Henrique Boldrin
Há cinco meses este hospitaleiro
torrão mineiro abriu suas portas e deu entrada, no seio de suas famílias, a um
cavaleiro distinto, filho de bela Itália. – Henrique Boldrini.
Diretor de uma companhia dramática,
este cavaleiro tido a ocasião de pôr-se em contato com todas as classes
sociais, e não há um só dentre tantos de quem aliás se compõem, que não tenha
justas simpatias por este cidadão, que muito honra o seu país natal.
Henrique Boldrini, é um moço de 36
anos, mais ou menos, simpático, amável, risonho. É orador, poeta e dramaturgo;
em todas estas três qualidades o seu talento aparece de um só modo pouco comum.
Revela conhecimento de um grande número de obras literárias de escritores ainda os mais modestos; tem viajado quase toda a Europa, América, África; conhece os costumes e usos de diferentes povos; fala corretamente algumas línguas. Enfim, não é um talento vulgar ou um charlatão literato: é um moço ilustrado, amável e credor das simpatias populares.
O cenário é também um lugar onde
seu talento se revela prodigiosamente: ora, comovendo o auditório até a consternação
e as lágrimas; ora alegrando-lhe o espírito até as gargalhadas. Em suma, a
naturalidade com que o desempenha cada papel não é coisa que esteja alcance de qualquer
talento.
Não é só isto: Henrique Boldrini
também é um perfeito cenógrafo. Quem tiver assistido aos seus espetáculos dramáticos
há de estar convencido do que aqui vai dito de passagem.
Parece que a natureza foi prodiga
de mais naquela alma italiana!
A Diamantina que foi sempre hospitaleira,
até ao excesso, para com todos que batem ás suas portas, tem peso de não poder
atualmente acolher, como desejava, um cavaleiro nobre, generoso e simpático
como é o Sr. Henrique Boldrini.
O estado decadente em que o
ilustre hóspede veio encontrar este povo, talvez pareça algum indiferentismo ás
raras qualidades que tanto o elevam no conceito público.
O Sr. Boldrini pode ter
encontrado em outros lugares mais pomposas manifestações de apreço e
acolhimento, mas, tão sinceras e tão d’alma, talvez ainda não tenha recebido,
pois é este um dos dotes naturais do povo diamantinense.
Nestas poucas palavras, que aí
ficam, não encontre o sr. Boldrini senão a expressão franca e leal do alto
conceito em que o temos por seu talento, por suas qualidades morais, e pela
simpatia de que goza geralmente de todos que o conhecem.
Justus
Propaganda, Diamantina, Segunda Feira, 15 de outubro de 1888, p.3-4, nº 13.
Imagem da internet
1º de outubro de 1888
Os abaixo assinados retiram-se
saudosos desta cidade, na qual permaneceram 5 meses, recebendo as mais inconcussas
provas de simpatia.
Agradecem do íntimo da alma, aos
distintos cavaleiros que os auxiliaram nos espetáculos, que são: os ilms srs.
José da Cunha Valle Laport, José Joaquim da Silveira, Joaquim José da Silveira,
Agapito Moreira da Silva, Antônio do Nascimento Vidinha, José Agostinho Moreira
da Silva e todos os outros moços a quem devem obrigações no corpo cênico, e que
seria longo enumerar.
Protestam-se também os mais subidos
sentimentos de estima e reconhecimento para com os gentis meninos que espontaneamente
prestaram-se para abrilhantar os espetáculos de Santo Antônio, São Benedito,
Sete de Setembro e Suplício de uma mulher.
Agradecem os valiosos auxílios dos
srs. Francisco Cézar, Serafim Honorato Pires, Vicente Torres e Felix Pereira de
Andrade.
As distintas corporações musicais
enviam um saudoso adeus cheio de reconhecimento pelo brilhantismo com que
sempre, no decurso das representações, se houveram.
Aos incansáveis e prestimosos
cavaleiros Comandante Brant, Brant Filho, Tenente Coronel Juscelino de Menezes,
José Menezes, João Nepomuceno Kubitschek, Claudio Junior, Olímpio Mourão,
Arthur Napoleão, Arthur Queiroga, e capitão Augusto César um eloquente aperto
de mão, que no seu silêncio traduz os mais sinceros protestos de amizade.
Ao público de Diamantina, ao Clero,
á Magistratura, as artes, á indústria, á Milícia e ao comércio, um saudoso
adeus.
Boldrini e Corrêa
Diamantina, 12 de outubro de
1888.
O
teatro em Ponte Nova teve início ainda no século XIX com pequenas apresentações
realizadas em reuniões familiares e de amigos. Por volta do ano de 1885, as
representações teatrais teriam se aprimorado e ganhando incentivo com a
instalação do “Grande Theatro”, anteriormente localizado em sobrado na Rua do
Rosário. Segundo o historiador Antônio Brant, o artista Henrique Boldrini
residiu em Ponte Nova durante algum tempo e incentivou o teatro na cidade,
organizando um grupo de atores que encenava textos escritos por ponte-novenses.
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