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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Outro mito sobre o escravo Isidoro





Narra a história do velho Tijuco, as atrocidades que sofreu o pobre garimpeiro Isidoro, maritizado pela prepotência do domínio português.
            Fora escravo de Frei Rangel, e era dos mais entendidos em serviço de mineração.
            Na atual e alegre vivenda, de propriedade de Humberto Moreira da Silva, conceituado serventuário público e Escrivão do Registro de Imóveis da Comarca, é que ficava a velha cadeia pública, onde Isidoro foi preso e diariamente supliciado.
            Pelo motivo de Isidoro, a mandado do seu senhor, haver faiscado em lavras que pertenciam á Real Fazanda, foi preso, como contrabandista e confiscado a seu senhor, passando a pertencer ao serviço do Rei.
            Homem pobre, mas de brio, Isidoro foi obrigado a trabalhar de calcêta.
            Limando os ferros da grade da prisão, conseguiu fugir, indo ajuntar-se a muitos escravos fugidos, tornando-se o chefe deles, na garimpagem.
            Conhecia todo o terreno diamantino e vendia ocultamente os diamantes que tirava.
            O Intendente João Inácio não conseguia prender Isidoro, nada valendo a recompensa que oferecia a que o trouxesse vivo ou morto.
            Sucedendo a João Inácio Modesto, Antonio Mayer, este Intendente não perseguiu, porém, os garimpeiros.
            O famoso Intendente, desembargador Manoel Ferreira Câmara Bitencourt, que sucedeu a Modesto Antonio Mayer, tornou-se implacável em perseguir Isidoro.
            Não obstante os benefícios que prestara a Diamantina, Câmara, com sua perseguição a Isidoro, conseguiu com o poder da força, batidas e tocaias, prender o herói garimpeiro.
            Em junho de 1809, amarrado á cauda de um cavalo, entrou preso na Cadeia Velho do Largo do Rosário, com seu corpo ferido e a escorrer sangue.
            Apesar do martírio que lhe infringia, Isidoro nada revelou, sendo açoitado a mandado de Câmara.
            Depois de retalhado o corpo da vítima inocente, o Intendente Câmara, arrependendo-se do que fizera e pedindo perdão a Isidoro, que ainda com a fisionomia agonizante, teve a grande satisfação de ver reconhecida a sua inocência.
            Quando Isidoro espirou, o povo derramou lágrimas, dizendo todos, ao passar o corpo de martir: “ali vai um martir inocente”!
            A estação do diamante no Tijuco, começou a ser feita, mediante contrato, desde 1739.
            O Contratador podia empregar no serviço até 60 escravos, devendo pagar á Metrópole, anualmente, 240.000 por escravo.
            Esse imposto tinho o nome de capitação; os escravos que trabalhavam por conta do Contratador, chamavam-se capitados.
            O contrato durava 4 anos.
            A pessoa que minerava escondido, chamava-se garimpeiro. Este sendo pilhado era obrigado a entregar todos os seus bens.
            Se porém, não os possuía, era preso e metido no tronco.
          Se o garimpeiro resistia a prisão, era morto e enterrado á beira da estrada, quando não lançavam seus corpos no ribeirão mais próximo, ou o deixava insepulto, para repasto dos urubus.
            O povoado do Tijuco tinha horror do Livro da Capa Verde, que continha as proibições mais absurdas e impunha serveras penas aos contrabandistas de diamantes. Eram tais os vexames mandados executar por esse livro, que seu nome era pronunciado com terror!
            Em 1821, um ano antes da Independência do Brasil, por toda parte, nas ruas, sacadas das casas, o povo gritava: - Fora o Livro da Capa Verde! Abaixo o Intendente!
            Um ano depois foi proclamada a Independência do Brasil, ficando livre o jugo português, nossa querida pátria.
J.A.N. Voz de Diamantina, O Passado de Diamantina –0 Isidoro – O Mártir, pág. 3, ano LII, nº 3, Dtna, 18 de abril de 1954.

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