Grupo de Estudos e Pesquisa em História
Econômica
SEMINÁRIO DE HISTÓRIA ECONÔMICA
20 DE MARÇO DE 2013
Estruturas e conjunturas da mineração de diamantes no século XIX em Minas Gerais
Marcos Lobato Martins (UNIFAL-MG)
Em 1798, tanto no Tijuco quanto na Vila do Príncipe, começou a ganhou força a
consciência dos inconvenientes da Administração Diamantina e do regime de monopólio régio na
extração de diamantes. Entre os habitantes da região, crescia o incômodo com a sujeição aos
interesses de intendentes e fiscais do diamante. Disso resultou um “manifesto do povo”,
endereçado a Lisboa, inspirado pelos irmãos Vieira Couto e pelo Pe. Belchior Pinheiro de
Oliveira, cujo propósito era derrubar o alvará de 2 de agosto de 1771 e obter a liberação das
lavras diamantinas.1 O manifesto, partindo do suposto de que o progresso da mineração é o motor
das atividades complementares a ela (a agropecuária e o comércio), criticava as proibições
decorrentes do regime de Real Extração e reivindicava, diretamente à Coroa, a mudança no
estatuto legal. O documento mostra que, naquele momento, a opção das elites locais foi a de se
submeter à ordem propondo uma nova ordem (SOUZA, 1993, p. 53), ao invés de optar pelos
motins tão comuns nas Minas Gerais.
A reação inicial de Lisboa foi dura: baixou novas repressões, promovendo o banimento de
centenas de pessoas do Distrito Diamantino. José Joaquim Vieira Couto, o “procurador do povo”
do Tijuco, foi preso em Lisboa. As elites locais, então, mudaram de estratégia. Formularam
novos documentos em que denunciavam o intendente e o fiscal como inimigos do Rei, adeptos da
1 Os documentos relativos à chamada “Conjuração do Tijuco” estão na Revista do Arquivo Público Mineiro, ano II,
p. 141-185.
2
Revolução Francesa e da República, além de homens avessos à religião. Sem tocar na questão do
regime de monopólio régio, os novos documentos tentavam mostrar que os administradores eram
contra o Rei. O Príncipe Regente Dom João mordeu a isca, enviou o governador da Capitania em
pessoa ao Tijuco, e o intendente, que cumpria à risca o Regimento Diamantino, caiu (SANTOS,
1978, p. 196-197). Em seguida, a Coroa editou o alvará de 13 de maio de 1803, abolindo o
sistema da Real Extração.
2 Um novo intendente é nomeado, Manoel Ferreira da Câmara
Bittencourt, homem nascido na Colônia, iniciando relações diferentes com as elites locais: ao
invés da obediência literal ao Regimento que caracterizou seu antecessor, a adoção de atitude
paternalista, de negociação dos instrumentos legais de que dispunha com os senhores do Tijuco,
de vistas grossas à ação de contrabandistas e garimpeiros.
O que esses episódios revelam é a enorme rede de interesses mercantis e políticos que se
constituiu ao redor das lavras, bem como a condição da extração de diamantes como núcleo
dinâmico da economia regional. Direta e indiretamente, os habitantes da antiga Demarcação
dependiam dos resultados dos serviços de mineração. Conforme as ideias do Intendente Câmara,
o diamante deveria ser extraído e negociado em um ambiente regido pela ordem monárquica,
pelo predomínio aristocrático e pelo desenvolvimento das artes úteis. Estas ideias, apresentadas
em painéis na comemoração da coroação de Dom João VI, encontraram profunda acolhida pela
maioria dos integrantes da elite do Tijuco no decorrer do século XIX (SANTOS, 1978, p. 235-
238). Essas ideias fornecem base segura para a reconstituição histórica da economia oitocentista
do diamante, tema ao qual é dedicado este texto. Começa-se com a análise da típica unidade
produtiva da economia regional: as lavras de diamante.
Os serviços de mineração e as lavras oitocentistas
Na região de Diamantina, as atividades de lavra abarcavam dois setores distintos, embora
articulados e mesmo interdependentes: a grande mineração e o garimpo. Foi justamente a grande
mineração que os viajantes estrangeiros conheceram, desde Eschwege (1979) e Saint-Hilaire
(1974), nos anos 1810, até Richard Burton (1977), nos anos 1870, passando por George Gardner
(1975) e Johann Jakob von Tschudi (2006), que percorreram a antiga Demarcação Diamantina
nos anos 1840 e 1850, respectivamente. Os relatos deixados por esses viajantes constituem fontes
importantes para a reconstituição da economia do diamante no século XIX.
2 Na verdade, o alvará de 13 de maio de 1803, embora publicado, nunca foi cumprido.
3
Todos os viajantes estrangeiros que visitaram a antiga Demarcação Diamantina no
decorrer do Oitocentos indicaram incisivamente o fato de que a mineração constituía o centro
dinâmico da economia regional. Foi isso que, no ano de 1841, George Gardner percebeu ao
conhecer a localidade de Mendanha, situada bem próxima de Diamantina, ao norte, sobre a qual
escreveu:
O Arraial de Mendanha pareceu-me florescente lugarejo, com uma população de cerca de
oitocentas pessoas e com quase todas as casas habitadas. O sítio da aldeia, conquanto
romântico, está longe de fértil; fica no fundo rochoso e desnudo de alta montanha, que
quase pende sobre ele, com pouco ou nenhum solo vizinho adequado a plantações de
qualquer espécie. A maioria da população ganha a vida empregando escravos na
mineração do diamante ou abrindo vendas para fornecer alimentos e roupas aos outros,
principalmente em troca de diamantes e ouro em pó: e, com efeito, se não fossem as minas
de diamantes existentes nas vizinhanças, nem uma só casa se teria erguido neste lugar
(GARDNER, 1975, p. 206).
Cerca de dez anos depois, o suíço Johann Jakob von Tschudi notou que a riqueza gerada
pelo diamante, além de azeitar a economia regional e as transações mercantis em Diamantina,
forjara hábitos entre as camadas abastadas da cidade, a exemplo das frequentes viagens para a
Corte. Conforme Tschudi, “quase todos os grandes comerciantes [de Diamantina] visitam a
capital do império pelo menos uma vez por ano para fazer compras. Retornam com quantias de
200, 300, até 700 contos de réis, fruto da venda de diamantes” (TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 103).
As frentes de lavra, dotadas de movimento aparentemente caótico, chamaram a atenção
dos viajantes estrangeiros. Gardner, ao se deslocar de Formigas (Montes Claros) para
Diamantina, fez questão de visitar as maiores explorações próximas ao seu itinerário. A poucos
quilômetros do atual distrito de Senador Mourão, ele esteve na Lavrinha. Esta área estava em
início de exploração e se tornaria, nas décadas seguintes, uma das principais concentrações de
catas de toda região. Sobre a Lavrinha, Gardner escreveu:
Chegamos a Lavrinha pelas cinco da tarde; e, conquanto o sol houvesse brilhado
fortemente durante a melhor parte da jornada, era tarde demais para tentarmos enxugar
qualquer das nossas coisas. Lavrinha, como já disse, é uma pequena lavra de ouro, só
estabelecida recentemente. As únicas construções da vizinhança eram uma pequena choça,
feita com umas poucas estacas e varas e coberta com palmas de buriti, onde dormia o
feitor e alguns galpões do mesmo material, para abrigar os escravos. (...) Pequeno rio, que
corre ali perto, mas só tem água na estação das chuvas, ofereceu alguns indícios de ouro,
que levaram certos fazendeiros, entre os quais o Coronel Versiani e o guarda-mor, a
constituir uma sociedade, seis meses antes da minha visita, com o fim de estabelecer uma
4
lavra. Para isto, mandaram cerca de quarenta escravos executar os trabalhos sob direção
da pessoa que primeiro descobriu o ouro, e que, em troca de seu trabalho, obteve certo
número de quotas da empresa (GARDNER, 1975, p. 200).
No trecho do relato de Gardner há que se destacar, em primeiro lugar, a rusticidade das
instalações do garimpo, que em tudo lembra um acampamento provisório, condição imposta tanto
pela itinerância quanto pela incerteza que caracterizavam a atividade. Em segundo lugar, a prática
de formar associações de mineradores para explorar jazidas promissoras, sociedades por quotas
que envolviam os homens de cabedais da região, acostumados ou não à mineração. O citado
Coronel Versiani, por exemplo, era grande fazendeiro instalado nas imediações da atual Bocaiúva
que, pela primeira vez, metia-se em uma empreitada de garimpo. Na verdade, era fato comum na
região os donos de grandes lavras exercerem simultaneamente outros afazeres, na agricultura e no
comércio.3 O próprio Gardner conheceu outro desses homens, o Capitão José de Almeida e Silva,
na lavra da Areia, situada na margem do Jequitinhonha, a jusante do arraial de Mendanha. A
respeito dessa lavra, o viajante inglês escreveu:
Alegrei-me depois por termos sido obrigados a demorar-nos aqui, porque isso me
forneceu oportunidade de presenciar as operações em uma das maiores minas de
diamantes, se não a maior, então em funcionamento neste distrito. A principal casa deste
lugar pertencia ao Capitão José de Almeida e Silva, que era também o proprietário da
mina. (...) Cerca de uma hora depois de nossa chegada veio de uma das suas fazendas uma
tropa de mulas com provisões para os escravos (...). A mina do Capitão Almeida era perto
do Rio Jequitinhonha, num cotovelo de terra que outrora deve ter formado o leito do rio.
Uma mina da vizinhança tinha sido trabalhada pelo governo havia cerca de quarenta anos
e produzira, no decurso de três anos, nada menos de 27 lbs. e seis drs. de diamantes.
Tendo-se exaurido no fim deste tempo a formação, como lhe chamam, abandonou-se a
mina. Na expectativa de igual boa sorte, iniciou o Capitão Almeida as operações perto do
mesmo lugar, cerca de seis meses antes da minha visita, com mais de cento e cinquenta
escravos, todos alugados de seus vizinhos. Com dispêndio de cerca de mil libras
esterlinas, trouxe de uma distância de légua e meia uma pequena corrente de água, fez
grande escavação e levantou bombas movidas por uma roda d’água para extrair a água da
mina. Praticou-se escavação até a profundidade de trinta pés sem encontrar nenhuma
formação de diamante propriamente dita, embora ao ser lavado produzisse pequeno
número de pedras de não grande valor (GARDNER, 1975, p.203-204).
Observe-se que na Lavrinha e na Areia, os serviços de mineração empregavam mão de
obra escrava em grande quantidade. No caso da lavra da Areia, o relato de Gardner explicita
3 O estudo de Flávia Maria da Mata Reis (2008), referente às unidades mineradoras setecentistas da região de
Mariana e Ouro Preto, indica como característica mais marcante delas a produção diversificada, a mineração
realizada paralelamente a outras atividades, especialmente a agropecuária.
5
outra prática comum na área de Diamantina, em meados do século XIX, uma permanência dos
tempos do Contrato e da Real Extração: o aluguel de escravos para os trabalhos de mineração.
Observe-se também que as grandes lavras representavam empreendimentos custosos, que
implicavam gastos em construção de canais, desvios de rios, aquisição de ferramentas e
equipamentos. Gastos fora do alcance da maioria dos garimpeiros da região. No garimpo de
diamantes, verificou-se o mesmo que os estudiosos da extração aurífera notaram, a saber:
Ocorre que o maquinário hidráulico vai selecionar os mineradores, pois nem todos os
proprietários de minas podem ser mineiros de ‘roda’. Neste sentido, para o pequeno
minerador, até possuir escravos passa a ser dispendioso, capital imobilizado do qual foi
mais oportuno desvencilhar-se (MARTINS, 1984, p. 192).
O que suíço Tschudi conheceu da mineração de diamantes deve-se a sua visita à lavra de
São João do Barro, em 1858. Trata-se de uma lavra típica do que, na região, se chamava de
“diamante de massa”, isto é, jazida situada em terreno de serra que se explorava por meio do
desmanche de barrancos. Ele esteve lá na companhia de Serafim José de Menezes (futuro Barão
de Araçuaí, o homem mais rico de Diamantina), Francisco José de Almeida e Silva (grande
“diamantário” e proprietário de lavras no Ribeirão do Inferno) e Rodrigo de Sousa Reis, também
“diamantário” e dono da Lavra do Barro.4 O viajante encontrou uma sociedade organizada para
explorar 21.770 braças quadradas de terra, que tocava uma lavra que fornecia pedras muito boas,
da mais pura água, e com muito pouco refugo (TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 131). Esta lavra era um
buraco enorme, com 60 pés de profundidade (cerca de 18m). Nela estavam ocupados 120 negros.
Os donos da lavra pagavam, por semana, 4 mil-réis por escravo alugado. Além disso, eram
obrigados a fornecer-lhes alimentação e, em caso de doença, assistência médica aos cativos, ao
passo que os donos dos escravos davam apenas as roupas (TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 132).
Durante as poucas horas em que esteve na Lavra do Barro, o viajante presenciou a extração de
cerca de 30 quilates de diamante. Segundo relato de seus acompanhantes, na época da lavagem,
durante os meses da chuva, eram achados diariamente entre 35 e 70 quilates, que perfaziam, em
média, 100, 200, até 220 diamantes; desse modo, durante toda a estação, a lavra fornecia, no
máximo, quatro mil quilates de diamantes (TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 128-131).
4
“Diamantário” é o nome regional para os comerciantes de diamantes, que compram diretamente dos mineradores as
partidas de gemas e as revendem para as praças do Rio de Janeiro e da Europa.
6
Tschudi foi informado que, nas grandes lavras da região, o ouro era subproduto.
Subproduto bem-vindo porque pagava pelo menos a alimentação dos escravos empregados
(TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 155). Ainda conforme o viajante, os custos de produção das grandes
lavras estavam subindo. No início dos anos 1850, a produção de uma oitava5
de diamante custava
em média 200 mil-réis. Mas, em 1858, o custo estaria, comparativamente, cerca de 10% mais alto
(TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 134). Dois fatores concorreram para a elevação do custo de produção
das grandes lavras: o encarecimento da mão de obra escrava em razão da Lei Eusébio de Queiróz
que aboliu o tráfico negreiro, e a maior dificuldade de exploração do diamante de “massa”, que,
então, era o tipo mais comum das novas descobertas no distrito de São João da Chapada.
6
Por isso, o viajante deu crédito à queixa – sem dúvida, exagerada – dos grandes
mineradores a propósito da rentabilidade baixa dos grandes serviços de lavra. Nas palavras de
Tschudi (2006, v. 2, p. 132):
Os donos da lavra de São João, assim como a maioria dos proprietários de lavras, não
consideram que o negócio de diamantes seja muito lucrativo. O custo da operação é muito
alto. (...) Os produtores têm que se contentar com um lucro pequeno enquanto veem os
comerciantes, que são os intermediários do produto, se enriquecerem.
A documentação cartorária de Diamantina corrobora as descrições das maiores lavras
deixadas pelos viajantes estrangeiros. Apresentam-se aqui somente alguns exemplos, começando
pelos registros existentes nos Livros de Notas.
Em 2 de dezembro de 1864, Bernardino Fernandes da Silva vendeu o serviço de
mineração que tinha na Lavra do Barro, no lote concedido a Dona Maria Antônia de Amorim, ao
minerador João Fernandes da Costa Pereira Carreira pela quantia de dois contos de réis.7 A lavra,
situada no descoberto de São João, possuía uma casa coberta de telha, pequeno curral, moinho,
pasto, roças de mandioca, cana e milho, um canal de água da serra e cava com profundidade de
oito metros. Dez anos depois, João da Mata Machado comprou, em 26 de fevereiro de 1874, a
Lavra do Baú que pertencia a Cassiano Feliz Ferreira. Essa lavra, no subúrbio de Diamantina,
tinha dois lotes de terrenos diamantinos localizados no Córrego do Baú, um medindo seis mil
braças quadradas, e o outro, mil braças quadradas. Havia ainda uma casa coberta de capim, com
5 A oitava representa 17,5 quilates de diamante; o quilate, por sua vez, é equivalente a 200mg de pedras preciosas.
6 Na página 134 de seu relato, Tschudi informa que o negro escravo custava, em média, 1:200$000 rs na região de
Diamantina. Já a expressão diamante de “massa” indica os depósitos de gemas encontrados longe dos cursos d’água,
em morros que precisavam ser desmontados com água para se alcançar o cascalho diamantífero.
7 BAT. Escritura de venda de lavra, Livro de Notas n. 14, Cartório do 1º Ofício, 1864, maço 41, fls. 11-12v.
7
chácara e água.8 No ano de 1924, em 20 de novembro o Major Jucundino Pio Fernandes e seus
familiares passaram escritura de venda de uma lavra no Guinda à empresa Duarte & Irmão, pela
quantia de 60 contos de réis.9 A referida lavra compreendia doze lotes de terrenos diamantinos
situados nos córregos do Guinda e do Brumadinho, bem como três casas de morada cobertas de
telhas, pátio, quintal e terras adjacentes, seis ranchos cobertos de capim, moinho, aguadas, terras
de cultura e pasto. Os terrenos diamantinos foram transferidos por 57 contos, enquanto as casas,
moinho e terras agrícolas por 3 contos, tudo pago em moeda corrente.
TABELA 1 – Bens na Lavra da Perpétua (Diamantina, 1872)
Tipo de bens Discriminação dos bens
Imóveis e terras 1 casa coberta de telhas com rancharia
1 casa de capim
1 moinho de capim
1 moinho muito bom
1 pasto fechado por valas
3 áreas de mato
Animais 13 porcos com 2 capados
4 bestas
7 bestas de cargas
1 cavalo
1 burro de sela
5 burros de carga
10 cabeças de gado
Instrumentos de mineração 1 ferro de sondar
2 marrões
2 peneirões de ferro
1 bomba para cisterna
30 alavancas
12 marretas
8 brocas
2 cargas de carumbés
1 serra braçal grande
1 torno de ferro
Equipamentos de mineração 2 rodas de mineração
3 balanças para pesar diamantes
2 balanças grandes para arrobas
2 macacos
2 macacos para tombar pedras
1 máquina de cauda a vapor e seus pertences
Fonte: BAT. Inventário de Rodrigo de Souza Reis, Cartório do 2º Ofício, 1872, maço 286.
8 BAT. Escritura de venda de lotes diamantinos, Livro de Notas n. 6, Cartório do 3º Ofício, 1874, maço 162, fls. 6-8.
9 BAT. Escritura de venda e cessão de casas e lotes diamantinos, Livro de Notas n. 41, Cartório do 1º Ofício, 1924,
maço 498, fls. 56-69.
8
Os inventários também permitem ter ideia das maiores lavras da região de Diamantina. O
minerador Martinho Alves Chaves, cujo inventário é de 1808, possuía 24 escravos, dois sobrados
no arraial do Tijuco, a lavra de ouro dos Cristais – com casa de vivenda, senzala e rego d’água –,
a lavra de Sentinela com rancho de capim e um capão de matos sem qualquer cultivo.10 A lavra
da Perpétua, com 20 mil braças quadradas, de propriedade do citado Rodrigo de Souza Reis,
ficava dentro de pequena fazenda a poucos quilômetros da cidade. Nela havia, conforme o
inventário do minerador, datado de 1872, os seguintes bens:
Os dados existentes no inventário de Rodrigo de Souza Reis não deixam dúvida de que,
na Lavra da Perpétua, a mineração aparecia combinada com a produção agropecuária, certamente
voltada para garantir parte do abastecimento dos trabalhadores cativos da lavra. Também havia
uma pequena tropa de muares, presumivelmente utilizada para trazer da cidade mantimentos e
suprimentos de mineração (ferro, pregos, parafusos, vergas de aço, tábuas para bicame, etc.).
De dimensões mais modestas, a Lavra das Almas pertencente ao Tenente Coronel
Alexandre Gomes da Silva Chaves, produziu mais ouro do que diamante. Ficava situada em São
Miguel e Almas, no município do Serro, e contava, em 1878, com terras de cultura, campos de
criar, casa de capim e casa de moinho.11 Nela não havia roda de minerar nem instalações como
bicame, tenda de ferreiro ou rancharia. Já a Lavra dos Caldeirões, de propriedade do Comendador
Serafim Moreira da Silva, possuía, em 1897, tenda de ferreiro, casa de serrar, uma roda de
mineração, bicame, dois macacos de tombar pedras, uma casa coberta de telhas e uma antiga
senzala.12 A lista dos instrumentos de mineração do inventário enumera: 35 quilos de aço em
brocas, 3 dúzias de tábuas de 8 a 16 palmos, 1 ferro de sondar com 30 palmos de comprimento,
10 alavancas, 8 marretas, 2 cunhas, 2 picaretas, 3 foices, 2 machados, 2 almocafres, 4 peneiras, 9
bateias, 14 bateias de baco e 20 carumbés. Nessa lavra não existia atividade agropecuária.
Na virada do século XIX para o XX, Jerônimo Baracho tinha na mineração no Ribeirão
do Inferno a base de sua fortuna. Conforme as memórias de uma de suas filhas (RAMOS, 1997),
ele mantinha várias lavras em suas próprias terras: Dumbá, Pombeiro, Mutuca, ricas em ouro e
diamante. Nelas, os mineradores usavam geralmente bateias, em um tipo de mineração mais
simples, sem o auxílio mecânico de aparelhagem mais poderosa, descrito pela memorialista como
segue:
10 BAT. Inventário de Martinho Alves Chaves, Cartório do 1º Ofício, 1808, maço 53.
11 BAT. Inventário de Alexandre Gomes da Silva Chaves, Cartório do 1º Ofício, 1878, maço 8, fl. 164v.
12 BAT. Inventário do Comendador Serafim Moreira da Silva, Cartório do 2º Ofício, 1897, maço 231.
9
Apenas enxadas para ir afastando a “piruruca” até encontrar terreno firme e próprio.
Afastavam o rio por meio de tapumes com vigas, escoras e enchimento de folhas e capim,
até fazer o rio ir recuando para um leito provisório. O leito a descoberto é secado com
carumbés, bateias e barris; fazem então a cata que pode ser boa ou má e até nem
compensando o trabalho dos faiscadores (RAMOS, 1997, p. 78).
Na fazenda de Jerônimo Baracho, havia pomar, culturas de milho, cana de açúcar e
mandioca, criação de gado e rancho para descanso das tropas e viajantes (RAMOS, 1997, p. 20-
21). Havia também quatro lotes de bestas escolhidas – que formavam uma tropa de 48 muares
ricamente ajaezados –, cavalos de sela, muitas cabeças de gado curraleiro e meio-sangue, zebus,
nelores, bois de carro e criação de porcos. “Os trabalhos, na roça e nos currais, eram executados
por seis a oito peões. (...) O leite era levado à cidade [Diamantina], em latões, um de cada lado
dos burros, que transportavam também frutas, ovos, verduras e capoeiras de galinhas”
(RAMOS, 1997, p. 25). Em Diamantina, Jerônimo Baracho possuía comércio de atacado. O ramo
era farinha de trigo, querosene e sal, trazidos por sua tropa da cidade do Rio de Janeiro. Ele atuou
também na compra e venda de sementes de mamona para a capital do país, cujo óleo, naquela
época, começava a ser empregado na incipiente aviação (RAMOS, 1997, p. 33-35).
Sobre os garimpeiros, Tschudi limitou-se a dizer que eles eram pessoas pobres que
procuravam diamantes por meios simples e, em geral, apenas com a ajuda de seus familiares e
amigos (TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 127). Sua descrição do garimpeiro é carregada de indisfarçável
preconceito:
Em geral, os garimpeiros levam uma vida muito pobre e trabalham bastante para obter
uma produção bem pequena. Às vezes, um ou outro tem sorte e encontra uma pedra
grande, que compensa plenamente os esforços de muitos anos. Esses casos, porém, são
raros. Durante o tempo de paralisação do garimpo, vivem de forma miserável junto com
os seus.
Na verdade, as turmas de garimpeiros atuaram em toda região da antiga Demarcação
Diamantina, mobilizando milhares de homens em trabalhos manuais pesados e penosos. Por um
lado, os garimpeiros foram historicamente responsáveis pelos maiores achados de diamante. Por
outro lado, a produção dos garimpeiros, embora dispersa e fragmentada, sempre respondeu por
expressiva parcela do volume total dos diamantes extraídos na região (MARTINS, 1997).
10
Os pequenos mineradores, divididos entre garimpeiros e faiscadores, podem ser
razoavelmente conhecidos por meio das informações das listas nominativas. Conforme a lista
nominativa de 20 de julho de 1832, para o distrito de Santo Antônio do Tijuco, do termo da Vila
do Príncipe, entre os garimpeiros havia homens brancos, pardos, crioulos e africanos. Os
faiscadores eram predominantemente homens de cor, muitos dos quais pardos forros. Uma
família típica de garimpeiros era a de Antônio e Manoel da Silva. Na casa de Antônio, 70 anos de
idade, africano, casado e forro, moravam mais três mineradores – dois escravos africanos e um
africano forro. Na casa vizinha de Manoel da Silva (provável filho de Antônio), 37 anos de idade,
crioulo, moravam outros três mineradores – Francisco, 14 anos de idade, crioulo, forro, e dois
escravos.13 Família mais curiosa de garimpeiros foi formada por Jacinto e Luiz de Pinho. Na casa
de Jacinto, africano, 50 anos de idade, casado, forro, moravam três escravos africanos
mineradores; na residência vizinha, Luiz de Pinho, africano, 40 anos de idade, forro, vivia com
sua mulher e três escravos, dois deles mineradores.14 O quadro seguinte apresenta informações
sobre alguns homens que viviam de pequenos serviços de lavras, isto é, garimpeiros:
15
Em meados do século XIX, para enfrentar as obrigações impostas pela legislação
minerária e contornar as dificuldades de acesso a lotes de terras minerais, os garimpeiros
frequentemente constituíram sociedades. Associações marcadamente informais, que operaram
ancoradas nos valores, técnicas e práticas tradicionais da mineração regional, resultantes de
acordos verbais entre amigos e familiares, poucas vezes registradas nos órgãos oficiais. Exemplo
de rara associação de garimpeiros formalizada diante do Estado aparece no documento abaixo,
datado de 1o
de março de 1869, referente à exploração do Córrego do Bernardino, no Serro:
Sociedade que entre si fazem Paulo Fernandes Leão, Pedro Barreto Lima, Torquato
Pinheiro das Neves, Antônio Raimundo da Costa e Marcelino José de Azevedo. Neste ato
concordaram (...) de formarem entre si uma sociedade pela maneira seguinte. Que tendo
os três primeiros seis mil braças de terreno diamantino no Córrego do Bernardino, e os
dois últimos outro lote no mesmo córrego (...), cuja sociedade é fundada nos seguintes
quesitos: 1o
) Que os três primeiros sócios não poderão empregar na lavra mais do que o
número de 6 trabalhadores para cada um dos 3 sócios excetuando suas pessoas, e os 2
segundos sócios Antônio Raimundo e Marcelino poderão empregar nove trabalhadores
cada um além de suas pessoas; 2o
) Que observarão restritivamente a cláusula de que
nenhum deles sócios poderão facultar a lavra a agregado algum; 3o
) Que respeitarão os
13 Lista nominativa de 20 de julho de 1832, distrito de Santo Antônio do Tijuco, Termo da Vila do Príncipe.
Disponível no site do NPHED/CEDEPLAR/UFMG. Acesso em 15 de fevereiro de 2013.
14 Lista nominativa de 20 de julho de 1832, distrito de Santo Antônio do Tijuco.
15 Conforme a tradição garimpeira regional, as menores turmas de garimpeiros eram constituídas por 4 a 6
mineradores.
11
serviços uns dos outros, não estorvando-os de forma alguma; 4o
) Que qualquer um dos
sócios que não observar este contrato religiosamente pagará de multa a quantia de
100$000 que será repartida entre os outros sócios, cuja multa será verificada todas as
vezes que houver infração do presente contrato, o que tudo foi aceito pelos sócios; 5o
) Que
qualquer um dos sócios que quiser vender o direito que tem na lavra, o poderá fazer,
dando preferência aos outros sócios, e no caso de que estes não queiram comprar, poderá
vender a qualquer estranho de combinação com os outros sócios. E de como assim se
concordaram, e se sujeitaram mandar o Delegado lavrar o presente termo.16
QUADRO 1 – Garimpeiros do distrito de Santo Antônio do Tijuco (1832)
Nome do chefe do fogo Idade Cor Condição Outros moradores
Miguel Antônio da Silva 36 branco casado 16 escravos (10 mineiros)
Nuno Daniel Smith 66 branco casado 4 escravos
Manoel Machado da Silva 40 branco casado 5 escravos
Pedro Antônio Meireles 35 branco casado 4 escravos
José Gomes 40 branco viúvo 3 escravos
Amandio Ferreira de Aguiar 27 branco solteiro 6 escravos
Boaventura Palmeira 30 branco solteiro Bento, livre, 16 anos
2 escravos
Joaquim José Trindade 70 preto viúvo e forro 3 escravos
Joaquim da Mata 60 preto casado e forro 3 escravos
José Nunes 60 preto casado e forro 4 escravos africanos
Bento de Araújo 40 cabra casado e forro 4 escravos
Antônio Maria Versiane 68 preto viúvo e forro 5 escravos
Caetano dos Santos 40 preto casado e forro 3 escravos africanos
José Nunes de Santana 60 pardo casado e forro 6 escravos africanos
José Fernandes 60 pardo forro 3 escravos
Manoel José de Araújo 36 pardo solteiro e forro 5 escravos
Manoel dos Reis 65 pardo solteiro e forro 3 escravos
Jacinto Luiz 57 pardo casado e forro 3 pardos forros
4 escravos
José Guedes da Silva 48 pardo casado e forro 4 pardos forros
2 escravos
Fonte: Lista Nominativa de 20/07/1832 do distrito de Santo Antônio do Tijuco.
Outro exemplo de sociedade de garimpeiros, embora não formalizada na Administração
Geral dos Terrenos Diamantinos, é fornecido por Venâncio Ribeiro Mourão e Denis Moreira dos
Santos. Em 31 de outubro de 1874, Venâncio Mourão, possuidor de um lote de terrenos
diamantinos contando seis mil braças quadradas no Ribeirão do Inferno, vendeu um lance de
serviço a Denis Santos, pela quantia de dois contos de réis.17 A transação foi paga à vista em
moeda corrente. Ao vendedor e a seus filhos ficou o direito de explorar a lavra vendida com vinte
16 APM. TD-08, fls. 125v-126v.
17 BAT. Escritura de venda de um lance de mineração, Livro de Notas n. 7, Cartório do 3° Ofício, 1874, maço 162,
fls. 50v-52.
12
praças vivas, não sujeitas à condição alguma, lado a lado com Denis Moreira dos Santos, de
modo que passaram a formar uma sociedade de mineração. Arranjos desse tipo, no limiar da
completa informalidade, existiram no decorrer dos séculos XIX e XX entre os garimpeiros de
Diamantina.
Também não eram incomuns os acordos firmados entre grandes mineradores e
garimpeiros, visando maximizar a exploração de jazidas que passavam ao controle dos primeiros
com a colaboração temporária dos últimos. Disso têm-se exemplo no contrato celebrado entre o
Comendador Serafim Moreira da Silva e o garimpeiro Antônio Nonato de Campos, em 2 de maio
de 1893.18 Diz o documento:
Eu abaixo assinado, arrendatário de um lote de terreno diamantino, sito no Rio Pinheiros,
contendo nove mil e tantas braças, no lugar denominado Curral, cujo lote vendi a meu pai
Raymundo Nonato de Campos, e ainda não lhe fiz transferência, mas tendo o referido meu
pai contratado com o Senhor Comendador Serafim Moreira da Silva para este senhor
explorar o mesmo lote, com a condição de dar a meu pai em seu mapa três serviços
diários, depois de extraídas as despesas do trabalho e alimentação do pessoal que for
necessário empregar-se, e dos lucros verificados dividir-se pelo número de serviços
existentes, só cabendo a meu pai a parte relativa aos três serviços diários, e se por acaso o
serviço der prejuízo não ficará o dito meu pai sujeito a despesa alguma, correndo toda
exclusivamente por conta do Senhor Comendador, e nestes termos e para garantir mandei
passar o presente.
O que mostra o acordo entre o Comendador e o garimpeiro a propósito da lavra conhecida
como Poção do Moreira? Pequenos mineradores, quando enfrentavam falta de recursos,
costumavam usar o expediente de associar-se a um grande minerador, na condição de sócio
menor, para assim explorar os lotes diamantinos. Para o grande minerador, o negócio valia a pena
porque, de um lado, aumentava os lucros potenciais de seus serviços de mineração e, de outro
lado, evitava os demorados trâmites na Administração Geral dos Terrenos Diamantinos
necessários para a obtenção formal dos direitos minerários.
Os numerosos faiscadores, indivíduos que trabalhavam isolados na cata de diamantes,
exploravam locais anteriormente minerados ou terras distantes e de difícil acesso. Muitas vezes,
“capangueiros”, comerciantes e donos de lavras ajudavam os faiscadores em suas despesas, em
troca de participação na produção obtida e da preferência na compra dos diamantes. Dessa forma,
como no caso das turmas de garimpeiros, também havia relações de complementaridade entre os
18 BAT. Registro de contrato, Livro de Notas n. 22, Cartório do 1º Ofício, 1893, maço 43, fls. 3v-4.
13
faiscadores e os maiores agentes dos negócios de diamantes.19 O quadro seguinte fornece
exemplos de faiscadores registrados na lista nominativa de 1832 do distrito de Santo Antônio do
Tijuco:
QUADRO 2 – Faiscadores do distrito de Santo Antônio do Tijuco (1832)
Nome do chefe do fogo Idade Cor Condição Outros moradores
Antônio de Oliveira 43 branco casado -
Bento de Oliveira Coimbra 27 branco casado 2 escravos
Manoel Pereira Andrade 23 branco solteiro -
Teodósio José Barbosa 50 crioulo casado e forro -
Manoel Pereira 60 cabra casado e forro -
Claudiano Francisco Nunes 30 crioulo solteiro forro 2 escravos
Agostinho José da Silva 40 pardo casado e forro 2 escravos
Manoel Cardoso 48 pardo forro Joaquim e Pedro, africanos forros
Antônio Machado 50 pardo casado e forro 1 escravo africano
José dos Santos 50 preto casado e forro Marcelino, filho, crioulo, 20 anos
Jacinto Pereira 50 cabra solteiro e forro -
Fonte: Lista Nominativa de 20/07/1832 do distrito de Santo Antônio do Tijuco.
Os trabalhadores das lavras e as técnicas da mineração oitocentista
Até a abolição da escravatura, os maiores serviços de mineração no município de
Diamantina empregaram numerosa escravaria. Nas grandes lavras, além dos feitores, era comum
encontrar outros homens livres empregados, uma vez que alguns lances de serviço de mineração
costumavam ser entregues a turmas de garimpeiros. Assim, por exemplo, em 1832 Bernardo
Inocêncio Álvares tocava serviço de mineração com 13 trabalhadores escravos, 7 trabalhadores
forros e dois feitores: João Pinto, branco, 32 anos de idade, solteiro, e Miguel Fernandes, 24 anos,
pardo, forro.20 Francisco Gomes de Oliveira, outro minerador branco, casado, de 57 anos de
idade, vivia de suas lavras que explorava com 14 escravos e mais 4 homens brancos.21 Nas catas
dos garimpos, o mais comum era a presença de trabalhadores livres; todavia, não se pode
esquecer que alguns garimpeiros possuíam pequena escravaria. A prática da faiscagem, no
decorrer do século XIX, envolvia tanto homens livres pobres como escravos que arriscavam a
sorte nos aluviões com a aquiescência dos seus proprietários. Nesse aspecto, o do trabalho nas
19 Para discussão mais detalhada das interações entre grandes mineradores e faiscadores, ver José Martins Catharino
(1986), Cláudio Scliar (1996) e Marcos Lobato Martins (1997).
20 Lista nominativa de 20/07/1832 do distrito de Santo Antônio do Tijuco.
21 Lista nominativa de 20/07/1832 do distrito de Santo Antônio do Tijuco.
14
lavras diamantinas, há mais continuidade do que ruptura em relação à situação vigente no século
XVIII.
O Tenente Coronel Alexandre Gomes da Silva Chaves, grande minerador anteriormente
citado, residente na Diamantina, paróquia de Santo Antônio, apresentou, em 14 de setembro de
1872, a relação dos escravos que possuía. Sua escravaria somava 21 cativos, dos quais 12 eram
homens e 9 mulheres. Dos doze escravos, 5 eram africanos – todos com mais de 40 anos de
idade; os brasileiros eram 7, com idades que variavam de 18 a 48 anos, sendo apenas 2 naturais
de Diamantina. Nessa escravaria, 10 cativos eram mineradores, 1 sapateiro e 1 ferreiro.22 Muito
maior era a escravaria de Rodrigo de Souza Reis, talvez o principal minerador diamantinense
dessa época. Seu inventário, de 1872, registrou um total de 72 escravos: 67 homens (93,1%) e 5
mulheres (6,9%). Entre os 67 escravos de Rodrigo de Souza Reis, 3 estavam velhos demais para
trabalhar, os mineiros somavam 58 (86,6%), os ferreiros eram 2 (3,0%), os cozinheiros eram 2
(3,0%), e havia apenas 1 carpinteiro (1,5%) e 1 roceiro (1,5%).23 As origens e idades desses
escravos são indicadas na tabela abaixo:
TABELA 2 – Origens e idades dos escravos de Rodrigo de Souza Reis
Origem Idade (anos)
Menos de 20 20 a 50 Mais de 50
Africano - 8 7
Crioulo/ Cabra 6 46 -
Fonte: Inventário de Rodrigo de Souza Reis. BAT, Cartório do 2º Ofício, maço 286.
De passagem, vale assinalar que, como mostra o inventário de Rodrigo de Souza Reis,
esse senhor também alugava escravos em lavras do Tenente Coronel José Ferreira de Andrade
Brant, do Comendador Serafim Moreira da Silva e do Capitão Manoel César Pereira da Silva no
Ribeirão do Inferno, Curralinho e Faisqueira.
Entre as médias escravarias, o minerador Cassemiro Hermenegildo da Silva, residente em
Diamantina, possuía 17 escravos, dos quais 11 (64,7%) eram mineiros.24 Por sua vez, o
minerador Alexandre de Almeida e Silva trabalhava em suas catas com quatro escravos de sua
22 Relação n. 1152 e n. 1227 dos escravos pertencentes ao Ten. Cel. Alexandre Gomes da Silva Chaves, de 14 de
setembro de 1872. Cartório do 2º Ofício, Documentos diversos, maço 298.
23 BAT. Inventário de Rodrigo de Souza Reis, Cartório do 2º Ofício, 1872, maço 286.
24 BAT. Relação dos escravos de Cassemiro Hermenegildo da Silva, matriculados em 31 de setembro de 1872.
Cartório do 2º Ofício, Documentos diversos, maço 298.
15
propriedade, no ano de 1872.25 O minerador e fazendeiro residente no arraial do Milho Verde,
Luís Beltrão da Silva, era senhor de 13 escravos em 1872, dos quais 6 trabalhavam como
mineiros. Os demais faziam serviços domésticos ou nas roças de Luís Beltrão.26
Muitas pessoas da região alugavam escravos para os mineradores, estratégia que lhes
possibilitava engrossar suas rendas. Veja-se o caso de Antônio da Costa Vale, que alugava um
escravo de nome Joaquim, mineiro, para o Tenente Coronel Felisberto Ferreira Brant. No ano de
1864, Antônio Vale pediu a Ferreira Brant um empréstimo de um conto de réis, com prazo de
seis meses e a prêmio de 2% ao mês. Para garantia da transação, Antônio Vale hipotecou o
escravo de aluguel Joaquim a Ferreira Brant.
27 No ano de 1872, Sebastião Alves Pereira era
senhor de 10 escravos, sendo três “sofríveis mineiros” que ele alugava para concessionários de
lotes diamantinos.28 O mesmo fazia, em 1886, Dona Josefina Augusta Pimenta, residente em
Diamantina, que era proprietária de cinco escravos. Dois deles, Luís (preto, 21 anos, solteiro) e
Agostinho (pardo, 44 anos, solteiro) estavam alugados em uma lavra próxima da cidade.29 Esta
prática de alugar escravos para mineradores nada mais era do que uma permanência dos tempos
coloniais, quando muitas famílias radicadas no antigo Tijuco viveram da locação de cativos para
os contratadores e para a Real Extração (FURTADO, 1996).
Havia também pessoas que penhoravam seus escravos para mineradores no âmbito de
transações de crédito. Em 10 de outubro de 1845, Sérgio Urbano Vieira Couto passou escritura
de hipoteca de quatro escravos para Rodrigo de Souza Reis, garantindo empréstimo no valor de
um conto de réis. Os cativos colocados na transação foram: Angélica, africana; Jacinta, crioula,
filha de Angélica; José Mina e Camilo Cabinda, ambos bons mineiros, que foram mandados para
a Lavra da Perpétua.30 Em 10 de junho de 1857, a Dona Maria Leopoldina Baracho hipotecou
dois escravos, de nomes Moisés africano e Adão africano, ao mesmo Rodrigo de Souza Reis,
para segurança da quantia de 800$000 rs a prêmio de 1,5% ao mês.31 Em 9 de novembro de 1874,
25 BAT. Relação dos escravos de Alexandre de Almeida e Silva, matriculados em 15 de setembro de 1872. Cartório
do 2º Ofício, Documentos diversos, maço 298.
26 BAT. Relação de escravos de Luís Beltrão da Silva, de 13 de agosto de 1872. Cartório do 2º Ofício, Documentos
diversos, maço 298.
27 BAT. Escritura de hipoteca, Livro de Notas n. 22-B, Cartório do 2º Ofício, 1864, maço 159, fls. 68v-69v.
28 BAT. Relação de escravos de Sebastião Alves Pereira, de 9 de abril de 1872. Cartório do 2º Ofício, Documentos
diversos, maço 298.
29 BAT. Relação n. 183 dos escravos de Dona Josefina Augusta Pimenta, de 30 de outubro de 1886. Cartório do 2º
Ofício, Documentos diversos, maço 298.
30 BAT. Escritura de hipoteca, Livro de Notas n. 2, Cartório do 1º Ofício, 1845, maço 44, fls. 78-78v.
31 BAT. Escritura de hipoteca, Livro de Notas n. 8, Cartório do 1º Ofício, 1857, maço 44, fls. 76v-77v.
16
Dona Margarida Flora Pereira, moradora do arraial do Inhaí, alugou seu escravo Raimundo –
crioulo, 26 anos de idade, solteiro, mineiro – para Jacinto Eustáquio d’Araújo Meireles, como
garantia da quantia de 500$000 rs a prêmio de 1% ao mês e pelo prazo de um ano. Pela escritura
de penhor, o escravo ficaria em poder do credor recebendo jornal de 8$000 rs mensais, e não
poderia ser vendido nem alienado por forma alguma até que o credor estivesse pago e satisfeito.32
É bom observar que nas catas de diamante oitocentistas muitos homens livres trabalharam
engajados, isto é, debaixo de contratos de locação de serviços decorrentes de dívidas contraídas
com mineradores. Alguns exemplos, referentes aos anos 1840 e 1850, serão suficientes para
esclarecer a natureza dessa situação. Em 15 de abril de 1846, Manoel Garcia dos Santos engajou
sua pessoa a Jovenato da Costa Rodrigues, para segurança de 60$000 rs, com termo assinado na
casa do Delegado de Polícia Antônio da Cunha Vale. Manoel dos Santos se obrigava a prestar
serviços de mineração, ganhando 500 réis por dia útil, até pagar com esses jornais ao locatário.33
No mesmo ano, em 2 de dezembro, Luciano Ribeiro Silva engajou-se a serviço de Joaquim Elias
Elizeu Filho, nos termos transcritos abaixo:
Luciano Ribeiro declara que era devedor de 102$000 rs a Joaquim Elias Elizeu Filho e
portanto se contratavam e se obrigavam na conformidade da Lei de 13 de setembro de
1830 a fazer o seguinte: o locador fica obrigado a prestar todos os serviços sem reserva de
nenhum pertencentes à mineração, viagens e outros que o dito locador saiba e possa fazer
e ficará vencendo 3$000 rs por semana, isto é, naquelas em que trabalhar 6 dias, que sairá
por cada dia que trabalhar a 500 réis até que, com estes jornais, possa o locador pagar o
locatário a predita quantia de 102$000 rs e então se findará este contrato, exceto se o
locador pagar em dinheiro a referida quantia de 102$000 rs e qualquer quantia que o
locatário tomar em mão, digo, que o locador tomar em mão do locatário ficará o mesmo
sujeito a este ajuste, e com os seus serviços ou dinheiro remir sua dívida.34
Em 2 de abril de 1847, João da Mata Borges passou escritura de engajamento a João
Batista Vieira Mourão, para segurança da quantia de 18$560 rs que este lhe havia emprestado. O
devedor se comprometia a prestar serviços de mineração, sem escolha alguma e durante os dias
úteis, até que a dívida fosse integralmente quitada.35 Em 5 de fevereiro de 1857, Justino Pereira
alugou-se para serviços de mineração a João Batista Leite, de quem pegara emprestada a quantia
de 50$000 rs para pagar outras dívidas. Os jornais de Justino Pereira foram ajustados em 1$600
32 BAT. Escritura de penhor anticrético, Livro de Notas n. 7, Cartório do 3º Ofício, 1874, maço 162, fls. 60-63.
33 BAT. Escritura de engajamento, Livro de Notas n. 2, Cartório do 1º Ofício, 1846, maço 44, fls. 104v-105.
34 BAT. Escritura de engajamento, Livro de Notas n. 2, Cartório do 1º Ofício, 1846, maço 44, fls. 94-95.
35 BAT. Escritura de engajamento, Livro de Notas n. 4, Cartório do 2º Ofício, 1847, maço 44, fls. 23-23v.
17
rs por semana na escritura de locação de serviços.36 Também em 1857, no dia 12 de março,
Maximiniano Antônio da Costa Pinto alugou seus serviços para Rodrigo de Souza Reis, pelo
jornal diário de 2$000 rs., de modo a pagar a quantia de 195$900 rs. que Souza Reis havia pago
para quitar as dívidas de Maximiniano com Bernardino da Cunha Ferreira e João Nepomuceno de
Aguilar. Pelo contrato, Maximiniano daria a Souza Reis metade de seu salário em pagamento da
dívida.37 No dia 20 de setembro de 1880, Luciano Barbosa de Andrade, mineiro, residente em
São Gonçalo, engajou os serviços de seu filho Luís a José Jerônimo de Castro Peres (mineiro,
residente em Diamantina), pela quantia de 171$000 rs. Luciano Andrade devia a referida quantia
a Jerônimo Peres e, para pagá-la, locou os serviços de seu filho de 16 anos pelo jornal de 4$800
rs por mês, que seria integralmente aplicado para o pagamento da dívida. No contrato, Luciano
Andrade se obrigava a não tirar sob qualquer motivo ou pretexto o menino do serviço de
mineração enquanto não ocorresse a quitação da dívida.38
Que tipos de trabalhos fizeram nas lavras de diamante os escravos e os homens livres no
século XIX? Escusado dizer que os labores nas lavras eram manuais, tradicionais, pesados,
concentrados na estação seca do ano. Há descrições longas e detalhadas das tarefas que a
extração do diamante exigia, bem como das técnicas utilizadas nas catas. Entre os viajantes
estrangeiros, Auguste de Saint-Hilaire (1974) deixou pormenorizadas anotações a respeito. Para
os garimpos de “massa”, que predominaram na área de São João da Chapada, Aires da Mata
Machado Filho (1980a) descreveu as técnicas empregadas até os primeiros decênios do século
XX. Aqui, para não cansar os leitores, opta-se por apresentar uma síntese dos trabalhos nas lavras
seguindo a narrativa de George Gardner, referente a serviços de mineração nas margens do Rio
Jequitinhonha. De início, o viajante inglês assinala os diferentes tipos de solo presentes nas lavras
e os processos de decapeamento do terreno em busca do cascalho diamantífero. Diz o viajante:
As diferentes espécies de solo que foi mister perfurar antes de alcançar o depósito em que
se encontravam os diamantes foram, em primeiro lugar, cerca de vinte pés de um terreno
arenoso e avermelhado, que era quebrado por enxada e depois carregado para o rio por
uma corrente vinda que servia para mover a roda d’água; abaixo deste encontravam-se
cerca de oito pés de uma argila amarela e dura, que era cavada com enxada e carregada na
cabeça dos negros, em gamelas de pau, de pé e meio de diâmetro, por falta de carrinho de
mão, que é aqui desconhecido; por baixo desta argila aparecia uma camada de areia
avermelhada e grossa, com dois pés e meio de espessura, sob a qual estava o solo peculiar
36 BAT. Escritura de locação de serviços, Livro de Notas n. 8, Cartório do 1º Ofício, 1857, maço 44, fls. 45v-46v.
37 BAT. Escritura de contrato, Livro de Notas n. 8, Cartório do 1º Ofício, 1857, maço 44, fls. 57v-58v.
38 BAT. Escritura de locação de serviços, Livro de Notas n. 36, Cartório do 2º Ofício, 1880, maço 161, fls. 131v-132,
18
que contém diamantes. Quando esta formação diamantina consiste de pedregulho solto,
chama-se cascalho na linguagem dos mineiros; e, quando encontrada na forma de um
conglomerado ferruginoso, dão-lhe o nome de ganga. Esta camada varia de um a quatro
pés de espessura e o cascalho de que se compõe consiste de pequenos seixos de rocha
primitiva, os quais por sua forma redonda e polida, evidentemente formaram em época
remota o leito de uma corrente d’água. Estes seixos são de vários tipos, mas, quando
aparece grande quantidade de esmeril preto, variedade de turmalina, o cascalho é
considerado rico em diamantes. O cascalho geralmente jaz sobre um substrato de uma
espécie de argila dura chamada piçarra, em baixo da qual se encontram as sólidas rochas
xistosas que preponderam geralmente em todo o distrito do diamante (GARDNER, 1975,
p. 204).
O trecho citado possibilita avaliar a quantidade de material estéril que as maiores lavras
produziram: terra, areia e cascalho que foram depositados sem maior cuidado ao lado dos cursos
d’água, quando não diretamente jogados na corrente. Também dá ideia do trabalho pesado
necessário para se alcançar o cascalho ou a ganga. Fornece ainda evidência dos conhecimentos
por assim dizer intuitivos que os mineradores usavam para definir onde cavar e se valia a pena ou
não insistir em um determinado terreno.
Uma vez alcançado o cascalho diamantífero, o material era retirado da cata para ser
submetido ao processo de lavagem, meio para realizar a “apuração” do serviço, isto é, separar o
diamante e o ouro. Processo meticuloso, que exigia olho treinado e muita atenção, além de hábil
utilização da bateia. A primeira fase da lavagem, para a retirada da lama e das maiores rochas,
feita no interior dos bacos, foi descrita por Gardner da seguinte forma:
Desta maneira se faz a lavagem do cascalho: ao longo de um lado dum tanque d’água
coloca-se uma fileira de onze cercados, de três pés quadrados, feitos de estacas fincadas
no chão, com o lado perto da água muito mais baixo que os outros; o fundo é feito de
argila bem batida: estes cercados são chamados bacos e em cada um deles um escravo, ali
estacionado para esse fim, lança uma porção de cascalho; bem em frente de cada baco fica
um escravo com água pelos joelhos, munido de um grande prato raso de madeira, a bateia
com que atira com toda força água sobre o cascalho: por este modo e remexendo-o a
intervalos frequentes com uma pequena enxada, liberta-se o cascalho da terra e areia com
que se mistura, retirando-se as partículas maiores de pedregulhos que surgem à tona. É
neste processo que se encontram os maiores diamantes. Bem defronte destes bacos, a uns
três pés acima do nível do chão, levantam-se assentos separados para dois fiscais, armado
cada qual de um grande chicote de correias, em rigorosa vigilância para que não se furte
nenhum diamante. O trabalho dura desde a manhã até as quatro horas da tarde, quando o
cascalho, assim lavado e purificado, é retirado dos bacos, e levado à beira de pequena
corrente de água para ser finalmente lavado (GARDNER, 1975, p. 204).
19
Convém ressaltar que a lavagem do cascalho requeria, nas grandes lavras, uma vigilância
constante e intensa sobre os cativos, tarefa que cabia a feitores. Nos serviços de garimpo, nos
quais predominavam trabalhadores livres, a vigilância do feitor era substituída pela força da
noção de “camaradagem” entre os garimpeiros, assentada nos valores de lealdade e solidariedade
que deviam presidir a convivência entre os integrantes da turma de garimpo.
A segunda fase da lavagem, que consiste na apuração propriamente dita, permite separar
os diamantes menores e o ouro em pó. Eis a descrição dessa etapa elaborada por Gardner:
Acompanhando o capitão para presenciar esta operação, que para um estrangeiro é a mais
interessante no processo de mineração do diamante, encontrei sete escravos sentados junto
a um pequeno canal de quatro pés de largura, com as pernas na água até os joelhos:
chama-se esta corrente a lavadeira. Cada um dos escravos tinha um grande prato raso feito
de pau, semelhante ao usado na lavagem do cascalho grosso, no qual é lançada uma pá de
cascalho purificado por um escravo para esse fim estacionado atrás dos outros. Feito isto,
o lavador enchia de água a bateia e, fazendo-a girar de modo peculiar por sobre a
superfície da corrente, o cascalho maior vinha à tona e era cuidadosamente examinado.
Repetido isto várias vezes, punha então a bateia sobre os joelhos, com o direito muito
mais baixo que o esquerdo, e com a mão lançava água no cascalho fino, que era então
levado com grande cuidado para dentro do canal, até a bateia ficar inteiramente vazia: é
por este último processo que se podem encontrar os diamantes. Uma pequena bateia com
um pouco d’água estava posta num baixo suporte entre os dois fiscais e ali se lançavam os
diamantes que se iam encontrando, e que nesta ocasião somavam onze, todos eles porém
pequenos. No fundo das bateias sempre se encontra pequena quantidade de ouro em pé,
que é cuidadosamente guardado (GARDNER, 1975, p. 204-205).
Estas técnicas tradicionais de extração do diamante continuaram em uso até bem
adiantado o século XX. Como no garimpo do ouro, somente nos anos 1970 as catas de diamante
passaram a empregar bombas hidráulicas movidas a motores, seja para sugar o cascalho do leito
dos rios, seja para fazer o desmonte de barrancos no garimpo de “massa” (MARTINS, 1997).
A comercialização de diamantes: redes mercantis e de poder
Tschudi notou que o “negócio de diamantes” era mais do que uma atividade econômica.
Em Diamantina, havia se convertido numa “mania dos janotas”, verdadeiro emblema de
masculinidade, maturidade e distinção social. É o que se depreende do trecho escrito pelo
viajante:
Houve um tempo em que todo mundo em Diamantina fazia negócio com diamantes (...).
Hoje essa prática decresceu bastante (...). Contudo, ainda hoje é raro encontrar um jovem
de boa família que não leve uma porção de diamantes em sua capanga, a fim de negociá-
20
los na primeira oportunidade. O comércio de diamantes é uma paixão entre os jovens
abastados de Diamantina (TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 154).
Em 1858, os preços praticados no comércio de diamante na praça da cidade eram
atrativos. Os diamantes puros de uma oitava vendiam-se por 3 contos de réis. As pedras de 2
oitavas custavam 7 ou 8 contos de réis. Já uma oitava de “mercadoria boa” vendia-se por 500 mil
réis (TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 152). Por isso mesmo, a condição de “diamantário” era bastante
cobiçada, ainda que somente poucos conseguissem alcançá-la. Sobre as práticas dos negociantes
de diamantes, o relato de Tschudi informa:
Em Diamantina, os grandes comerciantes de diamante têm seus compradores, que viajam
por todo o distrito e vão até Grão-Mogol e Sincorá [na Chapada Diamantina, Bahia] para
comprar diamantes de pequenos proprietários de lavras, garimpeiros e negros. São
conhecidos como capangueiros (...). Compram as pedras por conta e risco ou com um
adiantamento dos grandes comerciantes e atacadistas. Em geral, esse negócio é muito
lucrativo, porque eles compram boas mercadorias por preços relativamente baixos.
Contudo, às vezes acontece de o preço baixar depois de uma viagem de alguns meses e,
assim, eles perdem parte do capital aplicado (TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 154).
A passagem acima do relato de Tschudi é esclarecedora: em torno dos diamantários,
estendiam-se imensas e capilares redes de “capangueiros”, que vasculhavam as terras
diamantinas mineiras e até baianas, no afã de adquirir boas pedras. Redes assentadas em relações
pessoais, nas quais a confiança e a lealdade recíprocas eram valores centrais, e os lucros e os
riscos eram repartidos de maneira assimétrica. Dessa forma, os negócios de diamante eram
fortemente hierarquizados numa ponta como noutra, na extração e na comercialização
(MARTINS, 2004).
Na cidade de Diamantina e nos seus distritos, diversos negociantes realizavam compras de
diamantes levados a eles por garimpeiros e faiscadores. Augusto César Pereira da Silva,
negociante de fazendas e “gêneros do país”, dono de cinco escravos, na década de 1850 possuía
comércio de diamantes em seu estabelecimento, conforme indica seu inventário. Nele se vê que
Augusto César possuía duas balanças de pesar diamantes com os respectivos pesos e dezessete
oitavas de diamante bruto, avaliadas em 6:460$000, no momento de sua morte.39 A participação
no comércio pedrista também foi o caso da loja de Salustiano Amâncio da Rocha, localizada na
Rua da Quitanda, que, em anúncio no jornal Sete de Setembro de 1º de janeiro de 1887,
39 BAT. Inventário de Augusto César Pereira da Silva, Cartório do 2º Ofício, 1860, maço 163, fl. 13.
21
comunicava vender fazendas e objetos chegados recentemente do Rio de Janeiro, bem como
comprar diamante e ouro.40 O mesmo fazia a Sociedade Mercantil Libano & Francelino, fundada
em 3 de maio de 1894 pelos sócios Serafim Libano Horta e Francelino Alves da Silva.41 A firma
objetivava negociar fazendas, armarinho, ferragens, calçados, molhados, ouro e diamantes, com
loja instalada no Largo do Conselheiro Mata e capital de 60 contos de réis. O sócio Serafim
Libano Horta era o responsável pelas transações relacionadas com o comércio pedrista.
Especializada na compra de diamantes, a sociedade formada por José Alexandre de Souza e
Licínio de Oliveira Balsamão foi registrada no distrito de Datas, em 30 de agosto de 1896.42 A
firma Souza & Balsamão, com capital social de 36 contos, objetivava comprar e vender
diamantes, lapidar os mesmos na fábrica de sua propriedade e vender os brilhantes em
Diamantina e na praça do Rio de Janeiro. O encarregado de comprar diamantes era o Sr. José A.
Souza; a lapidação ficava por conta de Licínio Balsamão e as vendas das pedras sob a
responsabilidade dos dois sócios, com divisão igual de lucros e prejuízos. Esta sociedade foi
desfeita em 24 de outubro de 1919, por causa da mudança de Licínio de Oliveira Balsamão para a
cidade de Curvelo.43
Os maiores compradores locais de diamantes puseram propaganda nos jornais
diamantinenses. Em 14 de abril de 1912, o periódico A Idéa Nova trouxe a matéria:
José Neves Sobrinho & Irmão avisam aos seus numerosos amigos e fregueses que
continuam a comprar diamantes brutos e lapidados pelos maiores preços do mercado,
garantindo como sempre a usar de toda lealdade neste importante ramo de negócio.
Continuam a mandar lapidar grande quantidade de diamantes nas principais fábricas desta
cidade e nas do município. Também continuam a comprar ouro virgem, cristais e outros
minérios, pagando pelos maiores preços do mercado. Escritório na sua residência, Rua Dr.
Felício dos Santos, 1º andar.44
No mesmo periódico, em 26 de maio de 1912, outro diamantário publicou seu anúncio, no
qual se lê:
40 BAT. Sete de Setembro, ano I, n. 17, p.4.
41 BAT. Registro de contrato de sociedade, Livro de Notas n. 22, Cartório do 1º Ofício, 1894, maço 43, fls. 19v-21v.
42 BAT. Registro do contrato de sociedade mercantil, Livro de Notas n. 19, Cartório do 1º Ofício, 1896, maço 42, fls.
86-87.
43 BAT. Registro de distrato de contrato, Livro de Notas n. 36, Cartório do 1º Ofício, 1919, maço 497, fls. 17v-19.
44 BAT. A Idéa Nova, ano VII, n. 314, 14 de abril de 1912, p. 4, maço 69, gaveta 3.
22
Daniel Lima comunica a seus numerosos amigos e fregueses que compra diamantes,
carbonatos e brilhantes, pagando ótimos preços. Para sustentar o mercado tem contrato no
Rio de Janeiro com uma das melhores casas desse gênero (...). Também chama a atenção
dos interessados para as compras de turmalinas e águas marinhas.45
Ressalta-se no anúncio de Daniel Lima a explicitação do vínculo de dependência dos
diamantários com firmas cariocas, as quais não só sustentavam esse mercado como constituíam
os destinatários finais, em terras brasileiras, dos diamantes e brilhantes produzidos no município
de Diamantina.
No decorrer dos séculos XIX e XX, mesmo que os pequenos mineradores conseguissem
garimpar sossegados, ainda assim acabariam vitimados pela ação dos chamados diamantários, os
negociantes locais de diamantes, que, especialmente nas conjunturas de crise, sistematicamente
“salgavam” as partidas de gemas que lhes eram oferecidas. Os grandes compradores de
diamantes, como Josefino Vieira Machado (Barão de Guaicuí), Antônio Eulálio de Souza e o
Comendador Serafim Moreira da Silva, aviltavam de maneira combinada os preços das pedras,
prejudicando os garimpeiros. Tal expediente era possível porque, até o ano de 1912, “a compra
de diamantes, em Diamantina, constituía quase um privilégio da conhecida casa dos Srs. Luiz de
Rezende & Cia. do Rio de Janeiro, representando capitais ingleses, franceses e holandeses”.46
Os diamantários locais eram, na verdade, parceiros menores da poderosa casa carioca.
Na década de 1920, a casa de Luiz de Rezende, representante de capitais europeus,
começou a enfrentar concorrência agressiva e determinada de empresas norte-americanas,
associadas com diamantários locais. Disso dá notícia a matéria publica no Pão de Santo Antônio,
em setembro de 1924, transcrita abaixo:
Aviso aos garimpeiros e negociantes de diamantes. Participo aos meus amigos e fregueses
que acabo de firmar contrato legal com o Sr. José Neves Sobrinho, residente em
Diamantina, para a compra de toda a produção de diamantes, se possível, nesse Estado de
Minas Gerais. Como os preços da minha nova tabela, fornecida ao Sr. José Neves
Sobrinho, são os mais altos possíveis, espero que os meus antigos e novos fregueses
possam, de agora em diante, auferir os melhores e inúmeros benefícios que lhes vou
proporcionar. Rio de Janeiro, 3 de novembro de 1923. J. Polak.
45 BAT. A Idéa Nova, ano VII, n. 319, 26 de maio de 1912, p. 4, maço 69, gaveta 3.
46 BAT. O Momento, 15 de janeiro de 1922, p. 3, maço 91, gaveta 6. Rastros da atuação de Luiz Rezende em
Diamantina são visíveis na documentação cartorária desde 1878, ano em que ele aparece como titular de hipotecas de
casas e em escrituras de venda de escravos para mineradores. BAT. Livro de Notas n. 36, Cartório do 2º Ofício,
1878, maço 161, fls. 54-55, 55v-56v e 65v-66v.
23
Eis uma constante da história da comercialização dos diamantes extraídos no nordeste
mineiro: salvo curtíssimos períodos de concorrência, predominou a presença quase monopolística
de um grande comprador, primeiro os contratadores, depois a Real Extração e, em seguida, nos
séculos XIX e XX, os braços cariocas de empresas europeias ou norte-americanas. Não foi à toa,
portanto, que a parte do leão da renda gerada pelas lavras diamantinas terminou nas mãos dos
agentes do comércio pedrista.
Ideia das fortunas acumuladas pelos maiores diamantários tem-se com a figura de Antônio
Eulálio de Souza, talvez o homem mais rico de Diamantina na década de 1890. Proprietário de
dezenas de imóveis, comerciante e político local muito influente, Antônio Eulálio angariou
fortuna comprando e vendendo diamantes a partir dos anos 1860. Ele foi dono de várias
concessões para exploração de terrenos diamantinos e soube usá-las para aumentar sua riqueza,
aproveitando o interesse das companhias estrangeiras de mineração que chegaram à região a
partir da década de 1890. A firma Antônio Eulálio & Cia. atuava no comércio atacadista e
varejista, na mineração de ouro e diamantes, lapidação de pedras e na oferta de crédito. Na casa
de comércio eram vendidos tecidos, armarinhos, ferragens, manufaturados, etc. Em 1907,
segundo o inventário do proprietário da empresa, o saldo existente na casa era de 174:320$580 rs.
O valor total dos bens imóveis de Antônio Eulálio na cidade alcançava 89:100$000 rs.; em
títulos, ele detinha 12:934$000 rs em ações de empresas. Na Chácara da Palha, subúrbio de
Diamantina, havia fábrica de lapidação com terrenos de plantação, pastos, moinhos e casa para
operários, tudo avaliado em 10 contos de réis. Antônio Eulálio possuía ainda fazendas e terras no
Serro, Teófilo Otoni e Curimataí (hoje Buenópolis), lotes diamantinos em São João da Chapada,
Batatal e Angu Duro, lavras de ouro em sociedade na Fazenda da Forquilha e em Riacho das
Varas (atual Conselheiro Mata).47
Altos e baixos da mineração diamantífera no século XIX
A extração de diamantes nas lavras do Alto Jequitinhonha apresentou, no século XIX,
fases bastante distintas que variaram da euforia ao desalento. Se se considera os volumes de
produção e os preços do diamante, as mudanças na legislação minerária e os padrões de
organização das lavras, pode-se propor a seguinte periodização para a atividade no Oitocentos: a)
1808 a 1832 – Primeira crise do diamante; b) 1832 a 1870 – Boom da atividade garimpeira; c)
47 BAT. Inventário de Antônio Eulálio de Souza, Cartório do 2º Ofício, 1907, maço 83, fls. 8-9.
24
1870 a 1897 – Segunda crise do diamante e; d) 1897 a 1930 – Reanimação da atividade
mineradora.
O período 1808-1832 corresponde à crise terminal da Real Extração, no qual houve
considerável queda nos volumes das partidas oficiais de diamante. As mudanças políticas e
econômicas associadas ao processo de independência do Brasil fizeram secar a fonte de recursos
orçamentários que alimentava a Real Extração, do que resultou a paralisação dos serviços de
lavra tocados por ela.48 Escasseou rapidamente o dinheiro destinado ao aluguel de escravos e ao
abastecimento das tropas de escravos remanescentes sob o comando dos feitores da Real
Extração (SANTOS, 1978). Mas as terras diamantinas continuaram formalmente vedadas à livre
exploração pelos mineradores, garimpeiros e faiscadores.
Os dados de produção de diamantes na vigência da Real Extração, compilados pelo Barão
de Eschwege e Antônio Olinto dos Santos sintetizam o declínio no decorrer do período 1806-
1828:
TABELA 3 – Produção de diamantes pela Real Extração (1772-1828)
Período Quilates extraídos Média anual
1772-1776 195.206 39.041
1777-1781 189.616 37.923
1782-1785 198.945 49.736
1786-1795 293.162 29.316
1796-1801 66.794 11.132
1802-1806 115.689 23.138
1808-1813 88.721 14.787
1814-1819 79.058 13.176
1820-1825 43.440 7.240
1826-1828 15.195 5.065
Fonte: ESCHWEGE, 1979, v. 2, p. 116-117. E Antônio Olinto, citado por Domício de Figueiredo Murta
(ESCHWEGE, 1979, v. 2, p. 122-123).
Para Raimundo José da Cunha Matos (1979, v. 1, p. 298-301), o declínio da mineração
aurífera e diamantífera no período explicava-se por um conjunto de fatores: a pobreza da maior
parte dos mineradores, o que os impedia de iniciar trabalhos minerais mais dificultosos; a
48 Cunha Matos (1979, v. 1, p. 346) afirmou que a Administração Diamantina no regime de Real Extração recebia,
inicialmente, assistência anual de 200 contos de réis; a partir de 1795, os suprimentos pecuniários para as despesas
dos trabalhos mineiros caíram para 120 contos. Em seguida, houve nova queda, para 60 contos no período 1824-
1830. A partir de 1830, a assistência reduziu-se para 48 contos. Essa crise financeira da Real Extração teve reflexos
óbvios sobre o rendimento de suas tropas mineradoras.
25
elevação do preço dos escravos;49 a desordenada distribuição das terras minerais e a vexação
praticada pelos guardas-mores a respeito das pessoas menos poderosas; os processos lentos e
dispendiosos em torno das questões sobre terras minerais; a ignorância da teoria e da prática
montanística; e a preguiça de muitos milhares de homens que se ocupavam da faiscação. O
ilustrado militar e funcionário português pensava que:
Este ramo de indústria só poderá ser melhorado se os mineiros, depois de adquirirem
conhecimentos científicos em escolas montanísticas que o governo deve estabelecer,
formarem sociedades cujos capitais possam sofrer embates e os inevitáveis prejuízos que
sempre acompanham o princípio das grandes empresas (...). Para este fim, sirvam de
estímulo e exemplo as enormes riquezas que a sociedade de mineração inglesa tem
extraído das terras de Gongo-Soco (CUNHA MATOS, 1979, v. 1, p. 301-302).
O mineralogista José Vieira Couto, por sua vez, considerou que a principal razão do
declínio da mineração na Província de Minas Gerais era a ignorância do mineiro. Conforme suas
palavras, “esta preciosa classe de homens é a causa única e ao mesmo tempo mui bastante da
decadência atual da mineração” (VIEIRA COUTO, 1994, p. 62). Para o sábio do Tijuco, a
animação da mineração dependeria da difusão, pelo Estado, de conhecimentos e técnicas
adaptados à situação das minas brasileiras, da criação de fundições de ferro, da abolição do
excesso de dias santos e da melhoria dos transportes por meio da abertura de canais navegáveis e
estradas carroçáveis.
De maneira velada, ambos, Cunha Matos e Vieira Couto, consideravam necessário
conceder espaço muito mais amplo para a iniciativa privada no setor mineral, extinguindo-se os
monopólios coloniais. Eles nutriram simpatias por reformadores como o Intendente Câmara, mas
não pelo regime da Real Extração.
Entre 1832 e 1870, ocorreu enorme frenesi na mineração no Alto Jequitinhonha, graças ao
desimpedimento das lavras e aos novos descobertos de São João da Chapada e do Caeté-Mirim.
Relativamente a esse período, Roberto Borges Martins (2002, p. 109-110) foi direto ao ponto:
A partir de 1832, o desmantelamento progressivo do monopólio estatal dos diamantes
deflagrou um grande surto de atividade em toda a região diamantina. A produção
registrada de pedras deu um salto impressionante, passando da média anual de 14.800
49 Conforme Cunha Matos (1979, v. 1, p. 298), na década de 1830, um bom escravo custava pelo menos 800$000 rs
(e a oitava de ouro valia 2$400 rs); no passado, vinte ou trinta anos antes, a oitava de ouro valia 1$500 rs e o escravo
custava cerca de 300$000 rs.
26
quilates em 1796-1827 para 208.000 quilates em 1828-1849. O boom não se limitou ao
antigo distrito diamantino, atingindo outras áreas, como Abaeté, Indaiá, Itacambira, Rio
Pardo e Grão Mogol (e mais tarde a região de Bagagem), e durou mais de três décadas. No
centro da agitação, a cidade de Diamantina viveu uma época de muito brilho e
prosperidade, e seu mercado polarizava a produção de vasto território.
Robert Slenes também apontou o crescimento da extração de diamantes nessa época, ao
mesmo tempo em que, no caso do ouro, ocorria a “desnacionalização da mineração”.50 Os dados
que o pesquisador apresenta sobre o diamante são os seguintes: a produção entre 1819 e 1854
teria aumentado 334% (SLENES, 1985, p. 67); entre 1854 e 1861, a média anual de exportações
de diamantes mineiros pelo porto do Rio de Janeiro teria sido de 107.256 quilates, ao preço
médio de 2 libras por quilate (SLENES, 1985, p. 78).
Apesar das estatísticas sobre a produção e comercialização de diamantes serem pouco
confiáveis, em razão da tradicional clandestinidade de boa parcela das operações, vale apresentar
os números compilados por Tschudi para meados do Oitocentos. Eles devem ser lidos muito mais
como indicadores do vulto da atividade e de seu dinamismo. As tabelas seguintes trazem os
dados compilados pelo viajante suíço:
TABELA 4 – Quantidade e valor dos diamantes exportados pelo Rio de Janeiro
(1857-1863)
Período Oitavas Valor (mil réis)
1857-58 3.162 948:600
1858-59 5.021 1.506:450
1859-60 5.119 1.535:700
1860-61 5.863 2.506:320
1861-62 5.756 2.878:198
1862-63 6.970 2.468:725
Fonte: TSCHUDI, 2006, p. 145-146.
TABELA 5 – Receita do Estado nos distritos diamantinos
Período Receita ( réis)
1856-57 41:945$000
1857-58 53:084$000
1858-59 58:300$000
1859-60 51:432$000
1860-61 37:523$000
1861-62 42:516$000
Fonte: TSCHUDI, 2006, p. 145-146.
50 Conforme Slenes (1985, p. 68), entre 1820 e 1860, 47,1% do ouro extraído em Minas foi produzido por
companhias e faiscadores brasileiros, e o resto por companhias inglesas. Em 1879, os mineradores nacionais
produziram só 13, 6%.
27
As cifras da Tabela 4 mostram o estado de aquecimento da mineração diamantífera na
região de Diamantina, que era a principal origem das pedras exportadas pelo porto do Rio de
Janeiro. Os números da Tabela 5, por sua vez, demonstram que, a despeito da enorme evasão
fiscal que historicamente marca a exploração de diamantes no Brasil, a economia do diamante
gerava rendas anuais avultadas para o Estado brasileiro.51
Conforme a documentação da Administração Geral dos Terrenos Diamantinos, na região
do Serro, no período 1865-69, havia o registro de 174 termos de contrato de arrendamento de
lotes. Alguns dos principais mineradores do município estão listados no anexo 1.52 As principais
áreas de mineração eram: Rio do Peixe, Capivari, São Gonçalo e Pedra Redonda. As sociedades
de mineradores e garimpeiros ocorriam com frequência, assim como era comum uma mesma
pessoa ser titular de dois ou mais arrendamentos de lotes. Entretanto, raríssimas eram as
concessões em nome de mulheres. No caso do Serro, dos 174 registros do período 1865-1869,
encontra-se apenas uma mulher: Dona Francisca Tereza d’Aguiar Souza, que possuía
arrendamento no Córrego de São Gonçalo.53
Bem mais animada era a mineração de diamantes no município de Diamantina. No
período 1861-67, havia 2.447 matrículas de termos de arrendamento de lavra, sendo que os
terrenos minerais variavam de 6000 a 100 mil braças quadradas.54 Joaquim Felício dos Santos
(1978, p. 403) asseverava: “Durante o tempo das concessões, talvez se tirassem mais diamantes
que a Extração no espaço de setenta anos de sua existência”. Felício dos Santos afirmava ainda:
“não existe nesta demarcação córrego algum cujo leito esteja por se lavrar, e uma grande parte
da mineração atual consiste em aproveitarem-se os resíduos deixados pelos antigos
contratadores e administrações, que minerando em grande, deixaram restingas ainda virgens”
51 A inflexão para baixo da renda do Estado nos dois últimos períodos da Tabela 5 pode ser explicada, pelo menos
em parte, pelo comportamento do preço médio da oitava no Rio de Janeiro. Mantendo-se estável em 300$000 ao
longo de quase toda década de 1850, o preço da oitava subitamente subiu para 427$000, em 1860-61, e depois para
500$000, em 1861-62, aumentos que devem ter estimulado o descaminho das pedras, de forma a engordar ainda
mais os lucros dos comerciantes (TSCHUDI, 2006, v. 2, p. 145-146).
52 O critério utilizado para classificar os mineradores foi o tamanho dos lotes, refletido na cifra de impostos anuais
pagos. Em 1868, cada braça quadrada de terra mineral era taxada em cinco réis. Assim, os pequenos mineradores são
aqueles que possuíam lotes que pagavam menos de 10$000 (lotes de aproximadamente 29 mil metros quadrados ou 3
hectares); os médios mineradores são aqueles que possuíam lotes taxados entre 10$000 e 20$000 (área entre 5 e 10
ha); os grandes mineradores eram os que possuíam lotes que pagavam mais de 20$000 anuais (área acima de 10ha).
53 APM. TD-08.
54 APM. TD-06. Este dado do número de matrículas de terrenos minerais possibilita fazer estimativa dos
trabalhadores diretamente envolvidos nos serviços de lavra. Conforme depoimentos de antigos garimpeiros, os
garimpos manuais do início do século XX empregavam não menos do que oito ou dez pessoas. Como as técnicas
eram as mesmas do século XIX, pode-se, portanto, calcular que o garimpo não empregava, nos anos 1860, menos
que 19,5 mil pessoas. Para depoimentos de antigos garimpeiros, ver Marcos Lobato Martins (1997, Cap. 2).
28
(SANTOS, 1978, p. 396). Conforme sua avaliação, nos anos 1860 o produto anual em impostos
de arrendamento das lavras alcançava a cifra de 16 contos de réis (SANTOS, 1978, p. 392).
A partir dos registros da Administração Diamantina, as principais áreas de mineração nos
anos 1860-1870 eram: Rio Pardo Pequeno, Caldeirões, Jequitinhonha, Córrego do Quilombo,
Bambá, Serrinha, Datas, Riacho das Varas, Rio das Pedras e Caeté-Mirim. A localidade de
Mendanha, por exemplo, era um dos principais centros de mineração da região. Ali, o Almanak
Administrativo, Civil e Industrial da Província de Minas Gerais do ano de 1869 (p. 203), anotou
os nomes dos principais envolvidos com a mineração e o beneficiamento de produtos das lavras:
a) Mineradores: Antônio de Aguiar Pinto Coelho, Capitão Ezequiel Neto Carneiro Leão,
Francisco Gomes Tibães, Capitão José Floriano Quirino, Dona Maria Madalena dos
Santos e Modesto Ribeiro de Almeida;
b) Capangueiros: Anselmo Pereira de Andrade, Joaquim Antônio de Oliveira e Joaquim
Vieira Couto;
c) Ourives: Antônio José Ferreira, José Cândido de Figueiredo e Prudêncio Pereira de
Andrade.
A partir dos cerca de 750 registros de lotes arrendados e dos arrendatários no município
de Diamantina, constantes num livro da Fazenda Pública relativo ao período 1875-1890, tomouse
uma amostra aleatória de 252 nomes.55 Nessa amostra, pode-se verificar algo a respeito da
distribuição dos tipos de lotes e do número de concessões por titulares de direitos minerários. As
informações estão contidas nas tabelas seguintes:
Os números referentes à citada amostra indicam coisas importantes: a) os conhecidos
garimpeiros, isto é, pequenos mineradores, constituíram a maioria dos agentes envolvidos com a
economia do diamante no período em tela; b) embora houvesse mineradores titulares de muitas e
grandes áreas, eles representaram fatia diminuta dos arrendatários registrados na Administração.
O fato é que, embora os garimpeiros respondessem pelo maior número de arrendamentos, eles
não produziram a maior quantidade de diamantes. Esta situação perduraria em toda segunda
metade do século XIX e na primeira metade do século XX.
55 APM. FP-107, fls. 91-125. Chama-se atenção para o fato de que o documento da Fazenda Pública possui número
bem menor de registros de lotes arrendados no município de Diamantina do que os existentes nos livros da
Administração Geral dos Terrenos Diamantinos. Uma explicação pode ser a seguinte: ele registra apenas os termos
de contratos renovados no período.
29
TABELA 6 – Tipos dos lotes arrendados no município de Diamantina (1875-1890)
Tamanho dos Terrenos diamantinos N. de ocorrências % do total da amostra
Pequeno 213 59,5
Médio 86 24,0
Grande 59 16,5
Fonte: APM. FP-107, fls. 91-125.
TABELA 7 – Distribuição do número de concessões por titular
Município de Diamantina (1875-1890)
N. de arrendamentos/titular N. de ocorrências % do total da amostra
01 188 74,6
02 ou 03 58 23,0
4 ou mais 06 2,4
Fonte: APM. FP-107, fls. 91-125.
A euforia da mineração diamantífera sofreria um violento baque a partir do ano de 1870.
Viraria, então, desalento. Tanto os grandes mineradores como as turmas de garimpeiros caíram
no pessimismo. Sobreveio uma crise dramática que se estendeu até os anos 1890. A descoberta
dos diamantes da África do Sul provocou alteração profunda no mercado mundial de gemas.
Verificou-se variação muito negativa nos preços do diamante, de modo que a economia da região
de Diamantina foi afetada significativamente. Uma onda de falências de mineradores e
negociantes trouxe forte incerteza sobre o futuro da economia regional.
Impotente, a região acompanhou a elevada depreciação dos preços do diamante. A partir
de 1867, imensos depósitos de diamantes foram descobertos na África do Sul, na região dos rios
Orange e Vaal. Em 1870, encontraram-se minas em Kimberley, Jagersfontein e Dutoispan. O
produto dessas lavras subterrâneas abarrotou o mercado mundial, forçando a queda dos preços e o
deslocamento da produção brasileira para uma posição inframarginal. Em seis anos, os ingleses
extraíram 21 milhões de quilates, quantia maior do que se havia retirado das minas da Índia (do
século II a. C. ao século XVIII) e de Minas Gerais e Bahia (nos séculos XVIII e XIX) juntos, que
perfaziam cerca de 18 milhões de quilates (SANTANA, 2013, p. 75). Entre 1870 e 1876, o preço
da oitava de diamante de primeira despencou: caiu de 1:200$000 (54,39 libras esterlinas) em
1870, para 200$000 (7,76 libras esterlinas) em 1874; e, dois anos depois, reduziu-se a 170$000,
equivalentes a 6,71 libras esterlinas.56 Uma queda espetacular num curto espaço de tempo.
Passado o primeiro impacto, o preço dos diamantes melhorou um pouco, a partir da década de
56 As cifras de preços são tiradas de BAT. Acervo José Teixeira Neves. Livro 1, caixa 3, fls. XXIV e XXV. A
conversão para a moeda inglesa, pela taxa de câmbio libra esterlina/mil-réis, foi feita com base em IBGE (1939-40) e
ABREU (1990).
30
1880. No entanto, permaneceu bem abaixo do nível que possuía em 1870. Evidência disto é
fornecida pelo processo de falência do negociante Jacinto Leite de Faria, ocorrido em 1883. Na
avaliação dos bens do negociante, consta uma partida de diamantes com quatorze quilates,
avaliada em 450$000 (20,87 libras). Um cálculo simples mostra que, no citado ano, a oitava de
diamante estava cotada na casa de 576$450 (26,74 libras esterlinas), praticamente metade do
preço alcançado em 1870.57 O efeito de tal movimento de preços sobre a renda dos mineradores
foi, evidentemente, muito negativo.
Em 1873, conforme José Teixeira Neves,58 muitos faiscadores trocaram a mineração do
diamante pela extração de ouro. E alguns diamantários foram atingidos pelo desespero, de que dá
mostras o relato seguinte, referente ao ano de 1874:
Um honrado negociante de diamantes do Serro investira o seu capital no negócio e seguiu
para a Europa a fim de vender sua mercadoria. O preço encontrado nas praças europeias
representava para ele um prejuízo de 80%. Regressando ao Brasil, atirou-se no mar nas
proximidades de Cabo Frio. Além desse, deram-se outros suicídios pelo mesmo motivo.59
Neste mesmo ano, a Câmara de Diamantina recebeu uma representação do Povo que
exigia providências para o enfrentamento da crise no setor minerador. A resposta da
administração municipal, assinada pelos camaristas Corrêa Rabello, Vieira Machado e Pedro
Brandão foi dada em 9 de maio de 1874, nos seguintes termos:
A Comissão Permanente à qual foi presente uma representação assinada por vários
cidadãos pedindo que esta Câmara tome providência a fim de atenuar o estado de miséria
a que tem chegado sua população do município, em virtude da grande baixa do diamante,
é de parecer que esta Câmara com urgência represente à Assembleia Geral Legislativa,
chamando sua atenção sobre os seguintes pontos: em que se pede na supracitada
representação que sejam relevadas as multas e pagamentos de arrendamentos de lavras
nos arrendatários que não os pagaram desde o ano de 1870; em que se pede suspensão da
cobrança dos direitos de arrendamento de lavras, até o ano de 1876 e, finalmente, em que
se pede que se franqueie a exploração dos terrenos devolutos gratuitamente. A
representação desta Câmara deve ser dirigida aos Deputados deste Distrito, e nela se deve
apoiar e reforçar tudo que se contém na representação do Povo dirigida a esta Câmara, em
relação aos três pontos mencionados. Sala das Comissões, 9 de maio de 1874.60
57 BAT. Jacinto Leite de Faria, processo de falência, Cartório do 1º Ofício, 1883, maço 142, p. 529-530.
58 José Teixeira Neves, arquivista e bibliófilo diamantinense, foi funcionário da Biblioteca Nacional em meados do
século XX. Durante dezenas de anos, colheu milhares de informações sobre a história de Diamantina nos acervos do
Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, reunindo transcrições, por temas, em dezenas de cadernos. Após sua morte, as
caixas contendo esses cadernos foram doadas pela família à BAT.
59 BAT. Acervo José Teixeira Neves. Livro 1, caixa 3, f. XXIII.
60 Câmara Municipal de Diamantina. Livro da Comissão de Alistamento Eleitoral B. Anos diversos. Folha avulsa.
31
Os camaristas, ao endossar as propostas dos cidadãos signatários da representação,
anuíram em atender as reivindicações dos grandes mineradores, garimpeiros e faiscadores, que
giravam principalmente em torno da redução dos custos e entraves que gravavam a exploração
legal dos terrenos diamantinos. Com isso, esperavam recompor, pelo menos parcialmente, as
margens obtidas nos serviços de cata antes da crise internacional de preços do diamante.
A falência de muitos negociantes de Diamantina trouxe ainda mais turbulência para o
cenário regional. Um deles foi Paulo Dias de Oliveira, em cujo processo de falência, datado de
1875, pode-se ler:
O valor dado aos bens descritos no inventário, tendo-se em vista a crise monetária por que
está passando este município, não produz talvez 20:000$000. É sabido que poucos prédios
existem nesta cidade que vendidos em praça produzem 4:000$000, ressaltando que uma
das casas hipotecadas foi avaliada em 5:500$000. Além disso, foi igualmente avaliada por
600$000 uma casa sita na povoação do Guinda [área mineradora], lugar que está hoje em
completo abandono (...). Na proporção destes valores excessivos estão os mais bens
descritos, e ainda mesmo os escravos, cujos preços têm baixado ultimamente por falta de
compradores.61
A falência de Paulo Dias de Oliveira foi precipitada pela queda de preço dos ativos que
possuía (imóveis, escravos, diamantes) e da capacidade de pagamento de muitos de seus
fregueses. Situação similar enfrentou o já referido Jacinto Leite de Faria, negociante de fazendas
e armarinhos em 1883. Sua casa comercial em Diamantina possuía vasta clientela, incluindo
pessoas das famílias mais importantes da cidade. Amargando dificuldades para receber os débitos
de muitos fregueses, o comerciante começou a não quitar compromissos com seus credores, razão
pela qual solicitou ao Juiz Municipal declarar a falência de sua loja. Numa peça do processo, o
Juiz descreveu como segue os percalços que prejudicaram Jacinto Faria:
(...) tendo-se porém nos últimos anos paralisado o comércio nesta cidade, sobrevindo ao
suplicante novos prejuízos como seja muitos de seus devedores não terem podido solver
os seus débitos, a morte de uma escrava, um furto que lhe fez um seu empregado, a venda
de uma partida de brilhantes por muito menos do seu valor, agravou-se a sua situação de
maneira a não poder cumprir algumas obrigações já vencidas.62
61 BAT. Paulo Dias de Oliveira, processo de falência, Cartório do 3º Ofício, 1875, maço 286, p. 3-11.
62 BAT. Jacinto Leite de Faria, processo de falência, Cartório do 1º Ofício, 1883, maço 142. Grifos do autor.
32
As agruras vividas pelo Capitão Jacinto Leite de Faria revelam como perduraram durante
muitos anos as dificuldades que a economia regional enfrentou, em decorrência da violenta crise
de preços internacionais do diamante iniciada em 1870. O desânimo que se abateu sobre
Diamantina ficou estampado nas páginas dos jornais locais:
A grande baixa no preço dos diamantes que começou no ano de 1870, e sustenta-se até
hoje, tem trazido como consequência um tal desânimo para os habitantes das regiões
diamantinas, que a maior parte deles pensa seriamente na necessidade da emigração para
os lugares onde o trabalho encontra melhor recompensa, e onde a atividade comercial
possa desenvolver-se mais proficuamente. As matas do sul da Província, e do Rio de
Janeiro, (...) são o ponto para o qual convergem as vistas, e muitos de nossos patrícios,
pais de família, ou moços principiantes já para lá se têm dirigido...63
A matéria do Monitor do Norte reconhece que o estado de crise da mineração não apenas
afetava o rendimento dos garimpeiros, mas tirava-lhes até mesmo as oportunidades de trabalho,
de maneira que a migração de trabalhadores ganhou intensidade na região. Nesse quadro de
desalento, houve caso de membro de ilustre família de mineradores diamantinenses que
abandonou a exploração de lavras para se dedicar, longe de sua terra natal, a negócio então mais
certeiro e rentável: a cafeicultura. Trata-se de Augusto Ferreira Brant, a quem João Pereira cedeu
escritura de dívida e locação de serviços, em 30 de março de 1876. Para segurança da quantia de
260$000 rs, a prêmio de 1% ao mês, que lhe havia emprestado Augusto Ferreira Brant, João
Pereira obrigou-se a prestar seus serviços na fazenda do credor em São Paulo de Muriaé, pelo
jornal de 4$000 rs por semana, durante o prazo de três anos, correndo por conta do próprio João
Pereira as despesas de vestuário e enfermidade; por conta do locador, as despesas do sustento do
trabalhador.64
Outro indicador do desalento da economia regional aparece no exame das transações de
compra e venda de escravos. Ao contrário do que ocorria na década de 1860, passaram a
predominar os registros de vendas de cativos para fora da região, na direção do sul, para
localidades como o Rio de Janeiro, Leopoldina, São Paulo de Muriaé, Ubá e Oliveira. A tabela 8,
construída a partir de pequena amostra dos registros de vendas de escravos na Diamantina de
1872 a 1881, permite visualizar este processo:
63 Monitor do Norte, ano 2, n. 9, p. 1, 13 de fevereiro de 1876. Acervo Soter Couto, gaveta 2, maço 13. FAFIDIA,
Diamantina.
64 BAT. Escritura de dívida e locação de serviços, Livro de Notas n. 9, Cartório do 3º Ofício, 1876, maço 162, fls.
78v-80.
33
TABELA 8 – Registros de vendas de escravos – Diamantina (1872-1881)
Tipos de transação n. n. escravos % total de escravos
Vendas para fora da região 31 43 66,1
Vendas dentro da região 16 22 33,9
Total 47 65 100
Fonte: Livros de Notas 3, 5, 6, 7, 8, 9 e 10, maço 162; 35 e 36, maço 161. BAT.
Considerando somente os cativos vendidos para fora da região, há indicações da profissão
para 23 deles. Dentre estes, oito eram mineiros (34,8%), sete eram serventes (30,4%), três
roceiros (13,0 %), um marceneiro (4,4%) e uma costureira (4,4%). Conforme Roberto Borges
Martins (2002, p. 122-123), em 1855 a população escrava da região Jequitinhonha-Mucuri-Doce
era de 35.352 cativos, representando 11% do total provincial. Em 1873, o contingente de cativos
da região era de 34.838 escravos, equivalendo a 9% do total provincial. No período 1855-1873,
este pesquisador calculou que o município de Diamantina teria perdido 1.913 escravos.
Contribuíram para essa perda decisões como a do minerador Alexandre Gomes da Silva Chaves,
que alugou praticamente toda sua escravaria a proprietários da Zona da Mata Mineira. No
testamento do minerador, datado de 6 de novembro de 1877, ele escreveu:
Declaro que meus escravos, em número de 16, salvo engano, estão contratados por um
ano com o Sr. Capitão Lucas Soares de Souza, fazendeiro, morador no termo de
Leopoldina nesta Província, cujo contrato por papel particular existe em meu poder. (...)
Em tempo retifico que são 14 e não 16 escravos deste contrato, o qual finda-se no 1º de
maio de 1878. (...) Declaro mais que minhas escravas Rita e Joana estão na mata da
Leopoldina com o Sr. Antônio Pereira da Silva Negrão, salvo erro, locatário de Joana a
20$000 rs por mês, e Rita com o Sr. José Maria de Muniz para vende-la e pagar 500 réis
ao médico que assistiu-a em parto e enfermidade. O excesso de 500 réis será dividido com
o dito por seis meses, conforme contratamos e consta de escrito particular. Com meu
genro João Coelho Lages tenho a escrava Beatriz, solteira e servente.65
Todavia, a segunda crise do diamante não poderia durar indefinidamente. A reanimação
da atividade mineradora tornou-se patente no final dos anos 1890, na esteira da instalação de
companhias nacionais e estrangeiras no Rio Jequitinhonha. Houve aumento do volume de
diamantes extraídos, expressiva recuperação dos preços (depois de 1905) e os investimentos
realizados pelas companhias mineradoras desanuviaram o ambiente regional. Os números oficiais
65 BAT. Testamento de Alexandre Gomes da Silva Chaves, Cartório do 1º Ofício, 1877, maço 92, fls. 2v e 4v.
34
da exportação de diamantes mineiros, coligidos por Rodolpho Jacob, indicam a chegada da nova
conjuntura que se estenderia até 1930, com alguma oscilação de ano a ano:
TABELA 9 – Exportações de diamantes mineiros, em quilates (1896-1903)
Ano Quilates exportados
1896 1.960
1897 4.045
1898 6.290
1899 7.555
1900 12.205
1901 10.830
1902 16.660
1903 27.535
Fonte: JACOB, 1911, v. I, p. 175.
Nesta fase de reaquecimento da economia do diamante, entre os anos 1890 e 1930, fator
de enorme relevo foi a demanda de gemas preciosas dos Estados Unidos da América, país que já
despontava como a maior potência mundial e possuía numerosa camada de milionários em busca
de símbolos de status. Compradores estadunidenses de diamantes passaram a frequentar
Diamantina ou estabelecer, na cidade, representantes seus. Fato, aliás, comemorado pela
imprensa local, como mostra a notícia transcrita abaixo:
Em companhia de seu filho A. D. Helbogen, está hospedado no Hotel do Comércio o sr.
C. M. Helbogen, grande joalheiro dos Estados Unidos da América do Norte e comprador
de diamantes e brilhantes. É uma boa ocasião de apresentarem ao distinto estrangeiro
todos os nossos produtos para propaganda das riquezas da nossa terra. Infelizmente os
pequenos negociantes de brilhantes ignoram que os pedristas mais afamados daqui
exercem um verdadeiro trust, monopolizando desta forma todo o comércio de pedras em
detrimento dos menos abastados. É, pois, esta a mais asada ocasião de se safarem dos
monopolistas e ao mesmo tempo, exibirem as nossas riquezas, que não ficam abaixo no
comércio mundial desse gênero. Devemos notar também que os nossos pequenos
negociantes ignoram o valor do que aqui chamamos fazenda grossa, pois é justamente o
que está preferindo o nosso ilustre hóspede e pagando por ótimos preços.66
As companhias mineradoras na virada para o século XX
Graças à participação de Diamantina em exposições provinciais, nacionais e estrangeiras
desde 1858, e aos esforços da Escola de Minas de Ouro Preto para modernizar o setor mineral,
capitais estrangeiros foram atraídos para o Alto Jequitinhonha. Em 1898, a Companhia Boa
66 BAT. A Idéa Nova, ano VI, n. 267, 21 de maio de 1911, maço 65, gaveta 3.
35
Vista, organizada por capitais franceses, instalou-se em lavras de Curralinho, usando máquinas
modernas e energia elétrica. Em seguida, uma companhia americana, Pittsburg Brazilian
Dreadging Co., com capital de 1.500 contos de réis, instalou a primeira draga para extração de
diamantes em Lagoa Seca, no ano de 1907. Outra companhia americana, Diamond King Mining
Co., com capital de mil contos de réis, instalou, em 1908, draga em Mendanha, no Rio
Jequitinhonha. Em 1909, formou-se em Nova Iorque a Brazilian Dreading Co., com capital de
um milhão de dólares, que instalou, no ano seguinte, pesados maquinismos no Rio Jequitinhonha,
nas proximidades de Mendanha. Assim, em 1909 havia quinze empresas estrangeiras de
mineração em Diamantina, a maioria delas americanas (COUTO, 2002, p. 237-239). Diamantina
se percebia, então, como a “Kimberley do Brasil”.67 O quadro abaixo fornece dados sobre as
empresas nacionais e estrangeiras de mineração que atuavam no município de Diamantina em
1909:
QUADRO 3 – Principais companhias de mineração (Diamantina, 1909)
Nome da empresa Capital inicial Sede Local da lavra
Pittsburg Brazilian Dreading 1500 contos Pittsburgh Lagoa Seca
Diamond King Minning Co. 1000 contos Wells Ville Mendanha
Dattas Diamond & Gold Co. 6000 contos Oil City Datas
Brazilian Diamond Placer Co. 1000 contos Pittsburgh Terra Branca
Brazilian Diamond Minning Co. 3000 contos Boston Rio Jequitinhonha
Premier Sopa Diamond Minning Co. 3000 contos Pittsburgh Sopa
Bay State Diamond Co. 1000 contos Boston Itaipaba
Lavra do Mato Minning Co. 3000 contos Oil City Lavra do Mato
Companhia Boa Vista 1282 contos Paris Bom Sucesso
Fonte: BAT. Acervo José Teixeira Neves. Caixa 3, Livro 1, fl. 29.
A Companhia de Mineração Boa Vista, com capital inicial de 1.282 contos de réis, foi
inicialmente dirigida por Luiz de Rezende e o diretor técnico foi o engenheiro Antônio
Lavandiera. As ações da empresa, de 100 francos, em pouco tempo alcançaram a cifra de 5 mil
francos cada uma. Ela operava movida por usina hidrelétrica de 100 HP, acionada pelo córrego
Junta-Junta, com desmonte hidráulico de jato de seis atmosferas de pressão e máquina de
lavagem (MACHADO FILHO, 1980, p. 188). A euforia não durou muito, porque a companhia
passou a produzir resultados oscilantes e sofrer interrupções de atividades, ao mesmo tempo em
que passava da direção de franceses para ingleses. Por volta de 1917, suas atividades estavam
67 BAT. O Itambé, n. 99, 1903.
36
paralisadas. A empresa foi reorganizada no ano de 1918, mudou de nome – para Companhia
Brasileira Diamantífera – e de controle acionário, tornando-se nacional. O capital da sucessora da
Companhia Boa Vista, com sede no Rio de Janeiro, era de três mil contos e os maiores acionistas
Henrique Lage, Guilherme Guinle, Rocha Miranda, Sampaio Corrêa, Fontes, Paulo de Frontin,
Martineli, John Gordon e Antônio Luiz Santos. O novo presidente foi o Dr. André Gustavo Paulo
de Frontin, diretor secretário Antônio Luiz dos Santos e diretor técnico o engenheiro Dr.
Estanislau L. Bousquet (professor aposentado da Escola Politécnica do Rio de Janeiro).
Em 19 de março de 1919, a Companhia Brasileira Diamantífera comprou as lavras,
máquinas e propriedades territoriais da antiga Boa Vista, das mãos da firma diamantinense
Ramos Guerra & Cia. Tudo pelo preço de 350 contos de réis, 150 contos pagos pela propriedade
imóvel e 200 contos pelas concessões diamantinas e máquinas. Ficou excluída da transação a
usina elétrica de Santa Maria, com as terras e águas que a constituíam. A firma Ramos Guerra &
Cia. se comprometeu, pelo prazo de um ano, a manter a linha de força para a casa de bombas na
Boa Vista e fornecer eletricidade para as máquinas da Companhia durante o dia, bem como
manter o telefone para serviço da mineradora.68 Dessa forma, a Companhia Brasileira
Diamantífera operou até o fim dos anos 1950.
Poucas vozes locais ousaram destoar do coro de loas às companhias estrangeiras. Uma
delas foi a Igreja que, por meio do jornal A Estrela Polar, chamou a atenção dos diamantinenses
para o caso da Mina de Morro Velho, em Nova Lima, onde “a miséria é o apanágio dos
mineiros”.69 Outra voz foi a de um cidadão americano, radicado na região e que tivera
experiência nas minas da Califórnia, que escreveu:
As leis vigentes no Brasil sobre mineração concedem uma amplitude de poderes
exorbitantes às companhias que se formam para explorar os terrenos concedidos,
prejudicando os pequenos exploradores e ao próprio estado. (...) Quanto ao Jequitinhonha,
o celeiro diamantífero do Norte de Minas, podem-se aplicar as mesmas considerações que
em relação ao Rio das Velhas [concedido a um só explorador].70
Ora, a preocupação com os pequenos mineradores nunca fora, de fato, a base das
propostas dos grandes mineradores e diamantários locais, e nem das autoridades da Repartição
dos Terrenos Diamantinos, para o setor mineral. Os grandes de Diamantina viram na corrida das
68 BAT. Escritura de venda, Livro de Notas n. 35, Cartório do 1º Ofício, 1919, maço 497, fls. 33-38v
69 BAT. A Estrela Polar, n. 24, 1905.
70 APM. Minas Gerais, n. 10, 12 de janeiro de 1905. O autor do artigo assinou JRSSR CAMRY.
37
companhias pela aquisição de lotes diamantinos uma oportunidade para catapultar suas fortunas.
As companhias precisavam de áreas para lavrar e estavam dispostas a pagar bem por elas. Os
grandes mineradores locais souberam especular com o valor dos terrenos, conforme mostram os
dois exemplos a seguir. Em 20 de novembro de 1897, o Tenente-Coronel Antônio Eulálio de
Souza constituiu seu bastante procurador o Dr. Francisco José de Almeida Brant, residente em
Ouro Preto, com poderes especiais para transferir para a Companhia Boa Vista um lote de
terrenos diamantinos, de 44 mil metros quadrados, no lugar denominado Boa Vista.71 Já o
Coronel Justiniano Fernandes de Azevedo, em 27 de novembro de 1897, constituiu seu
procurador a Charles Spitz, para vender ou ceder concessões que possuía nas cabeceiras do
Jequitinhonha, em sociedade com outros mineradores. Os lotes seriam vendidos pela quantia total
de 500 contos de réis (64.767 libras esterlinas), o pagamento podendo ser realizado em ações das
companhias interessadas.72
Os garimpeiros e faiscadores viram a chegada das companhias de mineração com um
misto de curiosidade, desconfiança e temor, a julgar pela observação da memorialista Helena
Morley sobre seu pai, o garimpeiro Alexandre Dayrell. Em 1893, o pai de Helena Morley estava
no Paraúna para ver uma lavra que um francês queria comprar e pediu a ele que fosse ver se valia
a pena. Uma semana depois, Alexandre Dayrell voltou a Diamantina e sua filha registrou as
palavras que, então, foram proferidas por seu pai:
As provas não foram boas. Meu pai diz que sabia que as lavras de lá não são iguais à Boa
Vista e à Sopa. Ele diz que o francês já encomendou maquinismos e que tirar diamante
agora vai ser diferente do sistema de bateia. Os maquinismos vão mexer tudo e os
diamantes já saem separados. Meu pai acha que para lavras boas e sem água o processo
vai ser bom, porque eles vão puxar água de longe em canudos de ferro. Eu sei que vou ter
saudades dos lavadores virando as bateias e a gente vendo o diamante estrelar no esmeril.
Só quem nasceu na mineração como a nossa família é que conhece esse prazer
(MORLEY, 1988, p.85).
Nesta citação, evidencia-se a desconfiança do minerador com relação às técnicas novas,
ao maquinismo que o francês havia encomendado. O experimentado garimpeiro admite que o
equipamento talvez oferecesse vantagens para alguns tipos de lavra, mas não vai além disso. Sua
filha é mais incisiva: a mecanização do garimpo poderia retirar-lhe seu fascínio, “que só quem
nasceu na mineração conhece” realmente. A dimensão da tradição e o desejo de garimpar como
71 BAT. Procuração, Livro de Notas n. 46, Cartório do 2º Ofício, 1897, maço 161, fls. 38v-39.
72 BAT. Procuração, Livro de Notas n. 46, Cartório do 2º Ofício, 1897, maço 161, fls. 46-47v.
38
se fazia no passado insinuam-se, aqui, na narrativa da normalista, que ela procura mostrar como
uma opinião partilhada por toda a sua família.
Que papel teria desempenhado na economia regional o capital estrangeiro atuante na
mineração, na virada do século XIX para o XX? As elites diamantinenses saudaram a chegada
das empresas estrangeiras, uma vez que elas estavam conscientes de que o setor necessitava de
maior concentração para lograr aumento de produtividade, baseado na adoção de técnicas mais
adequadas. Disso dá mostra a matéria relativa à chegada da Companhia Boa Vista, que dizia:
“Venha, portanto, o estrangeiro empreendedor arrancar todas essas riquezas que jazem do seio
da terra por falta de capital e iniciativa dos naturais”.73 A expectativa reinante na cidade era a de
que, com os “ingleses”, o progresso e a modernização se implantariam no município. As
companhias estrangeiras, operando em grande escala e empregando maquinaria complexa e
divisão técnica de trabalho sofisticada, promoveriam transformações significativas nas bases
técnicas da extração. Elas também revolucionariam o terreno das relações de trabalho, por causa
de sua opção pelo assalariamento e emprego de contabilidade racional nos empreendimentos.
Entretanto, logo se patenteou a frustração dessas expectativas. O número relativamente reduzido
de empregados dessas companhias impossibilitou difusão generalizada das novidades que elas
representavam.
Vale ressaltar que as companhias estrangeiras de mineração sempre atuaram em estreita
associação com os garimpeiros tradicionais, pois assim elas compravam minérios a preços
aviltados e promoviam a exploração de áreas de suas concessões minerais alugando-as para os
garimpeiros, eximindo-se da fiscalização oficial. Por outro lado, as companhias estrangeiras em
geral operaram com altos e baixos, com muitas interrupções e por tempo curto. As razões do
fracasso da ampla maioria delas estavam na má administração de suas atividades, nos problemas
decorrentes do uso de técnicas e equipamentos que se mostraram inadequados para a região, nos
movimentos especulativos realizados por suas diretorias nas bolsas dos países-sede dos capitais
das empresas. Enquanto, em 1909, quinze empresas de mineração atuavam em Diamantina, na
década de 1950 apenas três companhias estavam em operação: a “Brasileira Diamantífera”
(antiga Boa Vista), a “Mineração do Machado” (na localidade de Maria Nunes), ambas
comandadas por capitais nacionais, e a “Minas Serrinha”, de capital norte-americano. As
73 BAT. O Município, n. 195, 1899.
39
companhias estrangeiras, portanto, não favoreceram a acumulação interna nem modernizaram a
infraestrutura econômica e as relações de trabalho na região.
A indústria da lapidação de diamantes: esperança e fracasso
A crise internacional de preços do diamante, iniciada na década de 1870, despertou os
grandes mineradores do Alto Jequitinhonha para a conveniência de conhecer todos os meandros
da “indústria do diamante”. Eles organizaram representações que partiram para o Rio de Janeiro,
Lisboa, Londres e Amsterdã. Os representantes dos mineradores de Diamantina visitaram casas
compradoras de diamantes, lapidações, joalherias e empresas mineradoras. Voltaram convencidos
de que o diamante deveria ser industrializado. Desta disposição surgiu o impulso para a
instalação da indústria da lapidação no antigo Tijuco.
Em 1873, o jornal O Jequitinhonha saudava o nascimento do setor de lapidação em
Diamantina: “Vimos vários brilhantes lapidados na fábrica diamantinense do Comendador
Serafim Moreira da Silva pelo Sr. Josefino Pereira da Silva. O trabalho perfeito. Enfim! Está
criada a indústria da lapidação em Diamantina pela iniciativa individual”.74
As principais lapidações do município foram instaladas entre os anos de 1873 e 1875,
principalmente na cidade de Diamantina e no distrito de Gouveia. Os pioneiros do setor foram: o
Comendador Serafim Moreira da Silva, fundador da “Fábrica da Palha” (1873); o Barão de São
Roberto, Quintiliano A. Ferreira, fundador da “Fábrica Vitória Augusta” (1874) e o Conselheiro
João da Mata Machado, fundador da “Fábrica da Formação” (1875). Todos eles mineradores e
negociantes de diamantes. Os lapidários responsáveis por esses empreendimentos eram oficiais
de origem portuguesa, que aprenderam a arte de lapidar no Rio de Janeiro. No ano de 1878, os
irmãos Felício dos Santos fundaram a lapidação do Biribiri, com 18 rodas, dentro das instalações
da fábrica de tecidos da firma Santos & Cia.
Segundo José Teixeira Neves, no ano de 1887 as principais lapidações de Diamantina
eram: a Fábrica de Biribiri, com 42 rodas de lapidar; a Fábrica Vitória Augusta, instalada em
Gouveia, com 18 rodas; a Fábrica da Formação e a Fábrica da Palha, ambas com 12 rodas e
localizadas nos subúrbios da cidade. Todas essas lapidações empregavam força hidráulica para
mover seus maquinismos e mão de obra recrutada no seio da juventude da região. O capital de
giro era fornecido pela fortuna de seus proprietários, há muito envolvidos no comércio regional
74 BAT. O Jequitinhonha, 2 de setembro de 1873.
40
de pedras. A Fábrica Vitória Augusta foi fechada na ocasião da morte de seu fundador, o Barão
de São Roberto, em 1895. A Fábrica da Palha também teve suas atividades encerradas com a
morte do Comendador Serafim Moreira da Silva, no ano de 1897. A Fábrica do Biribiri, ligada
principalmente a Antônio Felício dos Santos, funcionou regularmente até meados da primeira
década do século XX, quando a firma Santos & Cia. começou a enfrentar forte crise financeira.
Em 1911, a referida lapidação foi fechada, no momento da passagem do controle da Fábrica de
Tecidos de Biribiri para as mãos do Banco Hipotecário do Brasil.
Em 1887, a produção anual de diamantes lapidados no município teria sido de 3.481g,
aproximadamente 17.400 quilates. Já no ano de 1890, havia no município de Diamantina 146
pessoas ocupadas nas fábricas de lapidação, cuja produção anual girou em torno de 5.520
quilates. A produção do ano de 1890 representou menos de um terço da produção de diamantes
lapidados do ano de 1887.
Entre 1875 e 1882, havia, em Diamantina, muitas lapidações com menos de seis rodas de
lapidar, instaladas em diversos pontos do município – Curralinho, Mendanha, Sopa, Palmital, Rio
Manso, Caeté-Mirim e Datas. Seus proprietários eram negociantes de pedras sem maiores
recursos, que não conseguiam comprar gemas brutas em maior quantidade. Para atrair fregueses,
os donos dessas pequenas lapidações e os lapidários dispararam uma “guerra de preços”,
reduzindo dia após dia o valor cobrado pelos serviços de corte e polimento dos diamantes,
afetando inclusive os preços dos serviços das maiores lapidações. Os jornais anunciaram em suas
páginas os lances dessa guerra: “A contar-se de 1º de junho próximo em diante, a lapidação de
diamantes de terceiros na Fábrica da Formação, será por combinação dos sócios, para os
diamantes de quilate para cima na razão de 15$000 por quilate e para os de 20 quilates para
cima o que se convencionar”.75 Outro anúncio: “O abaixo assinado declara que na sua fábrica
d’ora em diante, se lapida diamantes de um quilate para cima, a 12$000. Igualmente, cliva
[corta] diamantes em qualquer parte que convenha a seu dono, a 4$000 o quilate. Diamantina,
14 de fevereiro de 1876. Serafim Moreira da Silva”.76 Mais um anúncio: “Fábrica de lapidação.
Lapidam-se diamantes de quilate para cima, na fábrica de João da Mata Machado, a 8$000 por
quilate e de menos quilates até doze grãos a 10$000 por quilate. Garante-se perfeita lapidação e
75 Monitor do Norte, ano 1, n. 51, 28 de novembro de 1875. Gaveta 2, maço 12. Acervo Soter Couto. FAFIDIADiamantina.
76 Monitor do Norte, ano 2, n. 9, 13 de fevereiro de 1876. Gaveta 2, maço 13. Acervo Soter Couto. FAFIDIA.
41
brevidade”.77 Um último anúncio, que mostra, além da “guerra de preços”, as dificuldades
financeiras em que operaram as lapidações:
Josefino Pereira da Silva, tendo separado a sociedade particular que tinha com o Sr. Luiz
Paulino de Oliveira Miranda, participa aos seus numerosos fregueses que continua a
trabalhar na mesma fábrica da Palha; e atendendo a escassez de diamantes e dificuldades
de venda dos brilhantes, resolveu-se a lapidar desta data em diante a 7$000 por quilate
sendo de 4 quilates para cima, e que em vista da redução de preço na lapidação e grandes
despesas da fábrica e oficiais, não pode mais trabalhar fiado. Aproveitando esta ocasião
pede a todos os fregueses que ficaram devendo lapidação virem quanto antes saldar suas
contas.78
As numerosas lapidações de tamanho reduzido, com menos de seis rodas de lapidar, não
possuíam recursos para investir em equipamento e na qualificação profissional dos lapidários.
Operaram de forma rotineira e irregular, trocando de proprietários diversas vezes, em transações
que só faziam depreciar o capital nelas empregado. A “Fábrica dos Cafundós”, situada no distrito
de Curralinho, ilustra esta faceta da trajetória das lapidações da região. Adquirida um ou dois
anos antes das mãos de um minerador da localidade pelo casal Joaquim José Ferreira Rabelo e
Dona Amélia Eulália Vieira Rabelo, a lapidação possuía seis rodas. No dia 4 de novembro de
1878, os novos donos lavraram escritura de venda de “duas forças de roda de lapidação e partes
competentes” para João Antônio, pela quantia de 500$000 rs.79 Essa pequena lapidação, a partir
de então, ficava dividida entre dois proprietários, cada um deles com número ínfimo de rodas de
lapidar. Que perspectiva de sucesso tal arranjo poderia produzir? As pequenas lapidações,
lidando com o diamante da região que é de lapidação mais difícil, operando com técnicas e
equipamentos defasados em relação aos empreendimentos congêneres do Rio de Janeiro e da
Europa, lutando contra o costume da venda fiada e enfrentando a baixa saída dos brilhantes na
praça do Rio, entraram numa espiral de endividamento, que rapidamente levava os
empreendimentos à falência.
Mesmo as maiores lapidações tiveram dificuldades para expandir sua produção e
aperfeiçoar a qualidade dos serviços de corte e polimento, tanto em função da queda dos preços
do diamante como da baixa aceitação pelo mercado carioca das pedras lapidadas em Diamantina.
Na medida em que os preços dos serviços de lapidação mantiveram-se comprimidos, inclusive
77 Monitor do Norte, ano 2, n. 9, 13 de fevereiro de 1876. Gaveta 2, maço 13. Acervo Soter Couto. FAFIDIA.
78 BAT. Diamantina, ano 3, n. 14, 8 de julho de 1877.
79 BAT. Escritura de venda, Livro de Notas n. 36, Cartório do 2º Ofício, 1878, maço 161, fls. 51-52.
42
por causa da concorrência das pequenas “fábricas de lapidar”, faltaram recursos para a
modernização do setor. Isso porque, para homens como Serafim Moreira da Silva, Antônio
Eulálio de Souza, Antônio Cassimiro de Almeida, José Alexandre de Souza, Licínio Balsamão e
outros diamantinenses, a expansão dos negócios deveria ocorrer exclusivamente por meio do
reinvestimento de lucros, sem recorrer à emissão de debêntures ou aos empréstimos bancários.
Este foi o comportamento de diversos pioneiros da indústria têxtil mineira verificado por Maria
Teresa Ribeiro de Oliveira (2002, p. 244). Não surpreende, portanto, que a Fábrica da Formação,
do Conselheiro Mata Machado, mantivesse as mesmas 12 rodas no período 1875-1915; e que a
Fábrica da Palha, iniciada em 1873 com 12 rodas, alcançasse 18 rodas no começo dos anos 1880,
mas em 1887 voltasse a ter 12 rodas.
A tabela seguinte traz informações sobre o capital imobilizado em algumas lapidações de
Diamantina:
TABELA 10 – Capitais empregados em lapidações de Diamantina (1878-1902)
Ano* Proprietário N. rodas Capital Capital (libras)
1878 Joaquim José Ferreira Rabelo 06 1:500$000 65,39
1895 Quintiliano A. Ferreira 18 6:000$000 603,62
1895 Luiz Augusto de Ávila 04 3:764$080 378,68
1896 Souza & Balsamão 09 36:000$000 3.973,51
1902 Antônio Cassimiro de Almeida - 4:800$000 401,00
1902 Antônio Eulálio de Souza 12 10:000$000 835,42
Fonte: Acervo José Teixeira Neves, Inventários e Livros de Notas. BAT
Nota: * O ano assinalado refere-se à data para a qual há registro do capital do empreendimento.
As informações da tabela devem ser lidas com cautela. Em primeiro lugar porque, nos
negócios do diamante, a informalidade foi (e continua sendo) a regra, de modo que os dados são
lacunares e pouco precisos. Uma cortina de fumaça escondia as atividades dos mineradores e
negociantes de gemas, que buscaram insistentemente fugir do controle do Fisco. Em segundo
lugar, os registros existentes nos Livros de Notas dos cartórios diamantinenses referem-se às
firmas lapidárias, sem discriminar, na ampla maioria dos casos, as cifras concernentes a
instalações, terrenos, máquinas e equipamentos. Por exemplo, o capital da firma de Luiz Augusto
de Ávila incluía o valor de duas casas baixas de morada, cobertas de telhas e sitas no Arraial de
Datas, e o valor dos terrenos, instalações e equipamentos da fábrica de lapidação, no lugar
43
denominado Cachoeira do Dada.80 Já no caso da firma Souza & Balsamão, o capital mencionado
inclui as quantias destinadas pelos sócios para a aquisição de diamantes, isto é, o capital de giro
inicial da empresa, que ficava na casa de 24 contos de réis.
A organização do trabalho nas maiores lapidações da região não seguia modelo único. Na
Fábrica do Comendador Serafim Moreira da Silva, o mestre lapidário e os aprendizes eram
diretamente contratados pelo proprietário. O contrato de Josefino Pereira da Silva com o
Comendador, assinado em 1873, estipulava para o lapidário as seguintes cláusulas:
a) o salário do oficial seria de seiscentos mil réis mensais, como gratificação pelas pedras
que o Comendador apresentar a fim de aprender a arte de lapidação; porém, se a quantia
lapidada anualmente na fábrica ultrapassar os seiscentos mil réis, ele receberia o valor de
mil réis por quilate cortado e polido; b) os diamantes que o proprietário permitisse aos
aprendizes lapidar nos domingos e dias santos não entrariam nos cálculos de remuneração
do oficial; c) o oficial obrigava-se a ficar no trabalho da Fábrica até 1875 e; d) toda
despesa de comestíveis correria por conta do proprietário.
81
Documento similar foi firmado entre o Comendador e os aprendizes de sua lapidação, os
jovens Olegário José de Figueiredo, Rafael Antônio Coelho e Elias Cândido da Silva,82 pelo qual
estes últimos se dispunham a trabalhar “do nascer ao pôr do sol” exclusivamente para a Fábrica
do Comendador, durante cinco anos, sob pena de pagar multas elevadas caso rescindissem o
contrato. Os aprendizes comprometiam-se, também, a lapidar somente os diamantes do
proprietário.
Era outro o modelo de funcionamento da lapidação dos franceses Richies & Vial, situada
na Palha. Suas rodas eram alugadas para os discípulos dos mestres lapidários Josefino Pereira da
Silva e Luiz Paulino de Oliveira Miranda.83 Um terceiro modelo de funcionamento de lapidação
aparecia na empresa Souza & Balsamão, que começou a operar no distrito de Datas em 1896,
com nove rodas de lapidar. Esta sociedade mercantil, anteriormente referida, tinha os objetivos de
comprar diamantes, lapidá-los e vende-los nas praças de Diamantina e do Rio de Janeiro. O sócio
José Alexandre Souza, que entrou com 24 contos de réis, encarregava-se da compra dos
diamantes; o segundo sócio, Licínio de Oliveira Balsamão, que entrou com 12 contos de réis,
80 BAT. Escritura de dívida e hipoteca, Livro de Notas n. 19, Cartório do 1º Ofício, 1895, maço 42, fls. 42-44.
81 BAT. Escritura de contrato, Livro de Notas n. 19, Cartório do 1º Ofício, 1873, maço 42, fls. 8v-10v.
82 BAT. Escritura de contrato, Livro de Notas n. 19, Cartório do 1º Ofício, 1873, maço 42, fls. 10v-12v.
83 BAT. Acervo José Teixeira Neves, caixa 7, envelope 5, fl. VII.
44
fazia o trabalho de lapidação.84 Isto sugere que a “fábrica de lapidação” propriamente dita fora
montada com capital de 12 contos de réis ou até menos.
No ano de 1877, o jornal Monitor do Norte percebeu que o futuro das lapidações de
Diamantina não seria tão promissor quanto desejara, em 1873, o editorial do periódico O
Jequitinhonha. Em 4 de fevereiro de 1887, o Monitor do Norte publicou a seguinte matéria:
Mais ou menos até julho do ano passado iam-se vendendo regularmente no Rio de Janeiro
os diamantes lapidados em nossas fábricas, e com quanto os preços pouco animassem, o
pequeno lucro e a pronta venda estimulavam a lapidação e remessa, e assim até esse
tempo alguma coisa se fez. De agosto para cá, os preços de nossos brilhantes caíram no
mercado do Rio de Janeiro a uma cotação tão baixa, que é impossível (...) sujeitar-nos a
ela.85
Para os redatores do Monitor do Norte, a razão do problema era dupla: de um lado, o fato
de que “o Rio, na verdade, [era] um mercado relativamente pequeno, [que] não comporta
grande sortimento de diamantes lapidados”; de outro lado, a queda dos preços dos brilhantes era
principalmente decorrência da ação dos “especulistas da Europa, que têm interesse em fazer
desaparecer as nossas fábricas”. Para enfrentar o problema, os redatores sugeriram que os
diamantinenses continuassem a lapidar suas gemas, mas que as retivessem pelo tempo necessário
para fazer subir os preços dos brilhantes, e só então enviá-los ao Rio de Janeiro. A proposta dos
homens de imprensa da cidade simplesmente não era factível, porque exigia um grau de
articulação entre os atores, envolvidos na restrição voluntária da oferta de brilhantes, nunca
encontrado no mundo da mineração regional. Na verdade, o problema pouco decorria da ambição
dos europeus, mas do fato de que a indústria local não possuía condições para enfrentar a da
Capital e a da Europa por causa da deficiência da aparelhagem e da menor qualificação dos
lapidários diamantinenses. Por isso, “no Rio, no Pátio dos Milagres, onde existe o comércio de
diamantes lapidados, as pedras de lapidação defeituosa são consideradas ‘pedras de lapidação
diamantina’”.86
A tabela seguinte traz informações sobre a variação temporal do número de lapidações no
município de Diamantina, mostrando que o setor estava em vias de desaparecer a partir da década
de 1890:
84 BAT. Escritura de contrato, Livro de Notas n. 19, Cartório do 1º Ofício, 1896, maço 42, fls. 86-87.
85 Monitor do Norte, ano 3, n. 4, 4 de fevereiro de 1887, p. 2. Acervo Soter Couto, gaveta 2, maço 13. FAFIDIA.
86 BAT. Voz de Diamantina, ano 3, n. 1, p. 4, 26 de março de 1938.
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TABELA 11 – Número de lapidações em Diamantina (1875-1919)
Ano Número de lapidações
Com 10 ou mais rodas Com menos de 10 rodas Total
1875-1882 6 12 18
1887-1892 4 3 7
1896 4 1 5
1912 1 1 2
1916-1919 3 - 3
Fonte: BAT. Acervo José Teixeira Neves. A Estrela Polar, n. 46, 24 de novembro de 1912.
Na década de 1910, restava no município apenas uma lapidação digna de destaque: a
Fábrica da Formação, adquirida em 1915 por José Neves Sobrinho, grande comerciante
(proprietário da “Casa Cruzeiro do Sul”) e comprador de diamantes. Assim que assumiu o
comando da lapidação da Formação, José Neves Sobrinho pôs a funcionar 36 rodas de lapidar e
instalou luz elétrica e telefone nas dependências do empreendimento, no ano de 1919. No serviço
de lapidação de José Neves Sobrinho trabalhavam, em 1922, 36 operários, gerando produção
anual de 400 quilates de pedras lapidadas, com valor estimado em 350 contos de réis, ou 48.409
libras esterlinas.87 A remuneração dos operários era pelo “sistema de empreitada” – recebiam de
acordo com sua capacidade de trabalho, de 8$500 a 60$000 rs o quilate lapidado, conforme o
tamanho do diamante e a qualidade do trabalho realizado.88 Quando os negócios de José Neves
Sobrinho foram enredados pela crise de 1929, a fábrica de lapidação recebeu avaliação de 100
contos de réis (2.273 libras esterlinas).89
A forte redução do número de lapidações nas primeiras décadas do século XX pode ser
explicada agregando-se, aos fatores anteriormente citados, a tendência ascendente dos preços dos
diamantes a partir de 1905. Com a entrada vigorosa dos americanos no mercado regional de
pedras, logo após o término da Primeira Guerra, o preço da oitava de diamantes ficou, por alguns
anos, em torno de três contos de réis, incríveis 210 libras esterlinas.90 Assim, para os mineradores
87 Cabe destacar que, conforme o Relatório do Secretário das Finanças de Minas Gerais (Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1929), referente ao exercício de 1928, a exportação de diamantes e pedras preciosas (em gramas), no ano de
1922, foi de 707.311. Vê-se, pois, que a quantidade de diamantes lapidados nesse mesmo ano em Diamantina, 400
quilates, é ínfima. Na verdade, isso ocorreu em todo o período aqui estudado.
88 BAT. O Momento, 15 de janeiro de 1922, p. 3, gaveta 6, maço 91.
89 BAT. Concordata preventiva de José Neves Sobrinho, Cartório do 2º Ofício, 1930, maço 216, fl. 4.
90 Para uma crônica ainda que com lacunas da tendência de alta dos preços dos diamantes no período 1905-1920,
pode-se consultar a matéria do jornal O Momento, de 15 de janeiro de 1992, comemorativa do valor das riquezas e
possibilidades econômicas de Diamantina. BAT. Gaveta 6, maço 91.
46
locais não fazia sentido lapidar as gemas extraídas. O melhor era vendê-las rapidamente, brutas
mesmo. Esse foi o golpe de misericórdia no setor.
Olhada em perspectiva, portanto, a indústria de lapidação em Diamantina fracassou
redondamente porque não logrou alcançar os objetivos esperados no início da década de 1870. As
lapidações do município, tecnicamente defasadas e a maioria delas de funcionamento bastante
curto e irregular, processaram quantidades reduzidíssimas das pedras extraídas nas lavras da
região, agregando pouco valor ao principal produto da economia regional.
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48
ANEXO 1 – Grandes mineradores do município do Serro (1865-1869)
Local Ano Mineradores Imposto
(R$)
Córrego dos Ausentes 1866 Aureliano Augusto Leão 56,6 mil
Capivari 1866 Nicolau Teixeira de Araújo 43 mil
Brogodões (rio do Peixe) 1868 Joaquim Carlos de Abreu, Dr. José Joaquim Ferreira
Rabello, João José Simões, Henrique Carlos de
Vasconcellos Lessa, Modesto Correia de Almeida e
José Feliciano Correia da Almeida
35 mil
Córrego Cadete (rio do
Peixe)
1866 Major José Ávila Bittencourt 31,9 mil
Córrego Água Quente 1868 Firmiano Corrêa de Souza 30 mil
Rio Capivari 1868 Joaquim Pereira de Assumpção 30 mil
Córrego Duas Pontes 1868 Joaquim Carlos de Abreu, Dr. José Joaquim Ferreira
Rabello, Dr. Bernardino José Pereira de queirós,
Joaquim Antônio de Souza, Serafim Alves Pinheiro
30 mil
Brumado (Descoberto) 1868 Vigário Agostinho Francisco Paraíso 30 mil
Córrego Bernardino 1869 Antônio Raimundo da Costa 30 mil
Córrego Riacho (Pedra
Redonda)
1868 Luiz Ferreira dos Santos, Luciano Jorge de Souza 30 mil
Córrego Santana (Pedra
Redonda)
1868 Luiz Ferreira dos Santos, Luciano Jorge de Souza 30 mil
Córrego Malheiro 1868 Pedro Vieira Pinto 30 mil
Córrego São João 1869 Joaquim Rodrigues de Loyola (confluente Rio do
Peixe)
30 mil
Córrego Pai Félix 1869 Francisco de Paula Araújo (confluente do Capivari) 30 mil
Córrego Gales 1869 José Libânio Horta 30 mil
Massangano 1866 João Jacomeny 30 mil
Rio do Peixe 1867 Pedro Generoso de Almeida e Silva 30 mil
Córrego Retiro (Cafundós) 1864 José Ferreira 30 mil
Córrego Sumidouro 1868 Manuel Francisco Lopes (Pedra Redonda) 30 mil
Capivari Pequeno 1868 Serafim Ribeiro Caldas 30 mil
Córrego Prata Grande 1868 José Pedro Lessa 30 mil
Córrego Retiro e Ribeirão
São Bartolomeu
1869 José Pedro Lessa 30 mil
Córrego Mandiocal 1868 Paulo Fernando Leão, Pedro Barreto Lima, Torquato
Pinheiro Neves
30 mil
Córrego São Gonçalo 1865 Capitão João Raimundo Mourão 20 mil
Rio do Peixe 1866 Dario Clementino da Silva 20 mil
Acabasaco 1866 Francisco José de Souza 20 mil
Córrego São Gonçalo 1867 Francisca Tereza d’Aguiar Souza 20 mil
Rio do Peixe 1867 Dr. José Joaquim Ferreira Rabello 19 mil
Rio do Peixe (Caeté) 1866 Francisco José Simões 20 mil
Fonte: APM. Livro de Termos de Contrato e Arrendamento de Lotes (Serro, 1865-69). TD-08.
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