Ao ler a carta de Cosme de Almeida Ramos um português naturalizado brasileiro e de todas as garras um diamantinense autêntico, pronuncia na carta mensagem ao Brasil, defendendo o candidato Juscelino Kubitschek á presidente da República, pede cautela, paciência, anistia á todos. No decorrer da carta ele sugere no final que JK não era Deus para fazer milagre, mas que era preciso da união e da fé das pessoas para que o Brasil pudesse entrar no seu rumo. Eis o trecho da carta publicado no jornal Estrela Polar, no dia 4 de março de 1956, pág. 3.
Cosme de Almeida Ramos português de nascimento, brasileiro de coração
e diamantinense pela alma, residindo nesta abençoada cidade há quase 50
anos, tive portanto, a grande satisfação e felicidade de conehcer e
acompanhar de perto sua Excelência o doutor Juscelino Kubitschek de
Oliveira, hoje nosso benemérito Presidente da República.
Os percalços encontrados na sua árdua campanha eleitoral, as
dificuldades surgidas a cada passo e de todos os lados, as lutas e as
incompreensões dos eternos insastisfeitos, tudo isso o eleva a um plano
tão alto que podemos dizer que o Brasil é governado atualmente não por
um homem, mas por um superhomem.
Pelo rádio, tive oportunidade de acompanhar a sua exaustiva propaganda
e, nos momentos mais angustiosos, mandava sempre telegramas;
radiogramas ou cartas, bem assim ás suas dignas Mãe e esposa, como
lenitivo e estímulo, frizando sempre: - "Deus, que nunca dorme, será
sempre o protetor daquele que não teme arriscar a sua própria vida em
defesa do bem".
Sempre amigos e grande admirador do doutor Juscelino, compreendendo ,
sem favor, que só um temperamento privilegiado, no momento aflitivo pelo
qual a Pátria atravessa, só um homem da sua têmpera poderá salvar a
nossa angustiosa situação.
A minha grande confiança, tantas vezes manifestada antes, me impeliu a
sair fora da normalidade de minha vida e assim enfrentei a luta em
favor de sua Excelência o doutor Juscelino, transportando-me através da
imprensa, por boletins e mesmo pessoalmente, extendendo tal propaganda a
todos os Estados da Federação, por intermédio dos porteiros das
respectivas Câmaras, avançando sempre ao máximo, como verdadeiro e
contagiante entusiasmo, tendo firme convicção da vitória e do êxito que,
afinal, se verificaram a 3 de outubro de 1955.
O meu contentamento foi grande, infinito mesmo, e, num desabafo
consolador, repeti várias vezes: - "Louvado seja Deus, que ainda não
desamparou o Brasil!".
Tendo o Excelentissimo Senhor doutor Juscelino Kubitschek de Oliveira a
feliz lembrança de visitar os paises amigos, antes de ser proclamado,
foi assim mesmo recebido com as honras de Chefe de Estado, debaixo das
maiores demonstrações de amizade e confiança, abrindo as portas ao
franco progresso, firmando as melhores relações a este gesto, que nos
enche de natural prazer e orgulho, nos convida a cooperar com sua
Excelência o doutor Juscelino, pois é sabido seu patriotismo e o desejo
de elevar a nossa Pátria ao respeito e á consideração do mundo inteiro.
Cooperemos, meus amigos, sem medir sacríficios, com sua Excelência o
doutor Juscelino, pois além de ser merecedor e digno, vai nesta
cooperação a conquista de uma vida melhor, de paz, de sossego e absoluta
tranquilidade, - base essencial de todo o bem e riqueza. Deixemos de
parte ambições exageradas, acabemos com rancores e procuremos, como uma
só família, examinar com amor e todo o carinho o bem da nossa Pátria,
pois esse bem redundará no futuro de nossos filhos. O Excelentissimo
Senhor Doutor Juscelino Kubitschek de OIiveira, nosso Presidente da
República, deseja e proclama harmonia de seu povo, para que possa, com
absoluta calma, resolver a nossa situação, situação esta que, embora
reconheça espinhosa, espera em Deus, e em seus auxiliares, encontrar
solução satisfatória.
O Excelentissimo Senhor Doutor Juscelino, que tudo deseja fazer para
ver seu povo alegre e feliz, pouco dorme e está sempre vigilante, mas, a
nossa situação é muito grave, principalmente pelo lado financeiro.
Basta analizarmos: o aumento dos vencimentos dos funcionários, a
estipulação de novos níves de salários mínimos, elevarão,
automaticamente, ainda mais, o custo de vida, acarretando a entrada do
país num círculo vicioso. É grande, por certo, a classe tanto de uns
quanto de outros, mas, apenas eles beneficiados, pelos vencimentos
certos, advirá a brita dos que não podem estar na mesma situação. É eis
aí o grande problema. É pensamento do Doutor Juscelino optar pelo mais
viável,c erto que é, no caso, convencer o povo da triste realidade da
hora que, passa, isto é, que soluções simplistas não resolvem a crise
brasileira; não adianta sancionar o aumento dos funcionários civis nem
decretar novos níveis de salários, pois a inflação mais se agravará. O
que urge ser feito, e para tantos é preciso um pulso de ferro, é
congelar os preços de gêneros de primeira necessidade. Impedir , por
todos os meios e modos, novos aumentos de custos de vida,
intensificando, por outro lado, ao máximo, a lavoura, amparando o
pequeno e médio agricultores, - base essencial para conjurar a atual
conjuntura econômico-financeira. Essa melhora virá beneficiar a todos,
pois roupa se remenda, mas o estômago não se pode remendar.
Amparar a lavoura é incentivar o barateamento do custo de vida; é, numa palavra, - salvar a Pátria.
Diamantina, 14/2/1956
Cosme de Almeida Ramos
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