Acontecimentos e
costumes do Tijuco (Diamantina) em 1826
Ilmo. Exmo. Senhor. – Tendo de levar a
respeitável presença de V. Ex.ª a triste
narração de alguns acontecimentos da mais súbita monta, e que a meu ver
demandam grandes providências, devo primeiro que tudo por a V. Ex.ª ao fato de
algumas circunstâncias anteriores: e por isso peço a V. Ex.ª paciência por um momento. Quando saiu a luz o
Projeto de Constituição, que Sua Majestade o Imperador foi servido oferecer ao
Império do Brasil, o Ex.mo Barão de Valença, então intendente geral da polícia,
remeteu um exemplo a Manoel Vieira Couto tenente reformado da 2ª Linha desta
Demarcação, e o que fizesse ver, para que se fosse aplaudido, como merecia
pudessem os povos pedi-lo como carta de Lei: o dito tenente Coronel em lugar de
assim o fazer, dizia a todos – O intendente geral da polícia remeteu-me o
projeto de S.M.I. para o mostrar, e se pedir, mas isto é servilíssimo, e demais
contem o Poder Moderador, que não sei para que serve, e sobre o qual dirão os
nossos deputados. E assim se ia indispondo a opinião pública! Eu servia então
de intendente geral interino dos diamantes, julguei dever atalhar o incêndio,
convoquei a Junta extraordinariamente, fiz vir o projeto, e suas vantagens, e
sendo apoiado unimamente, foi pedido pela Junta: e fazendo-o assim constar ao
publico por um meio de um edital, foi pedido de novo pela mesma Junta em nome
de todos. O S. M.r José Luiz da Silva,
escrivão dos diamantes Luiz José de Figueiredo, homens beneméritos, e muitos
outros estarão ao fato de tudo. – Quando o Exmo. General Gordilho teve
contestações com o Exmo. Presidente da Província da Bahia, o dito tenente
coronel gritou em uma casa literária – isto são inteligências com o Ministério,
e nós não queremos generais com carta branca – eu achava-me presente servia de
fiscal, e julguei ainda dever atalhar o incêndio; e disse que as razões do
general pediam que suspendêssemos o nosso juízo, que demais não estávamos ao
fato de sermos juízes da causa, e sobre tudo, que, as culpas do general não o
eram do Ministério; e muito menos de Sua Majestade o Imperador, que era aliás o
Supremo Julgador dessas mesmas culpas. O dito tenente coronel saiu depois de se
ter exaltado com toda acrimonia; e desde então ficamos sempre ressabiados: e
infelizmente era presente o licenciado Barros, hoje falecido; e se bem recordo
o tenente Antônio da Cunha contra parente ou genro do mesmo tenente coronel, e
não posso lembrar quem mais mas os moradores vizinhos o ouvirão tanto, ou
quanto; e o comuniquei logo ao dito sargento mor Comandante das Ordenanças do
Termo. E querendo providencia-lo melhor, representei pelo Secretário de Estado
dos Negócios do Império pelo expediente de 21 de maio de 1825 sobre a liberdade
com que alguns aqui falavam menos
respeitosamente a S.M. o Imperador, e falei genericamente, porque eu não
projetava denúncias, e menos vinganças. Finalmente, e há poucos meses publicava
o referido tenente coronel que a Bahia estava inquieta, e desgostada e que os
oficiais militares não queriam ir para o Sul, e entregarão as suas patentes, e
que haviam cartas disso; e eu tendo sabido o contrário do ajudante José Felix
Fernandes, vogal da Junta, disse mesmo em Junta ao dito tenente coronel que se
achava servindo de fiscal (e isto para o convencer, e prevenir tais ideias) que
a sua notícia não se verificava, e que o dito Vogal tinha recebido carta do seu
filho, aliás oficial militar que a destrói.
Isto quanto ao que respeita a causa pública. E quanto ao serviço da
administração, o superintendente acha-se servindo de fiscal vai em nove meses,
por ausência do ex-intendente, e ainda não fez uma só moção em Junta, ou fora
dela respectiva aos interesses nacionais, mas ao contrário tem uma, e muitas
vezes sido procurador com excedente acrimonia á cerca de negócios, e pretensões
de seu irmão Dr. Couto, e dos concunhados de suas filhas, e de amigos, como
Antônio Joaquim de Azevedo, querendo já um córrego inteiro de lavra para o seu
dito irmão; já saques de grandes letras a troco de bilhetes intempestivamente,
já entrega de outros contos de réis de bilhetes depositados na Caixa, sem se
entregar o recibo da mesma; e já pagamentos de grandes quantias sem exames, e
informações! E tudo por meio de gritos, de sorte que o primeiro caixa tem
chegado a dizer lhe alguma vez, que é escusado gritar, que ele é o responsável,
e não convém; o outro caixa disse lhe para o acomodar, que se juntassem todos
os seus irmãos e irmãos a pedir o dito córrego para contestar a pretensão; e eu
tenho-o advertido sempre – Senhor fiscal, mais moderação, mais termos e até de
uma vez, vendo-o tão inflamado disse-lhe – não atende a razão que todos lhe
estão expondo, e termos da Lei, dê o seu voto em separado, ou despache só o
requerimento, - mas como o seu forte são os gritos, quando se trata de dar o
voto, cale-se, o que não tem que dizer, nem assim a razão; e depois sai
comprometendo-me principalmente a mim, dizendo aos afilhados – que quero
servir, mas o intendente é sempre contra, e os mais vão com ele – Este homem,
que não ouve missa, não se confessa, que na Quinta Feira Santa não apareceu na
igreja, morando vizinha da mesma, e de tarde saiu para um banquete! Que mandando-lhe eu dizer pelo pedestre José
de Santa Ana, que ia por iluminaria no dia dos anos da sereníssima senhora
princesa imperial D. Maria da Glória, para que as pudesse também pôr; mandou
dizer, que tinha doentes! E não as pôs; como se o doente na cama, quando o
tivesse, sofresse o incomodo com luminárias nas janelas, o por tão augusto
objeto! Mas era isto em dias dedicados a outras esperanças! E que finalmente é
maior de 60 anos, e calejando no espírito de inquietação, e ultraliberalismo,
assim tem vivido , e assim há de morrer: este homem pois irritado por me achar
sempre de encontro em duas ditas opiniões, e pretensões, declarou-se meu
inimigo, e tendo razões de acreditar, que foi quem fez uma caluniadora , e
inepta diatribe contra mim que mandou publicar por segundas pessoas no Redator
Universal da I. Cidade Nº 96 e pelo menos as ideias, ali anunciadas de edital
com sonhadas penas a propriedade, tinham sido emitidas por ele em Junta, testemunhas
os vogais, e o escrivão da mesma; e o estilo lhe é tão próprio, que o coronel
José Ferreira Pacheco lhe disse a ele mesmo, que assim se acreditava; e assim o
contou ao Dr. Plácido da Silva Oliveira Rolim; e tendo-se por esta forma
tentado desacreditar a autoridade, logo que chegou aqui a dita folha,
publicaram-se pasquins, e proclamações de noite pelas esquinas; eu tive disso
uma vaga informação, e de que o dito tenente coronel era também suspeito de ser
cooperador de semelhantes, pois me disse o dito Dr. Plácido, que lhe tinha
ouvido dizer, que uns estavam bem, e outros malfeitos, e era fiscal, e não
pugnou pela execução da Lei! Acrescentando o dito Dr. – este homem sabe de
tudo, e sabe-o logo...dali é o mal...é perigoso, e tem sido sempre perigoso –
Digam-o Exmo. Senador Câmara, e Desembargador Luiz José Fernandes de Oliveira,
por não ir mais longe; e estarão no ministério as respectivas representações. –
E a imprudência, e o crime chegou ao arrojo de mandarem imprimir uma das
proclamações assinada debaixo do nome do amigo da ordem; mas o seu conteúdo, e
disfarçado fim é incendiário de sobejo; e a formula de proclamação bem
classifica o crime; e eu tenho a consciência tão tranquila, e pronto a subir
todo o juízo em tudo, e por tudo, que apresento a V. Exma o respectivo
Periódico Documento Nº Iº - Eu falo do perturbador da ordem, mas o bem que eu
tenho dito dos bons tijucanos é constante das minhas representações a S.M.I.
pela secretaria de Estado dos negócios do Império em 20 de setembro de 1825, outubro,
dito, e 27 de abril do ano corrente, que deixam bem desmentido, a que em
contrário se me atribui; e que provaria ser paga de ingratos, se fosse das
mãos, de quem eu ali falasse. – Quanto se diz de jogo, é uma partida de
volterete em minha casa com exclusão de todo outro; e com homens da mais
conhecida probidade, e avançada idade.
magem da Internet - R. Direita com vista do Macau
E quanto se menciona do redator
refere-se ao Desembargador Bernardo
Pereira do Vasconcelos, que é quem se diz que apoia semelhantes, de ressentido
por eu ter metido a ridículo a carta nº 2 que me foi remetida, pedindo votos
para deputado a favor do mesmo; e que é de uma sua irmã. – E finalmente a
palavra – Espião – que se me irroga tanta exaltação, conciliando-a com os
fatos, dará alguma ilustração, assim dos meus inimigos, como do motivo da
inimizade, que me fará aliás sobeja honra: e o reverendo vigário Sebastião José
de Almeida participou-me, que em um jantar em casa de S. Mr. Inspetor de
Milícias desta Comarca, o capitão comandante dos destacamentos da mesma
Bernardo da Silva Brandão fizera uma saúde dirigida para o padre Joaquim Gomes
de Carvalho, (intimo amigo do dito tenente coronel, e liberal como ele)
concebida nas palavras – viva o amigo da ordem – que este mais circunspecto
olhara para o Vigário, e não respondera. Que mais o padre Bernardino lhe levara
a proclamação, e que ele vigário a cortejara com uma em forma de concordata,
que em tempo de inimizade, que lhe teve o dito padre então suspenso por sua
Ex.cia aparecera contra ele vigário, e atribuindo a aquele; e que achando-a em
tudo conforme, e mostrando-a ao dito padre Bernardino então suspenso, lhe
dissera – então a letra é a mesma, ou não? Convém saber, que quando cheguei a
este lugar, achava-se o dito padre Joaquim suspenso por sua S. Ex.ª por causa
de ideal irreligiosas, como de negar a imortalidade d’alma; e soube
disfarçar-se para comigo, e infelizmente algumas pessoas, a quem ouvi aconteceu
serem da sua parcialidade, e informarem-me de sorte, que cede a passar uma
atestação, que foi seguida pelos mais da Junta, e conteúdo de que nada nos
constava contra a conduta do referido, que antes passava por boa; e com o que
se acreditou para com S. Ex.ª que lhe levantou a suspensão. A sua família
trata-me com toda a boa inteligência, e um seu tio respeitável eclesiástico
padre Manoel Antônio de Carvalho é um dos da minha companhia todas as quartas
feiras, e sábados. E no entanto ela a recompensa que me dá. O tempo mostrou-me,
que não era só irreligioso, mas ante político, e por fatalidade está lhe
cometida a educação da mocidade deste arraial por meio da aula de gramática
latina de que é mestre! Mas que havia de ser, este padre tinha acabado de fazer
uma justificação de serviços de seu falecido pai, Antônio Gomes de Carvalho,
aliás bem renumerados já com a reforma S. Mor de capitão de milícias, que era,
e que era, e que demais deixou seis outros filhos, e filhas, e não obstante
fazer-lhe eu grátis o que me tocou de custas, ingrato e ambicioso, e tendo de
ir, como já foi para essa cidade, julgou procurar-se um mecenas para o
andamento de suas pretensões declamando contra mim, e aplaudindo ao amigo o
desembargador Albuquerque, ex-intendente! O qual saberá aliás dar o verdadeiro
valor tais procedimentos. – O capitão João Batista Farnezi também me disse, que
o padre Bernardino andara pelas lojas, e vendas, lendo os folhetos, a ver se
indispunha a população: e ouvi ao mesmo vigário, homem benemérito, que o
referido padre dizia geralmente, e não recordo se também em particular na loja
do capitão Silvério Romão – que o seu gosto era cortar a cabeça de todos os
mandões, e pés de chumbo. Cumpre também saber, que este padre é um dos
capelães, que foram demitidos na reforma que propus, e que S.M.I. foi servido
aprovar. – A este tempo capitão comandante tinha-se declarado meu inimigo jurado,
segundo é já presente a V. Exª pelo meu ofício de 12 de abril p.p. e nas
portas do Quartel Militar apareciam os
mesmos pasquins com toda a impunidade; o que tudo animava as mãos a todo
excesso. O dito capitão comandante de inteligência com o dito tenente coronel
(e talvez algum outro do partido, como um padre Antônio Joaquim de Souza Mattos
já inquieto na Vila do Príncipe, e ora queixoso por sua família a vão pretextos
de lavras, e que também já foi suspenso por S. Exª e ainda está de pregar por
causa de seus erros; e que foi também uns dos poucos que não puseram luminárias
pelo nascimento do Augusto Herdeiro do Trono Imperial, pretenderam
atraiçoadamente fazer me desobedecer dos Pedestres, e fingir um motim; e
deforma: e o comprovam os documentos Nº 3 e 4 e do que também fui informado
pelo mesmo vigário, e de que o dito capitão comandante dissera na sua presença,
e do dito tenente coronel – eu quero ir a casa do ministro, e dizer-lhe, que
não posso com o povo, e que portanto se ausente, e dou-lhe uma escolta para o
acompanhar – e que o tenente coronel dizia – eu sinto muito, mas não lhe posso
dar remédio – ao que tudo respondera o vigário – pois metam se nisso, que ele
dá-lhes voz de presos da parte de S.M.I., eu já o conheço, e antes se deixará
morrer, do que aterrar-se e consentir em tal – O que tudo teve lugar alguns
dias antes dos insultos, e ameaças, que me fez o dito capitão comandante e que
representei a V. Exª e que ou por ser rompimento prematuro, ou porque
conhecerão, que conheceram, que a maior, e a mais são parte os não seguia, e por temerem a boa
inteligência em que eu estava com as mais autoridades, segundo também já levei ao conhecimento de V. Exª ema
representação do 21 de março p.p., fez falhar o projetado levante, que ainda
estava para verificar-se, e já se dava como feito na parte dito Nº 4 talvez
porque se esperasse de próximo, e o portador daquela ordem não pudesse saber em
tempo que o plano ficara sem efeito. – Convém saber, que o padre José da Silva
disse ao dito tenente coronel por esta ocasião – Senhor Vieira Couto, que é
isto, Vme. quer ser nosso intendente? E sobre o que arrazoaram longamente. Sim,
Exmo Senhor, a vingança contra o meu zelo pela causa pública, Observância da
Lei, o interesses da Fazenda Nacional assim com todos, como com os referidos
tenente coronel, e capitão comandante, o desejo de ambos em se vingarem, e
ambição daquele de servir de intendente no caso de ir avante o plano, visto ser
fiscal eleito, e para depois talvez dirigir representações populares apoiadas
com sua longa parentela, pedindo a conservação (segundo já interpus de balde, e
animosamente para se sustentar no comando do Regimento) e sabe Deus com que
transcendência, e o máximo por ter sido tudo em tempo de ausência de S. M. o
Imperador foram o principal móvel tais procedimentos; e o capitão comandante de
gênio fogoso, e pouco pensado deixava-se levar sem atingir o perigo, ou o
desejava. – Da minha parte julguei dever ouvir em parte ao dito S. Mr.
Comandante das Ordenanças do Termo, e ao coronel graduado de Milícias, Duarte
Henrique da Fonseca, ex-comandante do Regimento, por estar distante o coronel
efetivo, resolvendo de acordo, e afinal fingir ignorar tudo, e tudo sofrer,
cerco em que prudência venceria tudo; não havendo desta forma nada a temer de tão
más vontades, que faltavam dos apoios necessários, e em ordem a não os forçar
de receosos pela responsabilidade a empreenderem tudo faz, e nefaz: o resultado
justificou a resolução; porém não cessarão os arbítrios, e despotismos do
capitão comandante tantos, e de tanta espécie que fora infinito o enunciados, e
os ofícios nº 5, 6 e 7 darão a V. Ex.ª a
triste ideia do que tem sofrido o magistrado, o público, a Fazenda Nacional e a
lei. – E ainda não parou aqui o mal. O Exmo. Tenente general, de resultas da
primeira participação que lhe fiz respectiva ao capitão comandante respondeu
pronto, e acertadamente na forma do documento nº 8º mas a falta do oficial para
substituir aquele no momento; e a persuasão de que as suas ordens, e
repreensões seriam sobejar para afirmar o mal, porém quanto S.M. O Imperador, á
quem, eu lhe dizia, tinha representado, fosse servido deferir , como se fosse
do Imperial agrado, deixarão ainda ver novos atentado; como se não bastassem os
perpetrados; e como se ainda fossem pequenos golpes para o meu coração e para o
público, para a Lei e para o augusto soberano. – Nada porém era menos de
esperar depois que eu vi soldados réus com culpa formada em crimes nos quais até não tem aqui carta de
seguro, e cuja prisão se requisitou que convinha ao Serviço de S. M. O
Imperador, o que desatendeu, passarem afoitos afrontamentos a justiça, e o
sossego público. E o mais é, que não querendo o capitão comandante prender os
dois réus, que a legítima autoridade lhe declarou estarem com culpa formada, e
que uma era nada menos, que de vender os córregos Diamantinos aos garimpeiros a
três patacas por cabeça por semana, e o que foi descoberto em ocasião de
sumário a terceira pessoas: e o outro por impedir uma diligência do serviço
sobre parte contra o mesmo; pelo contrário julgou-se com razão, direito, e
autoridade para dar a voz de preso a um pedestre da parte do exmª general pela só razão de ter vindo dar-me
parte da presumida igual conveniência do dito segundo soldado, Anspeçada
comandante de uma guarda interior; e cujo pedestre eu tinha mandado esperar
neste quartel a ulterior resolução com o conhecimento de causa! O metendo-o no
calabouço, prisão militar, melhor aconselhado depois ao cabo de oito dias, o
mandou para a cadeia, fazendo assim este desgraçado preso a 33 dias sem culpa
formada, nem começada, e ainda a espera da resolução do exmª general, que não
pode se não desaprovar semelhantes a mal do cidadão, e da competente
autoridade, e do bem do serviço a cargo do dito pedestre, e interesses da
fazenda nacional no perdido respectivo ordenado, em que se lhe não pode por
ponto pela só razão de tão arbitrário procedimento. – Verdade é, que no mesmo
dia em que recebi o ofício de S.E. eu
expedi um pedestre com outro ofício, pedindo providências mais enérgica, pois
que só me restava, como lhe dizia, ver mandar desembainhar as espadas, e saciar
a vontade, caprichos, e vinganças! Mas não chegou a tempo, e não me enganei em
parte, pois foi na noite do dia 5 para 6 do corrente da meia noite para uma
hora, que homens perversos, e alienados perpetraram com indignação pública, o
que consta no documento n. 9º esbandalhar cinco janelas de vidraça das casas da minha residência, que são as
casas da intendência, propriedade do Estado, e depósito da vara da Justiça! E.
V. Ex.ª se dignará observar, que homens que praticam semelhantes fatos, quais
os que ficam representados, não só não tem respeito ao magistrado, mas nem
obediência a lei, nem temer ao augusto soberano! Nem tem fatos importantes, e
verídicos, que imputar a autoridade, pois aliás os interporiam legalmente, e
esperariam o justo deferimento segundo a Lei e a Constituição: mas por
fatalidade minha que tendo sido constante em um, e muitos ofícios dos capitães
comandantes a fazer guardar ao cidadão o asilo inviolável da sua casa, tantas
vezes violada, ou por eles, ou pelos seus soldados, segundo tem sido presente
ao exm.º general cuja conduta me tem ganhado o seu conceito; e a minha casa.
Aliás residência do magistrado público, é que me não serviu de asilo nas tristes horas do meu
pouco descanso. O tenente Antônio da Cunha Vale participou-me, que seu sobrinho
o alferes João Alves Ferreira Prado fora convidado para o referido atentado por
um cunhado do capitão comandante de nome João Ribeiro, e por um dos ditos
soldados Manoel José Pinto, e outros depois de embriagados a que o dito Ribeiro
também se queixava de não obter certa lavra.
Este homem tem sido muitas vezes criminoso já desde do tempo do Senador
Câmara quando intendente dos diamantes; tem de costume embriagar-se, e depois
de embriagado lhe dá para espancador; e tem escapado a justiça por erros dos
respectivos processos, como faltas de distribuição, e de corpo delito; e outras
vezes porque os oprimidos pelo temor, que tem, não se animam a queixar-se.
E acresce, que há pouco mais de mês, que
espancou, e insultou a um negociante Manoel José de Assunção, homem branco; e
não contente deu-lhe a voz de preso a ordem do dito capitão comandante seu
cunhado; e esse tempo chegou um soldado, e disse - para vm.cê espanca, e ainda em
cima, prende, pois também vai preso – e indo a presença do dito, foi o
negociante novo insultado a vista do mesmo comandante, que de mais o ameaçou de
o mandar meter na cadeia. E depois soltou-os, e mandou os embora, e usurpando
assim atos de jurisdição criminal e o mesmo é que nesse dia nem ao menos estava
com o Comando do Destacamento. Mas que há de ser, se este cunhado turbulento
sempre, e sempre embriagado (outro irmão acaba de ter baixa da 1ª linha pela
mesma razão, e pois que até caía pelas ruas) e até mal visto da família, é o
amigo, e companheiro do dito capitão comandante que outras vezes se acompanha
dos ditos soldados réus. O referido negociante ausentou-se das terras a
pretexto de ir buscar mais fazenda, mas verdadeiramente por envergonhado, e
para ir queixar-se ao general; pois que o Suppd.e é soldado miliciano, e me representou, nada
me requeria, para não se expor a novo ataque: e para não aumentar também as
provocações para comigo. Mas pediu uma certidão dos crimes, que aquele tinha
tido, e que se lhe mandou passar; o que
não deixaria de aumentar o azedume: concorrendo também o ter sido mandado
inteligenciar por meio do alferes comandante interino um dos ditos soldados,
para ver proceder a uma justificação crime contra o mesmo a requerimento de 3ª
pessoas; e já quando chegou o mesmo capitão comandante já tinha chegado, e
fosse também participar-lhe o que era tão somente premeditado laço para insulto
ao escrivão, o que ele desviou, dizendo que era o mesmo ter sido a inteligência
pelo comandante interino, ou pelo efetivo. A primeira testemunha, porém, aliás
referida, apareceu tão aterrada que nada disse, pelo que suspendi a
justificação, que não podia prosseguir desembaraçada em tais termos.
O dito padre José da Silva também me mandou
avisar pelo pedestre José de Santa Anna (parece, que informado por José Cândido
Leão) e antes do dito insulto, que eu me acautelasse pois que o mesmo cunhado
do dito capitão protestava vingar-se: e o tenente Antônio da Silva Ribeiro participou-me
que o dito cunhado saíra para fora com outros na madrugada do dia seguinte ao
insulto, a que induzia em geral suspeita; e ouço agora por via do mesmo padre
que um Francisco Mascarenhas (que tinha dito em casa do suplica do que daria a
vida pelo capitão testemunha Francisco Maria Alves de Menezes) também
acompanhara ao mesmo suplicado e voltara fingindo-se doente, e mandando chamar
cirurgião, e confessor, mas que aquele descobrira o artificio, e o confessor, o
vigário, se escusara, mandando-lhe dizer que sabia qual era a doença.
Este homem, consta ser um desertor desta
cidade, mas está com praça de miliciano, acha-se culpado por uns ferimentos por
meios de Querela, e é um homem sempre embriagado. E é também de notar, que o
capitão comandante estava fora, chegou no dia 4, na noite do dia 5 teve lugar
referido, e ouço que no dia 6 tornou a sair. Devo segurar, que a Administração
Diamantina tem marchado sem novidade, mas há mês, e meio, que eu sou distraído
ou com sumários, ou com representações, ocasionados por tais procedimentos que
me tem ocupado todo o tempo, e com uma fadiga de trabalho, e de espírito além
das medidas; e no entanto, e com um tal fiscal e sobre mil outras
inconvenientes (e o futuro será a minha maior justificação) espero dar boa conta
de mim; e que a próxima remessa não seja inferior a do ano passado, bem que
pudesse ser maior. A marcha da justiça também seguro a V. Exª se dignará
observar, que é necessário, que o Magistrado tenha alguma opinião pública para
poder ter-se mantido no meio de tais maquinações, e com um povo sobre maneira
impaciente em pretensões de lavras, que eu não tenho podido liberalizar-lhes,
como os meus antecessores, porque pouco ou nada haja que possa dar-se sem grave
prejuízo da Administração: respondo pois V. Ex.ª pelo atual sossego da
Demarcação, salvou tais insultos ocultos, e atraiçoados, e que não tem mais
transcendência porque o público tem mostrado geral indignação: mas quantas
outras testemunhas, e queixosos serão contidos, por aterrados, no uso de seus direitos,
e depoimentos, colidindo com semelhantes. E como cuidar na arrecadação da
Décima, Novos Impostos, e Direitos de Carnes, que quase tudo ficou para cobrar
do tempo do meu antecessor. Contudo eu farei quanto mais puder; e com mais
justa e benéfica informação de V. Ex.ª se dignará Sua Majestade O Imperador
mandar providenciar, como for do Imperial agrado, e por segundas pessoas em
ordem a desviar de mim ideias de parcialidade: e se os meus trabalhos, e não
merecidos desgostos merecerem alguma contemplação suplico respeitosamente a V.
Ex.ª se digne apresentados com a minha maior submissão ante os subidos degraus
do Trono Imperial. Deus guarde a V. Ex.ª muitos anos. Tejuco, 11 de maio de
1826 – III.me e Ex.me Snrs. Visconde de Caravellas. O
Intendente Geral Interino dos Diamantes – Caetano Ferráz Pinto.
Revista do Arquivo Público Mineiro, p. 111-120, Imp.Of. de Minas Gerais, Ouro Preto, 1898.
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