Narra a
história do velho Tijuco, as atrocidades que sofreu o pobre garimpeiro Isidoro,
maritizado pela prepotência do domínio português.
Fora escravo de Frei Rangel, e era
dos mais entendidos em serviço de mineração.
Na atual e alegre vivenda, de
propriedade de Humberto Moreira da Silva, conceituado serventuário público e
Escrivão do Registro de Imóveis da Comarca, é que ficava a velha cadeia
pública, onde Isidoro foi preso e diariamente supliciado.
Pelo motivo de Isidoro, a mandado do
seu senhor, haver faiscado em lavras que pertenciam á Real Fazanda, foi preso,
como contrabandista e confiscado a seu senhor, passando a pertencer ao serviço
do Rei.
Homem pobre, mas de brio, Isidoro
foi obrigado a trabalhar de calcêta.
Limando os ferros da grade da
prisão, conseguiu fugir, indo ajuntar-se a muitos escravos fugidos, tornando-se
o chefe deles, na garimpagem.
Conhecia todo o terreno diamantino e
vendia ocultamente os diamantes que tirava.
O Intendente João Inácio não
conseguia prender Isidoro, nada valendo a recompensa que oferecia a que o
trouxesse vivo ou morto.
Sucedendo a João Inácio Modesto,
Antonio Mayer, este Intendente não perseguiu, porém, os garimpeiros.
O famoso Intendente, desembargador
Manoel Ferreira Câmara Bitencourt, que sucedeu a Modesto Antonio Mayer,
tornou-se implacável em perseguir Isidoro.
Não obstante os benefícios que
prestara a Diamantina, Câmara, com sua perseguição a Isidoro, conseguiu com o
poder da força, batidas e tocaias, prender o herói garimpeiro.
Em junho de 1809, amarrado á cauda
de um cavalo, entrou preso na Cadeia Velho do Largo do Rosário, com seu corpo
ferido e a escorrer sangue.
Apesar do martírio que lhe
infringia, Isidoro nada revelou, sendo açoitado a mandado de Câmara.
Depois de retalhado o corpo da
vítima inocente, o Intendente Câmara, arrependendo-se do que fizera e pedindo
perdão a Isidoro, que ainda com a fisionomia agonizante, teve a grande
satisfação de ver reconhecida a sua inocência.
Quando Isidoro espirou, o povo
derramou lágrimas, dizendo todos, ao passar o corpo de martir: “ali vai um
martir inocente”!
A estação do diamante no Tijuco,
começou a ser feita, mediante contrato, desde 1739.
O Contratador podia empregar no
serviço até 60 escravos, devendo pagar á Metrópole, anualmente, 240.000 por
escravo.
Esse imposto tinho o nome de
capitação; os escravos que trabalhavam por conta do Contratador, chamavam-se
capitados.
O contrato durava 4 anos.
A pessoa que minerava escondido,
chamava-se garimpeiro. Este sendo pilhado era obrigado a entregar todos os seus
bens.
Se porém, não os possuía, era preso
e metido no tronco.
Se o garimpeiro resistia a prisão,
era morto e enterrado á beira da estrada, quando não lançavam seus corpos no
ribeirão mais próximo, ou o deixava insepulto, para repasto dos urubus.
O povoado do Tijuco tinha horror do
Livro da Capa Verde, que continha as proibições mais absurdas e impunha
serveras penas aos contrabandistas de diamantes. Eram tais os vexames mandados executar
por esse livro, que seu nome era pronunciado com terror!
Em 1821, um ano antes da
Independência do Brasil, por toda parte, nas ruas, sacadas das casas, o povo
gritava: - Fora o Livro da Capa Verde! Abaixo o Intendente!
Um ano depois foi proclamada a
Independência do Brasil, ficando livre o jugo português, nossa querida pátria.
J.A.N. Voz
de Diamantina, O Passado de Diamantina –0 Isidoro – O Mártir, pág. 3, ano LII,
nº 3, Dtna, 18 de abril de 1954.
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