Diamantina, cognominada, com
justa razão, a “Atenas do Norte”, por ser a cidade mais civilizada do Norte de
Minas, em todos os setores da atividade humana, notadamente no ramo da
instrução, teve também, na sua parte teatral, um papel bastante saliente.
O velho Teatro “Santa Isabel”,
no Largo do Rosário, (onde, hoje, se ergue a cadeia pública), já havia se
tornado célebre, até mesmo famoso, nas cortes, no Rio!
A maravilhosa pintura do seu
pando de boca, que ainda hoje se conserva como relíquia histórica, feita em
1841, representa um pórtico de três degraus, tendo aos lados duas colunas
jônicas, e vendo-se no centro, ao alto, firmado por um pedestal, o escudo do
Brasil-Império, ladeado pelos ramos de fumo e café. Firmados nele, duas figuras
de moças majestosas, lindas, sendo uma delas mais nova, - estão: uma vestida de
soldado, também romano, trazendo consigo um capacete e aço, um elmo no braço
esquerdo e, a seus pés, uma lança de combate.
fonte internet - Diamantina-MG
Figuraram as duas Américas: a
do Norte e a do Sul. A mais velha, tendo perto de si alguns livros, aperta, com
firmeza, a mão de sua irmã do Sul, que, mais tímida, tem o braço um pouco
encolhido. Com a mão esquerda, firmada em um livro aberto, parece dizer-lhe o
que se lê escrito na página: “SE SEGUES MEUS DITAMES MAGESTOSOS, TEUS FEITOS SERÃO
JUSTOS E GLORIOSOS”.
Nos degraus abaixo das figuras,
vê-se um velho cacique, barbas brancas, corpo semi-nú, reclinado sobre um
tonel, que firma com a mão esquerda, estando a direita segura numa pá. Do
tonel, que firma com a mão esquerda, estando a direita segura numa pá. Do
tonel, jorra água em profusão, banhando o corpo do velho. Esta representa o
Jequitinhonha, com toda a sua riqueza aurífera, pois notam-se, na sua
cristalinidade, manchas douradas do ouro que crepita em seu leito e o brilho
ofuscante dos seus diamantes, pontos culminantes do esplendor e riquezas da
nossa terra.
Um anjo pequeno, com uma
guirlanda de rosas, coroa a cabeça do ancião, que parece adormecido,
demonstrando a calma que atravessa, após os cruéis sofrimentos por que passara
nos idos tempos do Tijuco, vendo sempre suas águas tintas de sangue, com a
morte dos inocentes garimpeiros, nos tempos dos Intendentes. Como que
secundando o seu irmãozinho, outro anjo, conduzindo consigo, no ombro direito
um almocrafe, tendo á mão esquerda uma bateia e a seus pés descansando, uma
enxada, instrumentos da mineiração, parece também se encaminhar para o velho
cacique, a fim de lhe entregara os instrumentos do seu labor.
Nos degraus do pórtico, vários
símbolos representam o que, naquela época, traduziam a glória do velho Tijuco e
da notável cidade de Diamantina: a pintura, a ciência, a literatura e uma
página aberta de um caderno de música, onde se lê os primeiros acordes do hino
da nossa independência. Além, num descanso, a ampulheta do tempo, um globo terrestre e um mocho
atento, parecendo ser uma sentinela do velho que descansa.
Na amplitude deixada, pelo vão
do pórtico, vê-se o azul puríssimo de um céu diamantinense, notando-se, de um
lado, uma palmeira e, do outro, um velho jequitiba, com algumas de suas galhas
já derrubadas.
Pequeno era, porém, o pano; e a
mão admirável do Laport, concluiu o restante, colocando, nos lados, dois
ferozes Aimorés que guardavam o velho Pagé, como uma preciosidade de chefe, e
davam caça a uma onça que parecia querer-se dirigir a ele para devorá-lo. Além
disso, vários outros símbolos nele se viam, mostrando diversos caracteres do
teatro, naquela época.
As peças levadas por amadores,
daquele tempo, nada tinham a se desejar de melhor, das que se levavam nos
teatros do Rio e São Paulo. O amor á arte fazia com que cada um deles
desempenhassem orgulhosamente bem o seu papel: Cosme Couto, Assis Moreira,
Laport, Vicente Torres, Joaquim Soares, Raimundo Nonato da Silva, Agapito
Moreira, José Cesário, João Aleixino e outros, era os ídolos; Mariquinha
Bolina, Idalina Barroso, Cotta Batista, Sinhá Agapito, Josefina de Melo, Maria
do Espírito Santo, Quina Amandia, Bibiana dos Santos e outras, que eram também
adoradas.
Lembro-me bem de ter Assis
Moreira escrito dois dramas, “O crime, a virtude e a calúnia, e o Operário e o
Fidalgo”, que ainda hoje existe. Ambos foram aqui representados, e um deles,
remetido ao Rio, chegou a ser ensaiado no Teatro São Pedro, pois merecera o
mais franco elogio e apoio do grande teatrista, João Caetano. Desse bom tempo,
poucos são os amadores sobreviventes.
Tempos depois, o mesmo ardor se
arrefeceu, e outros amantes da ribalta puseram de novo as cenas em movimento,
mas já não mais no velho Teatro “Santa Isabel” que, dolorosamentem cumpre-me
dizer, fora destruído, e sim, no “Cinema Teatro” da Empresa Ramos e Guerra, e,
mais tarde, Nemisio Leão. Novamente o passado fora evocado, e os amadores
lutaram ardorosamente para reerguê-lo: Onesimo Couto, Zeca Correia, Cosme
Ramos, Afonso Moreira, o nosso inesquecível Vicente Rosa e muitos outros foram
os heróis dessa segunda jornada. Tivemos um período de representações
magníficas, e as peças levadas por eles nos conduziam aos velhos e saudosos
tempos do Teatro do Largo do Rosário. Com o perpassar dos anos, tudo se acabou
e caímos novamente na evocação do passado. Anos depois, porém, novos amadores
empenharam-se na luta pelo seu reerguimento e tentaram dar á nossa terra o seu
cunho antigo. No “Cine-Teatro-Trianon”, da empresa Jair Moreira, novas
representações foram feitas. Os heróis dessa terceira etapa viram, no
princípio, um assomo de glória e de esperança, para depois cair e emudecer de
novo!
E agora tudo se acabou, até
mesmo o palco, pois, presentemente, não temos a não ser que seja novamente
adapatado o existente no atual “Cine-Trianon”, que, com a magnífica reforma por
que acabou de passar, o seu empresário parece ter se esquecido de também
reorganizar o que existia no antigo “Cine-Teatro-Trianon”.
Amadeu Barbosa de Melo, que a
morte nos tirou para sempre! Tinha ele muito gosto pela arte dramática,
agradava plena e satisfatoriamente o público, chegando mesmo, nos dias
gloriosos da “Escola Dramática Diamantinense”, a escrever uma magnífica coméida
“Danella”, que foi levada com gerais aplausos.
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