Os buscapés
Pelo sr. Delegado Auxiliar foi expedido edital, afixado em todos os lugares públicos e frequentados, proibindo, sob judiciosas considerações, soltarem-se buscapés, dentro da cidade, e queimarem-se bombas e dinamite depois de dez horas da noite.
Todos conhecemos o inveterado costume de na véspera do dia 24 de Junho, festa de S. João Baptista, todos os anos saírem os diletantes de tão péssimo modo de festejar um santo, soltando a torto e a direito os perigosos buscapés, procurando-se mesmo atirar-se o aterrador botarabo aos transeuntes, ou aos grupos que se formam como em ordem de batalha, de que saem sempre muitas vítimas.
Ressalta sempre o fechamento do comércio, a suspensão dos atos públicos e a transferência dos atos religiosos, e daí prejuízos e perigos iminentes da ordem pública e da propriedade particular, que agora o senhor delegado auxiliar resguarda com a medida que acaba de pôr em prática.
Outro costume censurável é o tal tiro forte de bombas ou dinamite solto nas ruas, que mesmo de dia incomoda, fere os ouvidos e causa choque, especialmente as crianças.
Não são de boa civilização essas demonstrações de prazer ou manifestações do culto, mormente quando para umas e outras temos recurso admissível no seio da sociedade civilizada.
Aí estão os fogos presos -fogos de bengala, rodinhas, pistoles, estrelinhas. velas de magnésio e muitos outros que satisfazem e deleitam o espírito: e os foguetes de bombas, que, bem feitos, soltos prudentemente, não deixam nenhuma impressão má nem constituem nenhum perigo.
O ato do senhor dr. delegado auxiliar, portanto, não é autoritário, mas judicioso, prudente e previdente, merecendo-nos, por isso, todo apoio.
Pão de Santo Antônio, 13 de Junho de 1910, p.2, Diamantina,MG
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