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sábado, 6 de junho de 2020

Santa Casa e Hospício

A Santa Casa e o Hospício
 É esta uma das melhores instituições da opulenta capital do norte de Minas, da cidade do ouro e dos diamantes, que tão afamada tem sido é, e, há de ser.
 Num vasto edifício, situado a um lado na cidade, está fundando o hospital, provido com sua bem guarnecida farmácia não só para serviço do mesmo hospital como também para o serviço da cidade.
  Na parte central do edifício há um vasto pátio com seu marco centenário e por onde jorra uma magnífica corda de cristalina água.
 Em redor do pátio estão as diversas enfermarias onde os doentes estão divididas em diversas seções, consoante o seu estado de gravidade. Em todos as enfermarias se manifesta muito asseio e muito arranjo, não se lhes notando aquele cheiro característicos dos hospitais que tanto incomoda o visitante. Graças as condições higiênicas, as muitas janelas, a boa altura de pé direito e a muita limpeza, a atmosfera das enfermarias é perfeitamente pura, podendo ser respirado por um são sem prejuízo de sua saúde.
 Na sala das sessões do conselho da Santa Casa estão em grande, emoldurados, os retratos a óleo dos diversos bem feitores da Santa Casa. Ao lado e a direita da entrada há uma pequena e simples, mas elegante capela, onde frequentemente se diz missa.
 A entrada do edifício, que é ampla, é servida por uma escadaria de pedra, pouca alta, mas vasta, que dá ao edifício um aspecto vistoso, fazendo-lhe sobressair mais a singela mas arquitetônica fachada.
 Tudo é simples e não opulento para que a moléstia dos doentes, dos desgraçados da sorte que ali vão procurar asilo, se não melindre; mas tudo é bonito, tudo está bem disposto, para que todos tenham prazer em procurar o estabelecimento e sintam nele o bem estar a que tem direito aqueles que em seu desgraçado albergue não tem muitas vezes nenhuma envergadura nem um bocado de pão negro.
 Ao hospital segue-se o hospício alienado ao prédio de construção nova, devida a boa vontade dos diamantinenses, que para isso concorreram com os seus óbolos e a iniciativa e muita atividade do seu provedor o exmo. Sr. Comendador José Ferreira de Andrade Brant, ultimamente considerado, por deliberação da assembleia geral, irmão protetor.
                                              Imagem da internet.
 A este cavaleiro, que tem há anos dedicado todas as suas atenções do mais importante estabelecimento de caridade do Norte de Minas, sacrificando muitas vezes afazeres de sua vida particular e pondo de parte o descanso a que a sua avançada idade tem direito, se deve principalmente o estado adiantado do novo edifício dos alienados, elegante, cômodo e estabelecido segundo os preceitos estatuídos para construções de tal fim.
  Que não fiquem esquecidos os relevantes auxílios prestados pela exma. sra. D. Mariana Fernandes dos Santos e exmo. Sr. João Francisco da Motta, que nunca recusou os seus capitais para a casa da Caridade, tendo a sua bolsa sempre aberta para tal fim. Por isso em assembleia geral foram há pouco considerados ambos irmãos beneméritos.
  Com seus conhecimentos profissionais muitos concorreu o ilustre engenheiro, o exmo. Sr. Dr. Catão Jardim, que não poupou esforços para o bom desempenho do papel que impôs a si mesmo na construção do edifício a que vimos afluindo. Pena é que não esteja acabado e que lhe falta ainda tanto para ser concluído. Com tudo já se dispõem atualmente lá de 14 celas, que estão já prestando os seus serviços aos desgraçados alienados da razão, e que por esse fato não podem viver no centro da sociedade.
                                          imagem da internet.
  No último ano existiam no primeiro de janeiro no hospital 55 doentes, entraram 332, saíram 322, faleceram 18, e existiam em 31 de dezembro 52.
  Por aqui se vê que a média da existência é de 50 a 60 doentes constantemente. No hospício de alienados existiam 18, entraram 18, faleceram 2, saíram 20, existiam em 31 de dezembro 14. A despesa foi de 14,944$934 reis, que indica muito boa administração da casa. Mas há muito que fazer ainda: Há muitas despesas a realizar para as quais a Santa Casa não está habilitada, não podendo por isso sem auxílio de fora continuar na obra ingente iniciada e continuada até hoje pelo seu protetor perpetuo, que deseja elevar tal estabelecimento a altura a que tem direito tal instituição e que a cidade dos diamantes de certo não descurará sendo como é grande empório do norte e um dos mais importantes centros da população do próspero Estado de Minas Gerais.

                                           Imagem da internet - O Hospício de Diamantina
  Faço votos para que os bons desejos de quem se dedica a tão simpática missão se realizem, para as suas aspirações sejam uma realidade, porque neste caso Diamantina, ficará possuindo um hospício que lhe granjeará mais fama ainda e a altura dos melhores estabelecimentos deste gênero no continente Sul americano. 
SOBRAL, José Amândio, O Município, Santa Casa de Caridade em Diamantina, p. 3, Diamantina, 1896.

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