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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

O PASSADO EM DIAMANTINA

 COISAS DO PASSADO DE DIAMANTINA

(Do Livro inédito de J. Augusto Neves)

A iluminação em Diamantina – Nos antigos tempos, a nossa cidade era iluminada, primeiro, a azeite fumarento com grandes lampiões de folha, suspensos por correntes, às esquinas das ruas. Veio, depois, a iluminação a querosene, em lampiões, feita por arrematação, e havendo empregados para ascender, às 6 horas da tarde, e repagar, as 12 horas da noite os lampiões, os quais faziam o serviço, carregando escadas as costas.

O interessante é que no período lunar, não havia iluminação; os lampiões eram retirados dos postes, e passavam por uma limpeza, sendo recolocados depois da lua cheia.

Quando havia espetáculo no velho Teatro de Santa Isabel, os lampiões a querosene só eram apagados meio hora depois que aqueles terminavam.

Veio-nos, em seguida, a iluminação a gás acetileno, que pouca ou nenhuma vantagem oferecia.

Vista panorâmica da cidade de Diamantina
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Afinal, veio a luz elétrica, a princípio muito boa e, depois, péssima com o aumento do consumo.

Diamantina, hoje, tem ótima luz.

Uma nota interessante. – Em certa ocasião que a cidade ficou às escuras, o saudoso Juca Boi arranjou pedaços de archotes e os colocou nos lampiões.

A propósito da tradicional festa do Divino, nos antigos tempos de Diamantina, contavam os antigos: Certa vez, foi sorteado imperador um velho de vida irregular, que vivia em união ilícita.

Isto explica-se, porque, nos antigos tempos, não havia seleção na escolha de pessoas, para servir como festeiros.

O homem ficou tão comovido e contente com a escolha do Divino, que foi logo á igreja do Amparo; e, diante do trono, abre os braços e assim se exprime: “Ah! Seu Divino, até que, enfim, você me desabusou; vou-me casar com a bruaca velha e...”

É escusado dizer que o casamento, se efetuou logo.

Quem diria? – O pitoresco Bairro do Rio Grande, onde hoje se cuida da vida espiritual dos homens e se prodigaliza a caridade aos velhinhos desamparados, justamente ao alto da rua do Areão, era o ponto em que, nos antigos tempos de Diamantina, se executavam os infelizes condenados à morte.

Ainda há poucos anos, encontravam-se, ali, dois tocos dos postes do triângulo da forca.

Contavam os nossos antepassados as cerimônias impressionantes que precediam à cena horrível do enforcamento aterrador.

Precedia-se, pela manhã, na velha Sé, a missa em que o sentenciado recebia a sagrada comunhão.

Após a missa, formava-se o préstito de uma vivo-morto, composto da Guarda Municipal e do Destacamento Policial, de autoridades judiciárias e policiais, conduzindo em direção ao local da forca, o condenado, vestido de túnica branca dos sentenciados, já como laço da corda ao pescoço, e acompanhado pelo caixão mortuário, carregado á cabeça de outro sentenciado.

Seguia-o Vigário da Paróquia, revestindo de sobrepeliz e estola preta; o carrasco, que vinha especialmente de Ouro Preto; e a banda de música local, que executava, durante o percurso, alguns trechos e uma marcha fúnebre, comovente e impressionante.

No local, a execução do condenado constituía a tragédia mais compungem-te que se pode imaginar!

vista da cidade e da serra aos fundos onde ocorria os enforcamentos
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É que o desgraçado, já enforcado pelo laço, suportava ainda enganchado no pescoço, o maldito carrasco, agindo com as mãos e fazendo força sobre os ombros do asfixiado, até que este pusesse meio palmo de língua para fora.

Consumada a cena, o carrasco cortava a corda, caindo ao solo o desgraçado, cujo cadáver era conduzido pelos presos da cadeia no Cemitério do Burgalhau, hoje desparecido.

Escusado é dizer que a banda de música, ao regressar das nefandas e burlescas tragédias, punha-se a tocar dobrados alegres!...

O último enforcamento em Diamantina, foi em 1849, há mais de 175 anos.

Um episódio se deu, por ocasião desse último enforcamento. É que, no ato de ser enforcado o desgraçado, a corda arrebentou, e houve quem se prontificasse a vir buscar na cidade, nova corda, para o suplício do infeliz.

 Xisto Rei.

Voz de Diamantina, pág.3, nº 24, 4 de maio, Diamantina/MG, 1947.

 

 

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