transitam apenas as sombras de um movimentado passado. Um grande cemitério, otimamente murado e de forma quadrangular, situado nesta solidão, vem reforçar Irresistivelmente a impressão geral, que é de melancolia. O sinal régio de Cristo indica a área, onde até pouco tempo estava a Capela de Nosso Senhor do Bomfim, era antiga esta Capela da Chapada tendo sido restaurada em 1928 (nota – por ordem do então Vigário da Sé de Diamantina Revmo. Cônego João Tavares de Souza, a dita capela foi desmontada em 1938, sendo levado o madeiramento para a vila de São João da Chapada, onde atualmente está sendo levantado de novo o tradicional templo), defronte do atual Cruzeiro, veem-se os restos do antigo com a marca de 1860, fincado no pé de um cruzeiro mais antigo ainda. Pelos meados do século passado a Capela de Nosso Senhor do Bomfim
Imagem da internet- São João da Chapada
da Chapada marca uma notável atividade no serviço religioso, conforme consta dos respectivos livros do arquivo paroquial de São João da Chapada. Os primeiros registros de batizados existentes data do ano de 1853, assinados pelo “Pe. Januário Alves F. Prado”, que remetera os respectivos emolumentos ao “Sr. Revdo. Vigário João de Castro Bacelar. (nota – o referido Pe. Januário paroquiou por longos anos o note de Diamantina. Na margem da autovia Diamantina – São João da Chapada, Cá de uma légua de São João vê-se uma cruz de madeira popularmente conhecida como “Cruzeiro do Padre Januário”. Era consciencioso nos assentamentos, lançando-os em linda caligrafia nos livros próprios, modelar para muitos “folhetistas” modernos, de assentamentos volantes! Nos últimos decênios do século passado morava na Fazenda do Caité-Mirim e nas viagens em serviço paroquial fazia-se acompanhar por dois escravos, que lhe acolitavam piedosamente a santa missa. – Então ainda não havia capela na atual paroquia São João da Chapada. Esta aparece pela primeira vez nos assentamentos do 7º decênio, sob a denominação de “Capela de Santo Antônio do Descoberto de São João”. No regime drástico da Intendência havia na Chapada um posto militar de fiscalização. Este era guarnecido por um destacamento de cavalaria do célebre “Regimento das Minas”. Hoje vê-se ali o quartel em ruínas, apresentando respeitáveis credenciais de um passado histórico! Os contornos dela vetusta habitação formados por paredões de resistente taipa de largura descomunal, estão firmemente de pé, qual testemunha de tempos idos, épocas marciais e de valentia, que com suor e múltiplo sofrimento salvaguarda a grandeza do Brasil de hoje. Em fins de 1817 existiam na Chapada “cerca de trinta miseráveis choupanas”. (A. De Sanit-Hilaire) habitados por homens livres, que autorizados pela Intendência lavavam ouro nos numerosos córregos da vizinhança, chamados de Balbina, Cotovelo, Pindaíba e Areião; pois, o garimpo de diamantes fora considerado esgotado nesta parte e por isso abandonado pela Real Extração. (Nota – Chapada produz ainda atualmente ouro e diamante. Há sítios, onde cada palmo de terra fora revirado, como na encosta de leste chamado de Lucinda. Anos atrás, Martiniano Barão, falecido em 1930, encontrou aí um diamante de 4 oitavos, que fora vendido por 9 contos de réis.) Posteriormente aquela visita aludida do ilustre naturalista francês na Chapada,- que se deu nos últimos dias de Setembro de 1817 e no fim da seca, - houve uma progressiva prosperidade naquela povoação; certamente motivada pelas imensas possibilidades econômicas franqueadas pela emancipação política do Brasil; pois, as “miseráveis choupanas” vistas aí por A. de Saint Hilaire, deram lugar a uma soberba casaria. Pela entrada do século 20 havia ainda mais de 60 casas, que pelas dimensões e solidez de construção e mais por seu aspecto agradável bem poderiam Ter figurado em uma cidade, Nesta mesma época residia na Chapada o Revmo. Padre Roque M. Penna, sacerdote encarregado da Freguesia de S. João da Chapada, que preferia morar aí por que não gostava do bulício do “comércio”. Funcionava também uma escola ali, instalada num prédio de 16 cômodos e inteiramente envidraçado. O que restou de tudo, são apenas duas casas! Mas também não se vê por ali escombros de casas em canto nenhum. Onde ficaram os restos das numerosas habitações? A “causa mortis” da Chapada não foi a instabilidade natural da profissão garimpeira, pois, hoje ainda os sítios são lavrados com proveito. Parece que um capricho da história, - se assim for lícito chamar os secretos desígnios do Governo Supremo, - fez extinguir aí a atividade
Imagem da Internet- Banda Santa Cecília - São João da Chapada
humana, apesar de muitos fatores favoráveis ao homem! De uma feita chegaram 12 carros de boi, levando embora casas e mais casas, deixando atrás o vazio e a tristeza e o cantarolar das rodas zombava dos que ficavam. Casas da Chapada encontram-se hoje reconstruídas em São João da Chapada, Biribiri, na Perpétua, na Sopa e até em Diamantina. Algumas das principais famílias radicadas na Chapada eram: José Coelho de Moura, Francisco Dias, Raimundo Antônio Miranda, Prado Bellaguarda, o capitão Custódio, Alferes Manoel Gonçalves e Costa Bruzinga. (Nota: A altitude da Chapada é cá de 1.197m, portanto cá de 200m mais baixo do que o nível da Vila de São João, sendo o clima mais apropriado á lavoura. Toda a área da antiga povoação é irrigada por abundantes águas. O plantio de batatas, cevada, linho e hortaliças tem prosperado aí. As batatas da Chapada vendiam-se em Diamantina por 4 mil réis o alqueire.... há alguns lustros atrás – Vindo de Diamantina acha-se o histórico local da Chapada adiante do “Mossorongo”, serra da de singular aspecto na Vargem das Pombas. As ruínas do quartel dos Dragões de Minas na Chapada seriam dignas de serem conservadas e ligadas á posteridade e como autêntico monumento histórico). MERTEN P. R., A Estrela Polar, Chapada, p. 1, ano XLII, nº 1, Dtna, 1 de janeiro de 1945.
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