É esta uma das melhores instituições da opulenta capital do norte de Minas, da cidade do ouro e dos diamantes, que tão afamada tem sido é, e, há de ser.
Num vasto edifício, situado a um lado na cidade, está fundando o hospital, provido com sua bem guarnecida farmácia não só para serviço do mesmo hospital como também para o serviço da cidade.
Na parte central do edifício há um vasto pátio com seu marco centenário e por onde jorra uma magnífica corda de cristalina água.
Em redor do pátio estão as diversas enfermarias onde os doentes estão divididas em diversas seções, consoante o seu estado de gravidade. Em todos as enfermarias se manifesta muito asseio e muito arranjo, não se lhes notando aquele cheiro característicos dos hospitais que tanto incomoda o visitante. Graças as condições higiênicas, as muitas janelas, a boa altura de pé direito e a muita limpeza, a atmosfera das enfermarias é perfeitamente pura, podendo ser respirado por um são sem prejuízo de sua saúde.
Na sala das sessões do conselho da Santa Casa estão em grande, emoldurados, os retratos a óleo dos diversos bem feitores da Santa Casa. Ao lado e a direita da entrada há uma pequena e simples, mas elegante capela, onde frequentemente se diz missa.
A entrada do edifício, que é ampla, é servida por uma escadaria de pedra, pouca alta, mas vasta, que dá ao edifício um aspecto vistoso, fazendo-lhe sobressair mais a singela mas arquitetônica fachada.
Tudo é simples e não opulento para que a moléstia dos doentes, dos desgraçados da sorte que ali vão procurar asilo, se não melindre; mas tudo é bonito, tudo está bem disposto, para que todos tenham prazer em procurar o estabelecimento e sintam nele o bem estar a que tem direito aqueles que em seu desgraçado albergue não tem muitas vezes nenhuma envergadura nem um bocado de pão negro.
Ao hospital segue-se o hospício alienado ao prédio de construção nova, devida a boa vontade dos diamantinenses, que para isso concorreram com os seus óbolos e a iniciativa e muita atividade do seu provedor o exmo. Sr. Comendador José Ferreira de Andrade Brant, ultimamente considerado, por deliberação da assembleia geral, irmão protetor.
Imagem da internet.
A este cavaleiro, que tem há anos dedicado todas as suas atenções do mais importante estabelecimento de caridade do Norte de Minas, sacrificando muitas vezes afazeres de sua vida particular e pondo de parte o descanso a que a sua avançada idade tem direito, se deve principalmente o estado adiantado do novo edifício dos alienados, elegante, cômodo e estabelecido segundo os preceitos estatuídos para construções de tal fim.
Que não fiquem esquecidos os relevantes auxílios prestados pela exma. sra. D. Mariana Fernandes dos Santos e exmo. Sr. João Francisco da Motta, que nunca recusou os seus capitais para a casa da Caridade, tendo a sua bolsa sempre aberta para tal fim. Por isso em assembleia geral foram há pouco considerados ambos irmãos beneméritos.
Com seus conhecimentos profissionais muitos concorreu o ilustre engenheiro, o exmo. Sr. Dr. Catão Jardim, que não poupou esforços para o bom desempenho do papel que impôs a si mesmo na construção do edifício a que vimos afluindo. Pena é que não esteja acabado e que lhe falta ainda tanto para ser concluído. Com tudo já se dispõem atualmente lá de 14 celas, que estão já prestando os seus serviços aos desgraçados alienados da razão, e que por esse fato não podem viver no centro da sociedade.
Por aqui se vê que a média da existência é de 50 a 60 doentes constantemente. No hospício de alienados existiam 18, entraram 18, faleceram 2, saíram 20, existiam em 31 de dezembro 14. A despesa foi de 14,944$934 reis, que indica muito boa administração da casa. Mas há muito que fazer ainda: Há muitas despesas a realizar para as quais a Santa Casa não está habilitada, não podendo por isso sem auxílio de fora continuar na obra ingente iniciada e continuada até hoje pelo seu protetor perpetuo, que deseja elevar tal estabelecimento a altura a que tem direito tal instituição e que a cidade dos diamantes de certo não descurará sendo como é grande empório do norte e um dos mais importantes centros da população do próspero Estado de Minas Gerais.
Imagem da internet - O Hospício de Diamantina
Faço votos para que os bons desejos de quem se dedica a tão simpática missão se realizem, para as suas aspirações sejam uma realidade, porque neste caso Diamantina, ficará possuindo um hospício que lhe granjeará mais fama ainda e a altura dos melhores estabelecimentos deste gênero no continente Sul americano.
SOBRAL, José Amândio, O Município, Santa Casa de Caridade em Diamantina, p. 3, Diamantina, 1896.
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