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quinta-feira, 25 de julho de 2019

O casamento


O Instituto Histórico e Geográfico de Minas, recebeu certa -vez da Bahia, um pedido de esclarecimento sobre a vida e morte do Dr. Berenguer na nossa cidade. Era de se admirar tão serodia informação. Não nos despertou interesse conhecer o fim de tais averiguações, decorridos mais de setenta anos. Coube me como filho da terra e membro do Instituto, desvendar tudo por incumbência do presidente do sodalício. Era o Dr. Beato Bittencourt Berenguer Cesar, Juiz Municipal de Diamantina Homem de belo porte, elegante, forte e muito inteligente, foi logo acolhido pela sociedade local, onde chegou a desfrutar de alto conceito e muita distinção pelos seus dotes de legítimo cavalheiro e instrução. Exerceu a magistratura com proficiência e zelo, como afirmavam seus contemporâneos. Voltando suas vistas para uma das mais lindas moças de nosso escol social, dela enamorou se perdidamente. Pediu-a em casamento, os pais viram com bons olhos o futuro da 




 filha, mas, a moça relutou, porque era apaixonada por outro jovem. Ante as insistências da família acabou rendendo-se. Na hora do casamento na Igreja do Carmo, estava o eleito de seu coração entre assistentes, aguardando o não combinado que o faria feliz e que falhava naquele momento solene, talvez devido a emoção e medo. Desajustados não podiam viver bem. Roído de ciúmes, diminuído no seu orgulho, começou o juiz a exceder-se na bebida. Não sabemos pormenores íntimos, mas certo é que antes de estourar os miolos, matou um por um todos seus encantadores canários, atirou na esposa que conseguiu fugir, isto ás 9 horas da manhã, do dia 9 de Abril de 1891, na sua casa na Rua da Glória, acima do Colégio N. S. das Dores. Sobreviveu algumas horas e ao falecer encontraram no punho de sua camisa o seguinte escrito: 'Minha mãe, não culpe minha morte a pessoa alguma". O mais interessante é que aos suicidas é negado o lugar sagrado e ele não poderia ser sepultado no Amparo. A razão disto colhemos nos livros de óbitos da freguesia de 1889 a 1892 página 71, num assento feito pelo Monsenhor Neves, já vigário naquela época. Lá está escrito "que aos nove dias do mês de Abril de mil e oitocentos e noventa e um nesta freguesia suicidou-se o Doutor Bento Bittencourt Berenguer Cesar, Juiz Municipal deste Termo, natural do Estado da Bahia, casado, com idade do 32 anos, sendo causa da morte um tiro que dera o próprio finado na cabeça e como sobrevivesse algumas horas, destituído de sentidos, foi absolvido, ungido, sub conditione, encomendado e sepultado no dia seguinte na Capela de N. S. do Amparo." No momento da inumação, chegou um telegrama da família exigindo autópsia tendo sido a mesma feita pelos doutores Alexandre Mala, João Antônio de Figueiredo e Cândido Amaral Pirassununga. Não pairava a mínima dúvida de um auto extermínio, mas os facultativos realizaram os desejos dos parentes do tresloucado. Roubou-lhe a vida um crime mórbido alimentado pelo álcool.

Salus. 
Palavras cruas e... cozidasa, pág. 1, Voz de Diamantina, 1964. nº 22

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