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terça-feira, 28 de junho de 2022
BANDA DO SAPO SECO
VEM AÍ: DESAFINADO – INFO 21
De longa data, havia em Diamantina o costume da
realização de bailes pelas famílias locais, em suas residências. Esses bailes
ganharam um espaço público, quando Diamantina foi contemplada com o prédio mais
amplo do antigo Teatro Santa Isabel. Por força de sua finalidade primordial de
levantar recursos para a Santa Casa de Caridade, o teatro passou a ser
arrendado para a realização de atividades recreativas, culturais, cívicas,
sociais e políticas, de forma simultânea à sua função precípua de abrigar a dramaturgia.
Destarte, um ano após o teatro ter sido franqueado ao público, Valeriano
Ferreira de Araújo utilizou suas dependências para promover bailes de máscaras
durante o carnaval de 1862 e por mais três ocasiões distintas naquele ano,
reproduzindo evento em moda, no carnaval do Rio de Janeiro, há mais de duas
décadas.
Até então, predominava no carnaval diamantinense a
prática da brincadeira do entrudo, herdada dos portugueses nos tempos
coloniais. De forma mais obstinada, faziam parte da diversão os famosos limões
de água de cheiro: uma bola de cera no formato de uma laranja contendo água
perfumada, que as pessoas atiravam umas nas outras.
A partir da realização dos bailes de máscaras no
teatro, iniciou-se um processo de organização do carnaval em Diamantina,
criando-se a expectativa de se eliminarem os costumes do entrudo, considerado,
por muitos, uma brincadeira perigosa, estúpida e de extremo mau gosto.
Nos primeiros anos de ordenação dos folguedos
carnavalescos, tornou-se tradição vários grupos de pessoas, com fantasias e
máscaras diversas, invadirem as ruas no período da tarde, fazendo verdadeira
algazarra durante os três dias de folia. Concentravam-se em frente ao Teatro
Santa Isabel, por volta das 16 horas, onde era organizada uma passeata que
desfilava pelas ruas centrais da cidade, deslocando-se até o final da Rua Macau
do Meio e retornando ao teatro. Anunciado por clarins, o cortejo seguia, tendo
à frente quatro negros possantes carregando uma padiola, encimada por Procópio
Gomes Ribeiro fantasiado de Baco, o deus do vinho e senhor dos ébrios,
assentado em uma pipa enfeitada por folhagens e parreiras com cachos de uvas.
Vestido com uma túnica de seda cor-de-rosa, máscara de arame, Procópio seguia
sorridente, empunhando um tirso na mão esquerda e, na direita, um ramalhete de
flores, com que atirava beijos e saudava as pessoas. Logo atrás, perfilavam-se
as representações de outras divindades mitológicas, como Júpiter, Juno,
Mercúrio, Vênus, Minerva, Netuno, Anfitrite, em carros puxados por cavalos de
crinas douradas. Na sequência, uma banda de música local, seguida pelo povo,
com suas fantasias e máscaras. No regresso, abriam-se as portas do Teatro Santa
Isabel, para o baile de fantasias.
Entrementes, nem todas as pessoas podiam, ou não
queriam algumas, utilizar as fantasias tradicionais, daí o surgimento de um
bloco de sujos, desde o final do século XIX, que se organizou com o passar dos
tempos. Mais estruturados, esses foliões começaram a ser acompanhados por uma
banda de música, meio desordenada ainda, desde o início da década de 1920.
Participava dessa algazarra um grupo de amigos caçadores, vestidos com trapos e
couros de animais, entre os quais se destacavam Elias Luiz de Carvalho, Ursine
Soares de Oliveira, Joaquim de Sousa Spíndola, Abelardo de Araújo Andrade, José
Lopes de Figueiredo, João Batista Diniz Júnior, José Cyrillo e um negro chamado
Anastácio. Em uma de suas caçadas, realizada em meados da década de 1930,
conversando sobre as inovações que deveriam fazer para melhor organização de
seu grupo carnavalesco, acharam por bem escolher um nome para o bloco de sujos.
Foi quando um deles convocou, para participar da conversa, o companheiro Elias
Luiz de Carvalho, que se encontrava afastado do grupo no momento, chamando-o
pelo apelido que Elias herdara do pai: “Sapo Seco”: “Ô, Sapo Seco, estamos
precisando de sua opinião aqui!” Ato contínuo, por aclamação unânime, nasceu o
nome para o bloco de sujos, consolidado, a partir de então, como Banda do Sapo
Seco.
No início da década de 1950, os antigos organizadores
da Banda do Sapo Seco, em decorrência de sua idade um pouco avançada,
repassaram o comando do bloco caricato a um grupo de foliões mais novos. Entre
os principais elementos que assumiram sua direção, destacaram-se Paulo
Clementino da Silva (Paulo Soim), José Corsino Dias (Zé Coquinho), Alencar dos
Reis Aguilar (Chumbinho) e Alberto Guedes da Silva.
No carnaval de 1968, ocorreu uma dissidência na
Banda do Sapo Seco. Parte da turma mais velha, capitaneada por Paulo Soim e Zé
Coquinho, desligou-se da Banda do Sapo Seco para montar a Banda do Peixe Vivo,
que estreou no carnaval de 1969, nos mesmos moldes de sua correlata. O novo
bloco caricato manteve o costume de se fazerem alegorias voltadas para a
produção de charges simulando costumes da cidade, criticando instituições,
ideias ou atitudes inconvenientes, ironizando ou satirizando acontecimentos
diversos. Tradicionalmente, a Banda do Sapo Seco sempre fazia encenações quando
atingia a Rua da Quitanda, em sua escalada rumo ao Largo Dom João, como ilustração
perfeita do antigo bordão do teatrólogo português Gil Vicente: Ridendo castigat
mores. (Rindo, castigam-se os costumes).
Mas, em decorrência da dissidência, a Banda do Sapo
Seco foi obrigada a se reinventar. A perda de Paulo Soim incidia diretamente no
centro de pensamento para definição das sátiras, das encenações críticas e para
a confecção das alegorias e das máscaras. Essa função foi assumida por Antônio
Paixão da Conceição e Mundico Mocó. Eram auxiliados por Antônio Macedo de
Siqueira (Antônio Boli), responsável por toda adaptação elétrica necessária, e
por Geraldo Dirceu Duarte (Lais), a quem ficou reservada a tarefa de conseguir
toda a matéria-prima para as confecções. Grande parte das vestimentas era
confeccionada com sacos de estopa, costurados, habitualmente, pela mãe de
Mundico Mocó.
Foto: Monstros humanos da pré história
Antônio Paixão e Antônio Boli / início década de
1970
Acervo: Antônio Paixão da Conceição
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