General
Couto de Magalhães durante o golpe da República em São Paulo
Na época
não havia internet, mas o telégrafo cumpria bem a sua função. Na tarde de 15 de
novembro de 1889, o então presidente da província de São Paulo, General Couto
de Magalhães, já tinha conhecimento do golpe militar ocorrido no Rio de Janeiro.
Nessa noite, a sede do Clube
Republicano paulista fervilhava. Por aclamação, Prudente de Moraes, Rangel
Pestana e o Major Souza Mursa deveriam governar o estado provisoriamente. Uma
comissão formada por Campos Sales, Rangel Pestana, Martinho Prado Jr., entre
outros, dirigiu-se para o Palácio do Governo, então no Pátio do Colégio, para
dar conta da escolha do novo governo constituído. Pediram que Couto de
Magalhães entregasse a administração da província, porém o velho militar,
veterano da Guerra do Paraguai, recusou a solicitação. Havia sido empossado em
seu cargo por um governo legalmente estabelecido e só por ordem de outro,
igualmente legal, se retiraria. Achava que a “quartelada carioca” não vingaria.
Mas, no
dia seguinte, confirmada a notícia do golpe, da deposição do imperador e da
prisão do ministério, Couto de Magalhães acabou por entregar o poder à junta e
deixou o palácio entre alas respeitosas de populares, acompanhado por Prudente
de Moraes.
Couto de Magalhães, monarquista convicto, recusou-se a participar do novo regime imposto. Convidado pelo Conselheiro Leôncio de Carvalho, como membro do Liceu de Artes e Ofícios, a juntar-se à delegação que ia visitar as autoridades recém-empossadas,
Couto de Magalhães, monarquista convicto, recusou-se a participar do novo regime imposto. Convidado pelo Conselheiro Leôncio de Carvalho, como membro do Liceu de Artes e Ofícios, a juntar-se à delegação que ia visitar as autoridades recém-empossadas,
recusou: “Tendo, porém, sido há
pouco funcionário de alta confiança do governo decaído, julgo que a minha ida a
palácio para cumprimentar oficialmente o governo provisório não teria outro
efeito além de aumentar de mais um nome a longa lista daqueles que os
republicanos antigos devem considerar como pretendentes importunos dos
proventos e honras de uma situação que não ajudaram a criar”.
Republicanos de segunda, terceira,
quarta e quinta hora é que não faltaram. Sobretudo na Câmara de São Paulo, onde
somente três vozes se levantaram contra o golpe militar. Um dos mais veementes
foi o vereador Vicente Pereira da Silva: “(…) se tivesse de atender unicamente
as conveniências públicas, desde já prometeria (…) franca e leal coadjuvação
aos que, a 15 do corrente mês, fundaram provisoriamente um novo regime político
para esta grande nação, sob a ditadura militar; porque os povos precisam que,
de tempos em tempos, se lhes sequestrem as liberdades para saberem o valor que
elas tem (…). Até então, em nome da ordem, contribuirei, como puder, para a
conservação da paz, mesmo porque movimentos políticos só servirão para
justificar a manutenção do poder discricionário, medicamento violento que deve
cessar, mal o doente pareça restabelecido”.
Quatro dias após a proclamação
militar carioca, a câmara paulista baniu o restante dos símbolos monárquicos da
cidade. Martinho Prado Jr. e outros vereadores instituíram novas designações
para as ruas do centro da cidade. Na lista abaixo algumas das principais ruas
cujas nomenclaturas foram alteradas.
Lista das principais ruas com
nomes alterados:
Rua do
Imperador -> Rua Marechal Deodoro
Rua da Imperatriz -> Rua XV de Novembro
Rua da Princesa -> Rua Benjamin Constant
Rua Conde D’Eu -> Rua do Glicério
Rua do Príncipe -> Rua Quintino Bocaiúva
Rua de São José -> Rua Líbero Badaró
Praça 7 de Abril -> Praça da República
Rua da Imperatriz -> Rua XV de Novembro
Rua da Princesa -> Rua Benjamin Constant
Rua Conde D’Eu -> Rua do Glicério
Rua do Príncipe -> Rua Quintino Bocaiúva
Rua de São José -> Rua Líbero Badaró
Praça 7 de Abril -> Praça da República
No mapa de 1881, ruas ainda com os
nomes imperiais.
Nos dias que se seguiram, Leôncio
de Carvalho e Couto de Magalhães trocaram diversas farpas pelas páginas do
Diário Popular. O velho conselheiro retrucou a carta pública de recusa de Couto
em ir cumprimentar os novos dirigentes e recebeu tréplica, na qual o governador
deposto afirmava: “Isto, para mim, se é que é queda da monarquia, ainda não é
estabelecimento da República, senão em nome, ainda não estou certo se
caminhamos para ela ou se nos afastamos”. E, parafraseando o Ministro do
Interior recém-empossado, afirmava que o povo não havia tomado parte no
movimento, mas sim “assistiu (…) bestificado, como quem assiste a uma parada”.
A queixa contra a mudança dos símbolos nacionais também estava presente:
“Constou aqui que o marechal Deodoro queria a continuação da bandeira nacional,
com eliminação apenas da coroa. (…) No entanto, prevaleceu a bandeira com o
lema positivista – ordem e progresso; somos a única nação do mundo que tem
nisso um letreiro, o que é tão supinamente ridículo, que o povo aqui a denominou
– bandeira marca cometa!”.
A indignação de Couto de Magalhães
quanto à falta de previsão de uma nova constituinte iria se arrastar durante
mais de um ano. Uma nova Carta Magna só seria promulgada em 1891 e, diferente
da monarquia, que defendia a pluralidade de ideias e que não impediu o
surgimento de partidos republicanos, proibia que fossem discutidos outras
formas de governo que não o republicano.
Em charge da época, o Imperador D.Pedro II é derrubado do trono.
Não sendo instituída pelo povo,
não tendo sustentação das massas, a república brasileira fez-se pela força
militar. O símbolo máximo da monarquia brasileira, a família imperial, seria
banida por mais de trinta anos. Uma geração inteira cresceu sob a propaganda
positivista, que demonizava a monarquia, transformando D. João VI em um glutão
comedor de frangos, D. Pedro I em um devasso e D. Pedro II em um pseudossábio
dorminhoco que se importava mais com múmias e aprender aramaico do que lidar
com o governo de seu país.
Origem do Texto Site São Paulo
Antiga
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