Total de visualizações de página

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Os famosos piquiniques com banda de música em Diamantina


Diamanlina—1906

     Em 1908. Edgard da Mata Machado residia em Diamantina, na rua São Francisco, em casa de sua avó paterna, D..Amélia Senhorinha Caldeira Brant da Mata Machado. Seu irmão mais velho, Dr. joão da Mata Machado (na intimidade Vavão) ocupava o cargo de promotor público da Comarca, sua única irmã Nenem (Maria da Glória) era então noiva de seu primo Otávio; seus outros irmãos Raul, Manoel e José residiam em Belo Horizonte.
     Nessa ocasião, alguns amigos de Edgard resolveram festejar o seu aniversário (19 de outubro), com um piquenique na Lapa do Cláudio, no bairro do Rio Grande. Desde das duas horas da tarde, começaram a descer a ladeira do Burgalhau, em direção ao Rio Grande diversas pessoas, previamente convidadas. No alto e na encosta da Lapa do e Cláudio, a banda de música do 3º Batalhão tocava seguidamente dobrados e valsas.









      Entre as pessoas presentes a esse piquenique, recordo-me das seguintes: João Edmundo. Ataliba Pires, Vicente Torres, João Felício, José de Sales Ferreira, Teodulo Leão. João Dias de Andrade, Nônô Tameirão (João Claudionor». Paulo Flecha, os irmãos Edmundo, Selino e Autenor Horta, Clinio Mata, Assis Moreira, Otávio Mata, Antonico Caixeiro (Antônio Casemiro de Almeida), Olga e JuJinha Leite, Maria Eugenia Horta, Eponina Mata, Julia Gome» Ribeiro, Petite Mata, Graziela Batista.Formaram-se diversos grupos na lapa e serranias adjacentes, ao lado de panelas, travessas e tabuleiros com
comedorias: pasteis, carajés, mangaritos, almôndegas, tutu de feijão, linguiça, carne estufada, arroz de forno, lambaris fritos—De bebidas: vinho, cerveja e limonada.
     A banda de música ia intercalando dobrados, polkas e valsas, principalmente um dobrado muito popular então, que os rapazes e moças acompanhavam, cantando :
Perereca . . . Perereca . . . Perereca . . .
Perereca é mulher do sapo . . .
Após um animado baile campestre, vários grupos se
assentaram nas .pedras e no chão.
—Ataliba, dizia o João Dias, a "Ideia Nova" está descambando para a violência.
— E "O Norte" então, respondeu o Ataliba, com as piadas do Rabisco?
Dois partidos políticos se degladiavam então: O sessenta e Nove, dirigido pelo senador Olímpio Mourão, com "O Norte"; o Quarenta e Cinco, chefiado pelo Dr. Pedro da Mata Machado, com a "Ideia Nova".
— Falta um ano para as eleições municipais, falou o Teodulo. Por enquanto as forças estão mais ou menos equilibradas.
—Eu acho que os Quarenta e Cinco vencerão, disse o Nônô Tameirão.
—Os Sessenta e Nove vão ganhar, protestou o Edmundo Horta.
— deixem a política de lado, atalhou o Assis Moreira.
Inventemos uma brincadeira.
— A Berlinda, falou Maria Eugenia Horta.
—Chicotinho está quente, disse Petite Mata.
—A Cabra Cega, exclamou Eponina Mata
—As adivinhas, lembrou Olga Leite.
—Charadas, falou Antonico Caxeiro.
—Nada disso. exclamou Vicente Torres. Vamos a coisa mais interessante: adivinhações. Começo eu. Vocês vão respondendo. Vamos lá Paulo Flecha: O que é que é?
Passa dentro d'agua e não molha?
Paulo pensou um pouco e respondeu;
—Sombra. . _
—Está certo. Agora Você, Otávio. O que é? O que é?
Cai em pé e corre deitado?
O Otávio pôs a mão na testa, pensando.
—Chuva! exclamou sua irmã Petite.
O João Felício tomou a palavra. Agora eu e Graziela:
—O que é? O que é? Tem cabeça e não é gente, tem
dente e não é dente?
Graziela respondeu logo:
—Essa é difícil. Não sei.
—Alho! exclamou Selino Horta.
—Muito bem, continuou João Felício.—Responda lá,
Antenor: o que é? o que é? Quanto mais se tira, maior fica?
—Buraco, respondeu o Antenor. Essa é fácil como «branco é, galinha o põe». ;
—Esta agora, continuou o João Felício. O que é? o que é? Por mais que se corte, fica do mesmo tamanho?
—Baralho, respondeu o Antenor.
—Ataliba, exclamou o Clinio Mata, o que é? O que é?
Enche uma casa e não enche uma mão?
—Botão, respondeu Ataliba.
— Outra agora: porque é que boi baba?
—Porque não sabe cuspir.
—Agora vou propor uma adivinhação, que vai pôr Vocês todos embatucados, exclamou o Teodulo Leão. Qual a diferença que há entre o forno e a sapataria?
Passou-se um minuto, passaram-se mais dois . . . Ninguém respondeu.
—Não sabem? continuou o Teodulo.—A diferença é esta: Na sapataria há sapatos, o forno assa patos.
—Passemos a outra coisa. Isto já está cacete, exclamou João Edmundo.
—Não se fez dinda um brinde ao Edgard, atalhou o José de Sena.
—E' verdade, exclamou o Selino Horta, Edgard, á sua saúde! Que esta data se repita, por longos anos!
Todos ergueram os copos gritando:
—Hip . . . Hip . . . Hurrah!
—Obrigado, meus amigos! atalhou o Edgard. Brindemos também João Edmundo que faz anos amanhã: vinte e oito. E' mais moço do que eu um dia!
Todos brindaram João Edmundo, que agradeceu.
A seguir Assis Moreira, que levara o violão, cantou a sua modinha predileta;
«Se não me amas, oh mulher! porque me prendes?
Edgard recitou a sua joia Estalactite. Antenor cantou um trecho da opera TOSCA, que era a sua paixão. José de Sena e Selino Horta dançaram o solo inglês. As moças fizeram roda, entoando cantigas populares:
.A dança da carochinha,
E' uma dança estrangulada,
Que põe os joelhos em terra,
E faz a gente ficar pasmada.
Maria sacode a saia,
Maria levanta os braços,
Maria, por ti eu morro,
Maria, me dá um abraço.
Constância, meu bem Constância,
Constância até morrer,
Um jardim com tantas flores,
Não sei qual vou escolher.
Nesta rua, nesta tem um bosque,
Que se chama, que se chama solidão.
Dentro d'ele, dentro d'ele mora um anjo,
Que roubou, que roubou meu coração.
Olha a rolinha, doce, doce.
Caiu no laço, doce, doce,
Embaraçou-se, doce, doce,
Tem dó de amor, doce, doce.
Põe aqui, põe aqui o teu pesinho.
Põe aqui, põe aqui bem junto ao meu.
Ao tirar, ao tirar o teu pesinho,
Um abraço, um abraço te darei.
Vem cá meu siriri,
As moças te chamam, Você não quer vir.
Afinal, ás seis horas da tarde, dissolveu-se o piquenique, começando todos a regressar para a cidade, pela Íngreme ladeira do Rio Grande, então toda esburacada. A banda de música subia também, tocando a linda valsa do maestro Paraguai “Saudades do Rio Vermelho”.
O Edgard ia recitando a sua canção predileta.
11 est tard,
Chaque porte est close.
Plus une lumière
Au balcon,
L'amgur veille
Au sommeil,
Partons! Partons!
Charmemte filie '
De Granade,
A mes accents
Reveille toi,
N'entends tú pas
La sérénade?
Partons! Partons 1
PARTONS ! PARTONS ! Quatro meses depois partia o malogrado poeta, para a viagem, da qual ninguém regressai.
Assim é a Vida
Tempos Ido, Ciro Arno, Voz de Diamantina, pág. 3, nº21, Diamantina-MG

Nenhum comentário: