COISAS DO PASSADO DE DIAMANTINA
(Do Livro inédito de J. Augusto Neves)
A iluminação em Diamantina – Nos antigos tempos, a nossa cidade era
iluminada, primeiro, a azeite fumarento com grandes lampiões de folha,
suspensos por correntes, às esquinas das ruas. Veio, depois, a iluminação a
querosene, em lampiões, feita por arrematação, e havendo empregados para
ascender, às 6 horas da tarde, e repagar, as 12 horas da noite os lampiões,
os quais faziam o serviço, carregando escadas as costas.
O interessante é que no período lunar, não havia iluminação; os lampiões
eram retirados dos postes, e passavam por uma limpeza, sendo recolocados
depois da lua cheia.
Quando havia espetáculo no velho Teatro de Santa Isabel, os lampiões a
querosene só eram apagados meio hora depois que aqueles terminavam.
Veio-nos, em seguida, a iluminação a gás acetileno, que pouca ou nenhuma
vantagem oferecia.
Vista panorâmica da cidade de Diamantina ACERV0+102.jpg (400×254) (bp.blogspot.com) |
Afinal, veio a luz elétrica, a princípio muito boa e, depois, péssima com o
aumento do consumo.
Diamantina, hoje, tem ótima luz.
Uma nota interessante. – Em certa ocasião que a cidade ficou às escuras, o
saudoso Juca Boi arranjou pedaços de archotes e os colocou nos lampiões.
A propósito da tradicional festa do Divino, nos antigos tempos de
Diamantina, contavam os antigos: Certa vez, foi sorteado imperador um velho
de vida irregular, que vivia em união ilícita.
Isto explica-se, porque, nos antigos tempos, não havia seleção na escolha
de pessoas, para servir como festeiros.
O homem ficou tão comovido e contente com a escolha do Divino, que foi logo
á igreja do Amparo; e, diante do trono, abre os braços e assim se exprime:
“Ah! Seu Divino, até que, enfim, você me desabusou; vou-me casar com a
bruaca velha e...”
É escusado dizer que o casamento, se efetuou logo.
Quem diria? – O pitoresco Bairro do Rio Grande, onde hoje se cuida da vida
espiritual dos homens e se prodigaliza a caridade aos velhinhos
desamparados, justamente ao alto da rua do Areão, era o ponto em que, nos
antigos tempos de Diamantina, se executavam os infelizes condenados à
morte.
Ainda há poucos anos, encontravam-se, ali, dois tocos dos postes do
triângulo da forca.
Contavam os nossos antepassados as cerimônias impressionantes que precediam
à cena horrível do enforcamento aterrador.
Precedia-se, pela manhã, na velha Sé, a missa em que o sentenciado recebia
a sagrada comunhão.
Após a missa, formava-se o préstito de uma vivo-morto, composto da Guarda
Municipal e do Destacamento Policial, de autoridades judiciárias e
policiais, conduzindo em direção ao local da forca, o condenado, vestido de
túnica branca dos sentenciados, já como laço da corda ao pescoço, e
acompanhado pelo caixão mortuário, carregado á cabeça de outro
sentenciado.
Seguia-o Vigário da Paróquia, revestindo de sobrepeliz e estola preta; o
carrasco, que vinha especialmente de Ouro Preto; e a banda de música local,
que executava, durante o percurso, alguns trechos e uma marcha fúnebre,
comovente e impressionante.
No local, a execução do condenado constituía a tragédia mais compungem-te
que se pode imaginar!
vista da cidade e da serra aos fundos onde ocorria os
enforcamentos ACERVO+105.jpg (1600×1035) (bp.blogspot.com) |
É que o desgraçado, já enforcado pelo laço, suportava ainda enganchado no pescoço, o maldito carrasco, agindo com as mãos e fazendo força sobre os ombros do asfixiado, até que este pusesse meio palmo de língua para fora.
Consumada a cena, o carrasco cortava a corda, caindo ao solo o desgraçado,
cujo cadáver era conduzido pelos presos da cadeia no Cemitério do Burgalhau,
hoje desparecido.
Escusado é dizer que a banda de música, ao regressar das nefandas e
burlescas tragédias, punha-se a tocar dobrados alegres!...
O último enforcamento em Diamantina, foi em 1849, há mais de 175 anos.
Um episódio se deu, por ocasião desse último enforcamento. É que, no ato de
ser enforcado o desgraçado, a corda arrebentou, e houve quem se
prontificasse a vir buscar na cidade, nova corda, para o suplício do
infeliz.
Voz de Diamantina, pág.3, nº 24, 4 de maio, Diamantina/MG, 1947.
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