Passaram-se
os dias de Carnaval entre nós. Carnaval em Diamantina é cousa que já existiu.
Quando,
em tempos que se foram, aqui se festejavam, sem a maldade e corrupção dos
tempos modernos, os três dias de folguedos, a cousa era bastante diferente.
Ainda
me recordo os bailes no velho Teatro de S. Isabel, onde os modos de dançar, com
as damas vestidas rigorosamente decentes, atraíam até as famílias aos camarotes,
para se divertirem, assistindo ás danças, que não ofendiam ao pudor de ninguém.
Mas, que tempos ! Havia um reservado que, a
principio, se chamava salão do povo cachorro..., e, mais tarde, se denominava o
cinzeiro ...
Compreende-se,
pelos termos, qual a espécie de gente que nele se divertia.
O Carnaval em si, naqueles
tempos, nada oferecia de nocivo á moral e aos bons costumes, até mesmo porque
não se conhecia o indecoroso maxixe, dança cínica pelos trégeitos.
Com
toda razão, porém, o saudoso e inesquecível santo Bispo D.
João
dos Santos, detestava o Carnaval, mesmo naquele tempo, por causa do tal Cinzeiro...
Quanto
ás danças das famílias nada havia que se pudesse reprovar, porque, além da decência
das toilettes, da natureza das contra danças, músicas, e modo de dançar
afastado das damas, sob o olhar severo e carinhoso das mães, ' não havia, com
efeito, motivo para condenar a diversão.
Hoje,
tudo está mudado; hoje, a própria musica, pelo estilo, é imoral e imorais os
tregeitos e a lascivia das danças.
No
Teatro de S. Isabel, os bailes carnavalescos antes do Brasil República, no
terceiro dia do Carnaval, eram suspensos, á meia noite em ponto, pelo delegado
de policia, porque começava logo depois dessa hora, o santo tempo da Quaresma.
Lembro-me
de um fato acontecido dois anos depois da proclamação da República.o saudoso
Laport, aliás maçon, tendo observado que, no Carnaval, logo após a queda do
Império, o delegado não suspendia mais o baile, á meia noite, porque já a Igreja
estava separada do Estado, engendrou pregar uma peça aos foliões, no ano
seguinte
De,
facto, á primeira badalada das 12 horas da noite, feridas pelo relógio da
igreja do Carmo, que hoje não existe mais, penetrou nos palavras da realidade,
em caracteres maisculos: Mementos, homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris! Lembra-te, ó homem, que és pó e
que em pó te has de tornar!
Escusado
é dizer que o Laport impressionou o pessoal e o baile acabou, saindo muitos
dançarinos horrorizados com a brincadeira, aliás a proposito e que recordava
uma grande verdade!
Fonte
bibliográfica:
Minhas
Tiras, Xisto Reis, Voz de Diamantina, pág. 1, 29 de fevereiro de 1936, número
3.
Foto Internet
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