RAIMUNDO NONATO DE PAULO (CEGO)
Nasceu em Diamantina, no alto da rua das Mercês, indo depois com a mãe para a Fábrica de Biribiri Lá, menino conheceu Dom João, o major João Felício, Dona Mariana e esteve presente na fabricação do sino maior do Seminário (1888) e da capela de lá.
Já crescido voltou para a sua rua das Mercês - mais tarde um porteiro do Seminário foi indelicado para com o major Amônio de Oliveira Balsamão e o procurador Padre João Anésio, magoado despediu o malcriado e convidou o Raimundo para substituí-lo.
Um cego! Incrível! Pois foi dos melhores de casa. Atendia a todos, chamava os padres, transmitia recados aos estudantes, entregava a roupa ás lavadeiras na segunda feira, na Semana Santa vigiava mais o Seminário quando os estudantes estavam no Ofício de Trevas na Sé- Catedral. Trancava as portas e janelas de noite e na portaria vendia os produtos de casa.
Foi por um período de cinquenta anos como sineiro da Igreja de Pedra (Seminário de Diamantina) e era ainda que batia o sino (Justino Alegria) do despertar dos alunos, ás 5 da manhã.
Voltando do sinal do tempo do frio forte a "Lamparina" gritos do "Alto da Pitangueira": "Levanta, meninada, porque quem muito dorme pouco aprende" e o Raimundo da portaria acrescentou "Custou acertar mas acertou " e soltou a sua risada típica.
Para descansar da portaria o Padre Bernardo Kuessem o fez sair de tabuleiro vendendo hortaliças na rua, vendia tudo, conhecia as moedas, as notas e apresentava contas certas. Só pedia ao hortelão José Miranda e auxiliar ocasional (Zico do Seminário) que lhe fornecessem verduras frescas e vistosas.
Nas férias quando os seminaristas estavam em casa era cantor nas missas de domingo e nas Bençãos.
Nas ruas, só como sua bengala, não esbarrava nos animais de cela e de carga, menos ainda nas esquinas.
Com boa memória retentiva relatava casos do major João Felício, de Dona Mariana, do Padre Miguel Sipolis, do procurador Padre Aquiles Bernardini, Padre Derely, Padre João Anésio e dos comandantes do Nono Batalhão.
Na Banda do Seminário durante algum tempo tocou zabumba (Bombo) e cantava os hinos, dobrados e marchas com fidelidade.
Fazia ainda compras para os alunos, Nunca tirou troco para ele e nem se enganou na entrega.
Não era larápio e nem logrador.
Para terminar o Padre Eduardo (cego) queria ir á Chácara dos Padres e não achava guia, o Raimundo se ofereceu e o conduzia.
O padre Benjamim Amorim vento isto, sorriu, e acabou a Viagem para ele.
Gostava de cumprimentar com seu atraente repique de sinos a passagem da procissão da Luz todos os anos em fevereiro pela Praça Dom João.
O Raimundo cego sempre foi grato aos padres do Seminário pelo que fizeram por ele. Ao padre que, de vez em quando lhe pagava a lavagem de roupa e ultimamente ficou mais alegre porque o Reitor padre Montalvão e o professor padre Carlos Zanatta lhe ofereceram uma capa gaúcha na ocasião do frio,
Raimundo o Cego de Diamantina ficou ainda celebrizado numa poesia composta e publicada em "A Estrela Polar" pelo poeta padre Belchior Neto e um retratinho dele continua no arquivo da Chácara dos Padres.
A Estrela Polar, pág.2, Diamantina,1969.
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