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terça-feira, 15 de outubro de 2019

Partidos políticos antigo de Diamantina 69 e 45

    O homem que desrespeitou o Hino Nacional
                                                   Paul Krugger Corrêa Mourão

O seu José de Lemos era muito conhecido em Diamantina. Não direi propriamente estimado,  pois era algo ríspido e intolerante para os defeitos dos outros, tendo nítidos sintomas de neurastenia.
     Em casa, não gostava de visitas demoradas e, não raro, quando as tinha, punha-se a olhar o céu, pela janela, dizendo entre dentes: - "Está para vir uma grande chuva".
     Entretanto, ninguém tão patriota, no sentido de desejar o progresso de Diamantina e de trabalhar afanosamente para este.
    Muito depois da época em que começa esta história ele tomou parte em várias iniciativas e trabalhos para ser dado a Diamantina o desejado elemento do seu progresso a estrada de ferro.
     Na sua vida privada era um exemplo de chefe de família dedicado esposo carinhoso e pai amantísssimo, muito embora  a austeridade de seus hábitos que chegava a ponto de coagir  draconianemente  a liberdade das duas filhas adolescentes.
      Na cidade, era temido pela sua rispidez que propriamente estimado, conforme foi dito acima, entretanto ninguém lhe negava o valor pessoal e o interesse tantas vezes manifestado pelas coisas de Diamantina. 
                                 
                             Inauguração da Estrada de Ferro de Diamantina- Arquivo Zé da Sé
   
   O Seu Lemos era um político extremado, membro do partido majoritário da cidade,  na época, isto é, o partido chamado "Sessenta e nove". Naquele tempo, degladiavam-se duas grandes facções políticas: o Sessenta e nove já citado, sob a chefia do Senador Mourão e o Quarenta e Cinco que se opunha ao Governo do Estado e tinha a sua frente o velho Augusto Caldeira, da estirpe dos Caldeira Brant, que tanta atuação tiveram na história de Minas e do Brasil.
        Em matéria de política, o seu José de Lemos era rubro. Não admitia a possibilidade da vitória dos 45, cujo idealismo negava, convencido de que eram uns retógrados que jamais fariam o progresso de Diamantina. 
         Aliás, parece que era esta a opinião dominante, entre os 69, está visto, pois haviam crismado, mesmo, o seu partido de "Estrada de Ferro", concretizando nessa denominação o ideal de dar á cidade aquele desejado meio de transporte, enquanto negavam os adversários a possibilidade de consegui-lo.
        Nas eleições municipais, a vitória cabia invariavelmente ao partido 69, muito embora os 45 contassem com um ou outro distrito da cidade. 
         Entretanto, em certa época, houve um grande imprevisto de que resultou os 45 subirem ao poder municipal. Foi o seguinte: 
        Tendo os 69 vencido uma disputada eleição, não se preocuparam, contudo, com o preenchimento integral de certas formalidades legais e burocráticas, cuja falta, entretanto, era motivo de nulidade do resultado. Assim aconteceu em vários distritos do município. 
        Embora a maioria fosse ainda desta vez verdadeiramente a favor dos 69, os 45 não se conformaram e, baseados nessas irregularidades, contrataram na Capital um hábil advogado conhecido em todo o Estado, para pleitear o anulamento de muitas urnas e o reconhecimento conseguinte de sua vitória. Assim foi feita e a exigência das formalidades legais preponderou sobre o resultado real das eleições, cabendo, em consequência, a mais inesperada e espetacular a vitória de um partido já acostumado a perder. 
      Quando a notícia chegou na cidade, os 69 ficaram estarrecidos e acabrunhados. Dizem que se deve aprender a perder com serenidade; não saberei informar se muitos 69 conservaram esta serenidade, porém, sei que os 45 não souberam ganhar, pois se expandiram em acintosas manifestações e festas ruidosas com intenção hostil de ofender o velho partido adversário. 
       Subiram, pois, os Caldeira.
       A reviravolta era completa e teria sido definitiva não fosse a velha habilidade política do chefe do partido que acabava de ser vencido. 
       Em consequência desse acontecimento a Câmara Municipal, as repartições e os serviços do município deveriam passar á direção dos 45.
        Não se pode descrever a decepção e o despeito do Seu José de Lemos; deixou de discutir para não brigar ; evitou as conversas de capistrana tão em voga  na época; cortou relações com vários eleitores dos 45 com quem antes conversava habitualmente ; Em Em casa, tornou-se sombrio e ainda mais nervoso. Aumentou a sua fama de neurastênico.
        Todos esses sentimentos desse 69 convicto se exteriorizaram, ocasionalmente um dia, em um episódio burlesco que muito exprime a extensão do seu despeito e o amargo ressentimento do seu coração de ardente partidário da facção da "Estrada de Ferro".
        Além da Câmara, do Cemitério, do Matadouro, deveria passar á nova administração, o Mercado Municipal que, naquela cidade, do norte de Minas se chama simplesmente "Barracão". 
       Para isso havia uma cerimônia em que o administrador passado deveria entrega ao novo os livros, chaves e pertences daquele próprio do município.
       Os 45, por acinte, contrataram a banda do "Corinho" para abrilhantar a cerimônia.
        Por azar, aconteceu que, no momento exato da transmissão o Seu José de Lemos passava pela rua que dava acesso á praça do Mercado, chamada Cavalhada Nova. 
       O novo empossado acabava de fazer um discurso e a banda do Corinho iniciou o Hino Nacional. 
       As primeiras notas da música de Francisco Manoel, todos se descobriram respeitosos e se manifestaram firmes de pé.
       O José de Lemos que passava apressadamente, de olhos baixos, semblante carrancudo, pareceu cair em si e perceber que tocavam um hino não somente dos 45, porém também dos 69 e aliás de todos os brasileiros. 
        A sua resolução entretanto foi brusca e espetacular: em lugar de tirar o chapéu, colocou -o com força na cabeça, tão fundo que quase lhe tampou os olhos e, apoplético, com expressão de profundo desprezo, continuou a subir a rua pisando com força no chão . 
   

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