Aproxima-se a tradicional festa de S. Luzia (Lúcia), Virgem – Mártir de Siracusa.
Falecida no ano do Senhor, 310, essa gloriosa Santa costuma, agora, ser festejada no antigo e histórico templo de N.S. do Rosário, desta cidade, ora em conserto pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Realmente, não me recordo que a Virgem-Mártir, vítima do ódio do preconceito Pascácio, truculento romano, exortosiario e feroz, tivesse, em outros tempos, a pomposa festa que lhe promovem, em nossos dias, os seus devotos em Diamantina.
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Desde que me entendo por gente, nunca assisti, em nossa terra a uma festa tão pomposa á gloriosa e famosa Virgem. Apenas me recordo de uma original, muito esquisita, que os velhos professores carrancas promovia, anualmente, no dia de Santa Luzia. Bravos e carrancudos, como cobras, os mestres escolas antigos eram contudo, mais acatados e respeitados pelos discípulos. Existia, naqueles tempos, para uso e abuso dos mestres, aquele instrumento de madeira, - um suplício para os meninos rebeldes e vadios, que não estudavam e mal se comportavam nas escolas. A palmatória vem dos tempos primitivos da escravidão, porque os escravos, insubmissos e malcriados, também eram castigados em casa de seus senhores e na cadeia com o desumano instrumento. Mas, o que de mais extraordinário havia no regime clássico e célebre da palmatória, era a procissão original da Santa Luzia..., que os mestres promoviam, no dia 13 de dezembro, consagrada á Santa de Siracusa. Vestiam a palmatória de saia e paletó, e colocavam-na em improvisado andor. Constituía isso festa escolar naqueles tempos. Os alunos carregam a santa pelas ruas, ao troar de foguetes, e ao voltarem com o andor á escola, o mestre lhes oferecia farta mesa de doces. Mas, que contradição! Os alunos carregavam, alegres e prazenteiros , em procissão, o instrumento de seus suplícios, que lhes fora um martírio durante o ano! Os meninos de hoje, tão sagazes, asseguro, não festejariam o seu algoz! Poucos da atual geração se lembram deste versinho que os antigos meninos recitavam e repetiam, esfregando os olhos, por três vezes, suplicando alívio a S. Luzia, protetora da vista, quando lhes caía nos olhos algum cisquinho:
“Santa Luzia passou por aqui,
com seu cavalinho comendo capim;
Pedi-lhe pão, ela disse que não;
Pedi-lhe vinho, ela disse que sim.”
Reis, Xisto, VD., pág. 1, nº 45, 1950.
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