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sexta-feira, 10 de abril de 2020

Coisas do passado


Coisas do passado de Diamantina
Do livro inédito do professor José Augusto Neves
O 3 de maio em Diamantina
Outras notas
Desapareceu, de há muito, nesta cidade, a simpática e atraente festa do antigo Cruzeiro do Rosário, que agora, fica as escuras, na solidão—cruzeiro que aquela original gameleira dele se
apossou, partindo-o pelo meio, a procura da terra. _
Nos antigos tempos, realmente, a festa do Cruzeiro do Rosário era um encanto, quando dela se encarregava o simpático velho Cláudio Ribeiro de Almeida, agente do correio e diretor—regente da banda de música do «Coro Grande» ou «Corão!», nome que parece ter sido adotado, em anteposição ao «Corinho», outra banda local que havia na cidade, e considerada sua rival.
O velho Cláudio era bom musico e cantava bem. Parece que qualquer incomodo o impedia de caminhar, pois tinha um burrinho queimado, em que vivia amontado, sendo, ás vezes, carregado pelos populares Cassimiro e Pedro, vulgo Bigorrinha.
D. Ritinha, senhora distinta e mui relacionado em Diamantina, era esposa do Cláudio e mãe do Claudino, elemento de destaque em nosso meio, não só na imprensa, como no Foro local.
D. Ritinha, todos os anos, no dia da festividade do Cruzeiro do Rosário, encarregava-se, com carinho, do café com cuscus ou broas saborosas, para obsequiar aos devotos que rezavam até
alta noite, ao relento, o santo terço, ao pé do Cruzeiro, sempre caiadinho de novo e iluminado a candeias de azeite fumarento, feitas de argila amarela ou de cascas de laranja azeda seca.
Ao aproximar-se o dia 3 de Maio, a calçada fronteira á igreja do-Rosário, era capinada pela meninada. Postes de madeira branca; roliça (paus a piques), se levantavam, para se erguerem
as arcadas de bambu, enfeitadas de taquara indígena e de papagaio, folhagem vermelha e leitosa, só empregada na ornamentação dos cruzeiros, ou das ruas, por ocasião das procissões da Ressurreição e Corpus Christi, espalhada sobre a areia cristalina do Rio Grande, ou das furnas do Beco do Amontolia.
 A iluminação dos cruzeiros era feita com lanternas de papel multicores, dependuradas nas arcadas, e por fogueiras da nossa canela de azeite ou perna de ema, excelente combustível de nossos terrenos arenosos, entre serras.

Imagem da internet

O velho Cláudio, insuante e bom, era o agente do correio da cidade e a correspondência nos vinha de Ouro Preto, em lombo de burro, a princípio, de 4 em 4 dias. passando pela estrada do Serro.
As 2 horas da tarde mais ou menos, os anciosos por notícias da Capital e da Corte (RioJ, se aglomeravam atrás da velha Igreja do Rosário, á espera que apontasse, na longínqua estrada do Ribeirão, os burrinhos do Correio. Quase todos que esperavam o correio, assistiam á abertura das malas, e o agente Cláudio lia, em voz alta, o endereço das cartas, recebendo cada assistente a sua. Pouco tempo depois, a agência teve um carteiro, o Dedico, que foi substituído, mais tarde, pelo Luiz Xodó, poe do Pe. Luiz Transfiguração; pelo Mundino Botija (Raimundo Nonato do Silva). Jucá Boi (José Joaquim da Conceição) e pelo popular Valongo
(José Antonio de Lima).
Tempos depois, foi nomeado agente o sr. Gustavo Soares de Vasconcelos Lessa, transferindo-se a agencia para sua residência, á Praça Barão de Guaicui, antiga Cavalhada Velha e hoje
mais conhecida pelo nome de Praça do Mercado. Um foguetão anunciava a chegada do correio.
Anos depois, foi instalada em Diamantina a Sub-Administração dos Correios, subordinada á Administração de Minas.
CÔRO DA VELHA SÉ.—Ainda guardamos na memória aquele coro da velha Sé, de que era harmonista o saudoso conterrâneo João Nepomuceno de Silva (o João Botija), tio do narrador
destas linhas, e que morava atrás da Igreja do Rosário. Compunha-se esse coro de suas dignas filhas, todas inteligentes e músicas: Ana da Natividade Silva, Maria Josefina da Silva,. Virginia da Silva e Teodora Cândida da Silva, esta. a única sobrevivente, viúva do saudoso prof. João Procopio Gomes Ribeiro.  Esse coro era custeado pelo Sr. Bispo D, João—Certa vez, tendo as moças alunas da Escola Normal feito uma promessa de cantarem, nas solenidades, durante o Mês de Maria, se fossem felizes nos exames finais, alcançaram, afinal, a graça imperada,
e foram cantar no Mês de Maria, acompanhada do maestro João Batista de Macêdo (o Pururuca-) e de alguns músicos: da banda do «Corão», cumprir o voto que fizeram.
O João Botija, porém, como harmonista da Sé, não teve, por isso; no primeiro dia do Mês de Maria, trancou-se no coro do velho templo, e recusou-se a abrir a porta para as normalistas e
músicos do «Corão». Lá se trancou pôs-se pacientemente, a tocar harmônio, sendo preciso que as moças-normalistas e os músicos funcionassem mesmo cá de baixo, no Mês de Maria.
No dia seguinte, porém, o santo Bispo, tudo harmonizou.
João Botija era bom músico, fora sargento de polícia, com divisas de galão, naquele tempo, e também porteiro da Intendência Municipal.
Primeira Escola Normal de Diamantina!—Esta escola nos deu o grande parlamentar diamantinenses conselheiro João da Matta Machado, que, em certa ocasião, nossa terra recebeu com estrondosas festas, entregando-lhe a sua chegada, vindo do Rio a chave de ouro do portão de sua cidade natal, ali no termino do Caminho do Carro, em frente á antiga casa do Comendador Serafim Moreira da Silva, hoje propriedade da viúva João Antonio de Sousa Neves.
E que professores de peso e medida tinha aquele estabelecimento de ensino!
Compunha-se, assim, o seu corpo docente: Sebastião Corrêa Rabelo, professor de Português-; João N. Kubitschek (autor da Hermengarda), professor de Pedagogia, História Sagrada e catecismo; dr. Francisco Corrêa Rabelo, de Aritmética dr. Teodomiro Alves Pereira, de Geografia e História do Brasil; José Joaquim Pedro Lessa, de Francês; José da Cunha Vale Laport, Geometria e Desenho; e depois também de Caligrafia e Ginástico; João N. Ribeiro Ursini, de Música; da Escola Prática do sexo masculino: 1º professor D. Carlos Frederico de Castelo Branco Rolim; 2º prof. José Ferreira de Andrade Brant Junior; 3º. prof, João da Matta Gomes Ribeiro Sobrinho; da escola pratica do sexo feminino; 1ª  professora, d. Joaquina Lopes de Almeida: 2a, d. .Maria Salvelina Alves Pereira; 3ª., sua filha, d. Inhazinha Alves Pereira; 4ª, d. Garibaldina Rocha; d. Josefina Coelho Refeld; d. Realina Teixeira de Sousa, inspectora de alunas, lecionava Calistenia (ginástica de salão).
Depois ainda, foram também professores na mesma Escola: Elpídio Procopio Alves Pereira e Catão Gomes Jardim, de Aritmética e Geometria; José Teodoro de Sousa Lima (o Cavaquinho). de Aritmética; dr. Francisco Brant, de Geometria-, Juscelino da Fonseca Ribeiro, de Pedagogia, Artur Napoleão Alves Pereira, de Física e Química; Artur Queiroga, de Geografia e Historias do Brasil; Américo Diamantino Costa França, de Ginástica.
Professores substitutos: Sebastião Pereira Corrêa, Olímpio Julia de Oliveira Mourão, Sebastião Rolim e José Augusto Neves, este já nos últimos anos da Escola, que foi suprimida no governo Silviano Brandão.
Diamantina teve também um internato, que funcionava pela manhã, no pavimento térreo do prédio da Escola. Foram diretores dessa antiga Escola Normal de Diamantina :
Dr. Manoel Alves Prado, Cônego Manoel Alves Pereira, dr Teodomiro Alves Pereira, Mons. Augusto Julio de Almeida, dr. Francisco Brant e Joaquim José Pedro Lessa.
Foram porteiros, de que me lembro; José Teodoro Rodrigues Bago; José Eleuterio de Queiroz Amara!,. Francisco Regulo Perpetuo e Joaquim Aprigio dos Santos.
Figuras populares, que não mencionei na minha relação, na edição da "Voz de Diamantina", por ocasião do Centenário da cidade: Procopio Cotuvum, que viajava pelo sertão do Estado,
com um saco ás costas, mascateando mercadorias; Agostinho Bambães, cadáver terrível; Joaquim Cocô, sempre mancando; Juca Tundá, tocador de caixa, no Corão», musico e amador dramático; Ântero Soares, que imitava, perfeitamente, o papagaio; Cavalo de Berenguer e Maria Bate Pau, mulheres, aguaticas e populares; Frutuosa Pau de Sebo, original figura, que vendia os deliciosos caragés; João Pilatinho, mestre de dança de caboclinhos; o louco Chico Roque, que há mais de 80 anos, escondido na Sé, no sábado de Aleluia, atrás da cortina preta, cantou, muito entoado, o Glória, antes do celebrante, fazendo romper as Aleluias, antes da hora; Chico Muchiba, imberbe, que imitava o apito do trem de ferro e dava palpites para o jogo do bicho; Celestino Potassa, tipográfico filósofo, João Ligeiro, que andava de vagar;
Ernesto Manco, preto como azaviche, negociante, pedrista, no Beco Escuro, travessa da Rua da Quitanda, para o Beco do Motta, e que foi á França, onde foi dispor de partidas de diamantes, e de onde voltou, tendo estado em Paris, e admirado de ver as crianças ali, falando francês (admirável 1...); Relógio e Camuquenque, africanos feiticeiros; Pedro Bigorrinha, Curricho, o chamado cara de passara; Cassimiro do Cláudio, cantor sonoro; Juca da Toca, Belaguarda, Raimundo Gogo, Piolho, de cabelos compridos, Aninha Dunga e outros, certamente, ainda não lembrados

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